Quem acompanha o futsal certamente conhece um dos personagens mais vencedores da modalidade. Jari da Rocha, ou simplesmente Jarico. Aos 59 anos, o técnico multicampeão se destacou no comando da ACBF com a conquista de duas Ligas Nacionais (2001 e 2006), uma Taça Brasil (2001), uma Taça Intercontinental (2001), um Sul-Americano (2002), uma Copa América (2002) e dois Campeonatos Gaúchos (1996 e 2002).
Além do time de Carlos Barbosa, treinou várias equipes no Rio Grande do Sul, como Inter, Enxuta, UCS, Ulbra, Vasco da Gama, Unisul, Umuarama, Cortiana, Marfil Santa Coloma, Veranópolis e Sercesa de Carazinho. Também trabalhou na Espanha e Itália. Até o ano passado, esteve no futsal da China, onde ficou por cinco temporadas.
Ao retornar ao Brasil, em agosto de 2019, iniciou um projeto na Sercesa. No último final de semana, Jarico conquistou o título da Série Prata do Campeonato Gaúcho de Futsal com a equipe de Carazinho, ao vencer o Rio Grande por 3 a 0.
— Nós já estávamos projetando uma volta na equipe do Sercesa. No ano passado, tivemos a Copa RS e esse ano, no início da temporada, ventilamos voltar. Mas com a pandemia resolvemos dar uma segurada. Em setembro, chegou o convite para participarmos da Copa RS e da Série Prata. Pensamos bem, juntamente com a diretoria e conselheiros, e colocamos o projeto em pauta. O campeonato teve um modelo diferente e conseguimos colocar a estrutura para jogar — explicou Jarico, comemorando a retomada com triunfo:
— Depois de mais de 20 anos fora do cenário gaúcho, já conseguimos um título no nível estadual. Estamos muito felizes. Além do título, retornar a Série Ouro do futsal gaúcho. Para mim, sempre é um recomeço depois das cinco temporadas foram na China.
O título da Série Prata da Sercesa marcou um recomeço para o treinador no país e para o clube na sua história. O último título na categoria adulta da equipe foi em 1995, com Copa Verão. A competição, que ocorria em Capão da Canoa, reunia os melhores times do Estado na pré-temporada. Coincidentemente, Jarico era o treinador naquela oportunidade também.
— Muita felicidade, porque naquela época, em 1995, as quatro melhores equipes do ano anterior disputavam essa competição. Nós ganhamos, na final do quadrangular, da Enxuta. Nós conseguimos neste ano resgatar a história. Voltar depois de tanto tempo é uma felicidade — disse Jarico, que completou:
— Voltei ao Sercesa 20 anos depois, abri minha hamburgueria em Carazinho em 2014, fui muito bem recebido. Tive muita força de ex-atletas e dirigentes. Tenho um respeito muito grande pela cidade.
Após cinco temporadas no futsal chinês, Jarico resolveu retornar ao Brasil. Mesmo com propostas para continuar na Ásia, preferiu voltar ao país e começou a desenvolver o retorno da Sercesa à categoria adulta. Além de técnico, ele é gestor da equipe.
O projeto começou ainda em 2019 e contou com um grupo de 10 amigos. Além disso, o presidente Érico Martins e outros dirigentes ajudaram no trabalho. O clube usa o modelo com 50 conselheiros que auxiliam a equipe com 50 reais por mês. Além disso, há os patrocinadores e o Pró-Esporte, Programa de Incentivo ao Esporte do Estado do Rio Grande do Sul.
—Esse ano fizemos uma equipe praticamente amadora que treinava três vezes por semana. Ano que vem, a responsabilidade aumenta e teremos que melhores. Estamos buscando mais apoiadores, principalmente mais conselheiros para dar mais sustentabilidade ao projeto. Pensamos em fortificar o clube e não ter uma vida de dois ou três anos. Por isso, estamos buscando uma casa, um ginásio, onde a gente possa treinar todas nossas categorias. O projeto envolve mais 300 pessoas. Estamos muito motivados, porque a comunidade tem nos apoiado — comentou o treinador.
Jarico é um personagem ligado diretamente ao futsal de várias cidades. Ele é símbolo do esporte por tudo que conquistou e deixou de legado por onde passou. Atualmente, ele tem residência em Carazinho, mas filhos, netos e irmãos moram em Caxias do Sul.
— É muito importante o que vem acontecendo no Rio Grande do Sul e temos que destacar o projeto do governo do Estado que é o Pró-Esporte. Através do ICM consegue-se buscar, com apoio de empresas, um suporte financeiro as equipes. Se não tiver esse projeto, é muito difícil fazer futsal. Nós torcemos para que Caxias do Sul volte, porque é um celeiro do futsal de base e a gente não vê uma equipe adulta para esses jovens — declarou.
Futsal chinês e ACBF
Antes de retornar ao Brasil e conquistar a Série Prata em Carazinho, Jarico ficou cinco temporadas na China. Lá, desenvolveu um trabalho importante de formação de atletas que atualmente defendem a seleção do país.
— Fui muito feliz de receber essa oportunidade na China. Tive que recomeçar o trabalho e voltar a minha essência de trabalhar com jovens jogadores. Não consegui um título nacional, mas fui duas vezes terceiro lugar e conseguimos alguns torneios importantes. O fundamental foi legado deixado com alguns jogadores da primeira e segunda temporadas, em 2012 e 2013, no sentido de evoluírem tecnicamente. Eu sou respeitado na China, porque ajudei a formar vários jogadores que estão na seleção da China — comentou.
Com tantas experiências e inúmeras conquistas, mesmo com o novo projeto em Carazinho, Jarico não descarta um retorno ao clube que foi multicampeão. Um convite da ACBF seria muito bem aceito pelo comandante.
— Com certeza, eu falo isso abertamente porque eu gostaria de poder um dia jogar uma Liga Nacional novamente. Quero ver como estou e sentir aquele momento de novo, mas hoje realmente, em qualquer equipe de Liga Nacional, eu poderia pensar. Tenho uma responsabilidade com a Sercesa, mas vindo um convite de um Carlos Barbosa, que hoje está muito bem servido de treinador, eu sou um torcedor do Carlos Barbosa. Hoje meu foco é no Sercesa e montar essa equipe e firmar. Estou com 59 anos e estou preparando para num futuro preparar outros treinadores. Quero um caminho na gestão e na supervisão do esporte para ajudar fora da quadra — finalizou.