O mercado de trabalho da Serra demanda constantemente por profissionais qualificados para atuar em diferentes áreas, que contribuem com a economia. Entretanto, apesar de ser alto o número de vagas disponíveis para contratação, as instituições de cursos técnicos profissionalizantes enfrentam diferentes cenários de desafios, como poucas vagas para cursos com grande procura e até o contrário, com baixo número de estudantes dispostos a começar e concluir o ensino.
Em relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil aparece com 11% da população entre 15 e 24 anos matriculada em cursos profissionalizantes. Já entre países membros da OCDE, o percentual é de 37% – mais do que o triplo.
Aposta em países ricos, a oferta de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) ainda está longe de ser significativa no Brasil. As vagas em cursos técnicos, que podem facilitar o acesso a melhores postos no mercado de trabalho, têm crescido nos últimos anos no país, mas a modalidade enfrenta desafios como a necessidade de investimentos, a modernização dos currículos e a ampliação do território abrangido, por parte do poder público, além do estigma de quem ainda pensa que o modelo só serve para pessoas de baixa renda.
Diversa em modalidades e perfis de estudantes, a EPT promete uma empregabilidade alta, bem como um acréscimo salarial considerável. Na pesquisa "Potenciais efeitos macroeconômicos com expansão da oferta pública de Ensino Médio Técnico no Brasil", divulgada em julho pelo Itaú Educação e Trabalho, a taxa de desemprego de pessoas formadas em um curso técnico integrado ao Ensino Médio é de 7,2%, contra 10,2% da parcela com o Ensino Médio tradicional. O salário dos trabalhadores, por sua vez, é 32% maior.
Não há, porém, vagas apenas para quem ainda está na Educação Básica. A EPT pode ser oferecida de três formas: integrada ao Ensino Médio (quando uma mesma escola tem o currículo regular somado às aulas técnicas), concomitante (quando o curso técnico é ministrado em uma instituição diferente, mas pode ser frequentado por alunos que ainda não se formaram) ou subsequente (quando o estudante já tem nível médio e deseja se capacitar em alguma área).
Alta demanda e baixa oferta de vagas
Entre as instituições que enfrentam a alta demanda de estudantes dispostos a ingressar, mas baixa no número de vagas para receber todos os candidatos está o polo de Bento Gonçalves do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). O local é referência na formação de profissionais que atuam com viticultura e enologia, um dos principais impulsionadores da economia serrana.
A instituição, que é a primeira escola de enologia do país, tem crescido em conteúdos imersivos para acompanhar a evolução do mercado e também as novas tecnologias. Atualmente o instituto oferece o curso técnico integrado ao Ensino Médio, além de pós-graduação e mestrado com foco na viticultura e enologia. O polo de Bento Gonçalves já trabalha para ministrar também doutorado na área.
Por ser referência e estar no município que é considerado a Capital Nacional do Vinho, o local recebe anualmente números expressivos de candidatos que disputam uma das 30 vagas disponíveis por semestre. Com turmas formadas por pessoas de famílias envolvidas com a produção de vinhos na região da Serra, a imersão do curso técnico é tanta que conquista os estudantes que chegaram no IFRS apenas pela qualidade do ensino.
— Quando entrei eu não gostava nem de vinho, não tinha nenhuma ligação com a área. Minha família até tinha cana de açúcar e fazia cachaça, mas eu quis entrar aqui porque meu pai foi aluno e ele queria que um dos filhos tivesse a oportunidade de estudar aqui também. Fiz o técnico e já estou no segundo semestre do superior de Viticultura e Enologia. Eu cheguei a passar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul para Enfermagem, mas quis continuar na área da viticultura e enologia. Meu objetivo agora é abrir minha própria vinícola e já estou pensando em ir para o mestrado daqui também — conta a aluna Júlia Salvadori, 20 anos.
Ao contrário dela, o encontro com o ensino do instituto sobre a área de vinhos foi proposital para a estudante Paloma Buffon, 21. Com vivência na agroindústria familiar, a jovem atualmente trabalha na vinícola que abriu com o irmão, enquanto ainda estava no Ensino Médio técnico. De acordo com ela, mesmo crescendo atuando na área de perto, a partir do ensino do instituto ela encontrou o propósito para se desenvolver.
— Nossa visão muda quando a gente entra aqui porque aprendemos o motivo de estarmos fazendo aquilo. Quando a gente entra aqui, a gente pensa que fazer vinho é uma receita já pronta, mas é muito mais. São cortes, cultivos, variedades, aromas, são muitas possibilidades para desenvolver o próprio vinho. Quero me aperfeiçoar para ir melhorando e ganhar espaço no universo dos vinhos. Aqui eu aprendi o motivo de fazer vinho e entendi por que precisa de tal coisa. Tudo mudou para mim depois de aprender a teoria e a prática — conta Paloma.
De acordo com o professor do IFRS de Bento Gonçalves Onorato Jonas Fagherazzi, o local forma diversos profissionais que atuam nas mais variadas vinícolas da Serra. Segundo ele, a vivência no instituto contribui ainda com a formação de uma rede de contatos, o networking, onde os profissionais permanecem em contato uns com os outros trocando informações e se desenvolvendo em cooperação.
Ainda conforme Fagherazzi, a qualidade do ensino contribui com a qualidade e excelência dos produtos desenvolvidos na Serra. Isso é diferencial causado pelos conteúdos ministrados aos alunos, com professores que se atualizam anualmente sobre o setor e ensinam aos alunos as novidades da área que estão ocorrendo tanto no Brasil quanto em outros países ao redor do mundo.
Cenário se repete em escola agrícola
A mesma qualidade do ensino técnico que enfrenta a alta demanda de estudantes para o número limitado de vagas ocorre na Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (Efaserra), de Caxias do Sul. Sem vínculo com a rede estadual ou municipal, a instituição criada há 10 anos se mantém a partir de uma associação entre famílias da região da 3ª Légua, interior do município.
Neste ano, pela primeira vez desde a fundação, a escola recebeu 150 inscrições e precisou fazer uma seleção de 80 estudantes que poderão começar o Ensino Médio Técnico no local em 2024. De acordo com a coordenadora pedagógica Letícia Trentin, a instituição recebe estudantes de diferentes municípios da Serra, que durante o ano letivo dormem no local de segunda a sexta, e atua com capacidade de 150 alunos.
— Sempre tivemos vagas suficientes para toda a procura que tínhamos, então, as pessoas procuravam a escola e conseguíamos matricular todos que procuravam. Neste ano a gente precisou fazer essa seleção, porque temos o número limitado de vagas. Nossa escola oferece um ensino com foco na agricultura. Nossos alunos fazem o ensino técnico para aprender sobre agricultura familiar, normalmente são estudantes de famílias de agricultores e aqui eles aprendem tudo para atuar nas propriedades de onde vêm. A alta demanda deste ano foi inesperada e, infelizmente, não conseguimos vagas para todos eles — afirma a coordenadora.
Durante as aulas do técnico na instituição, que aborda todas as frentes da agricultura, como pesquisas, estudo do campo, cultivo, manejo, plantio, colheita, compostagem, entre outros, os estudantes, assim como no IFRS de Bento Gonçalves, são ensinados sobre a importância do trabalho agrícola e o motivo do setor ser um dos impulsionadores da economia serrana. Conforme Letícia, a abordagem do ensino ocorre para que os alunos sejam preparados para assumir a responsabilidade de atuar com capacitação profissional dentro das propriedades locais ou assumir a administração das propriedades das próprias famílias.
Não são só as responsabilidades dentro do campo que surgem para os estudantes formados na Efaserra. O jovem Victor Davi Motter Uez, que antes de ingressar na escola não tinha interesse em atuar na área, acabou se reaproximando da agricultura e buscando se desenvolver na profissão. Depois de formado na escola, ingressou na faculdade no curso de Agronomia. Atualmente, em etapa de conclusão do Ensino Superior, Uez retornou para a escola como monitor e deve assumir responsabilidades maiores em salas de aulas quando estiver com o diploma em mãos.
— A escola transformou em mim a aproximação com a agricultura. Meu sonho não era seguir nesta área, e estudar aqui me reaproximou da minha propriedade, me reaproximou da história da minha família e agora estou terminando o curso de Agronomia. A escola é peça chave para todo mundo que está aqui, porque mostra a realidade que acontece dentro das propriedades, do meio rural. Aqui aprendemos a valorizar esta área e entendemos como é importante para as famílias, como a agricultura contribui com a renda destas famílias, da economia e da importância do nosso jovem no campo — pontua o monitor.
Ainda segundo o jovem, a formação dentro da escola com foco na agricultura dificilmente é abordada em escolas tradicionais e, a partir da experiência do Ensino Médio na Efaserra e da aproximação dos estudantes com a realidade dentro do campo, os estudantes compreendem como a economia gira com o trabalho que ocorre em cada uma das propriedades. E como cada produto plantado e colhido pelos produtores é importante para todo um ecossistema.
A partir de formados no Ensino Médio Técnico, os estudantes precisam fazer um estágio obrigatório de 400 horas dentro de alguma propriedade. Segundo a coordenadora pedagógica, a escola indica locais para que o estágio seja feito e em diversos casos os alunos iniciam o estágio e acabam sendo contratados para trabalhar de maneira efetiva dentro das propriedades.
Ainda não é possível afirmar que há um aumento expressivo nas buscas por vagas na escola para ingresso no ano que vem, mas possivelmente a qualidade do ensino tem sido espalhada por estudantes como Victor e, desta forma, vem cativando de maneira gradativa famílias de cerca de 30 cidades da Serra.
Alta demanda da indústria e baixa no número de alunos
Ao contrário da falta de vagas para a alta demanda de alunos que ocorre no IFRS de Bento e na Efaserra, outro cenário é visto no polo de mecatrônica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Caxias do Sul. Com cursos técnicos focados na área industrial, principal impulsionador da economia da cidade, a instituição criada nos anos 1990 tem número positivo de vagas para receber alunos, mas baixa procura dos estudantes ou, em alguns casos, até evasão escolar.
Segundo Antonio Lopes, coordenador técnico da instituição, a baixa procura para a profissionalização no local passou a ser percebida pouco depois da pandemia de covid-19. Segundo reforça o coordenador, a informação sobre os cursos oferecidos no local pode não estar chegando nos estudantes e profissionais da indústria para que possam tirar proveito da formação e aplicá-la no mercado de trabalho.
— A procura pelos cursos baixou bastante e percebemos isso depois da pandemia. Todo ano formamos entre 20 e 40 alunos em cada um dos nossos cursos, mas temos mais vagas sobrando do que estudantes esperando para ocupar uma das vagas disponíveis. Não temos um volume tão grande de alunos para egresso e percebemos que as vagas têm demorado para serem fechadas. Normalmente iniciamos o período letivo com as turmas completas, mas a procura baixou bastante — afirma Lopes.
Ainda conforme o coordenador, empresas de diferentes segmentos do município buscam o Senai atrás de profissionais qualificados. Ou seja, está havendo a demanda do mercado de trabalho, mas o número de técnicos aptos para atuar está em baixa.
— A gente percebe uma carência grande de mão de obra especializada, principalmente porque a área de mecatrônica é uma área que está em constante evolução por causa das novas tecnologias, então as pessoas precisam estar atualizadas. O curso técnico, que dura em média dois anos, dá a resposta rápida para o mercado e entrega esses profissionais capacitados — conta Lopes.
O Senai oferece cursos técnicos no mesmo sistema dos institutos federais, com aulas ministradas com o Ensino Médio e, também, para estudantes que já estão formados no Ensino Médio em outras instituições e estão buscando a profissionalização técnica. Todos os cursos oferecidos pelos polos do Senai preparam estudantes para ingressarem no mercado de trabalho com qualificação completa, ou seja, as aulas ensinam o processo de atuação das funções desde o início.
— No caso da mecatrônica, por exemplo, os alunos aprendem sobre os fundamentos de eletricidade, conceitos físicos, programação, sistemas pneumáticos ou hidráulicos. Então, nossos alunos entram aqui, muitas vezes já tendo contato com a indústria e também sem ter contato nenhum, mas querendo ingressar em alguma faculdade de engenharia, e encontram no técnico essa qualificação que contribui para o desenvolvimento e o conhecimento dele na área profissional — pontua o coordenador.
Além de estudantes do Ensino Médio, muitos profissionais formados, que já atuam em empresas, buscam pela profissionalização extra para conseguir postos de trabalho mais altos e, por consequência, aumento de salário. As instituições do Senai abrem turmas para todos os cursos duas vezes por ano, uma no primeiro e outra no segundo semestre.
Não é só o ingresso ao mercado de trabalho que os cursos técnicos do Senai promovem aos estudantes. Como contam os alunos Eduarda Gabriela Menegotto, 19 anos, e Mateus Gabriel Hillebrand, 21, que venceram a etapa nacional da Olimpíada do Conhecimento, promovida pelo Senai e estão em preparação para o internacional, que ocorre em 2024.
— Nós começamos o curso técnico em 2020 e nos formamos ano passado. Depois da formatura tivemos a oportunidade de participar da olimpíada, e os professores nos incentivaram bastante, explicaram como a olimpíada funcionava. Passamos por um processo seletivo e fomos chamados para a Olimpíada do Conhecimento e ganhamos o nacional. É gratificante e uma oportunidade muito grande para o nosso currículo ter essa experiência em um projeto dessa dimensão — conta Eduarda.
A Olimpíada do Conhecimento é uma competição de educação profissional, que ocorre no Brasil há cerca de 20 anos. Na etapa nacional os estudantes recebem o desafio de executar tarefas do dia a dia das empresas, respeitando o prazo e os padrões internacionais de qualidade. Para a etapa internacional, os estudantes ficam sabendo na hora da competição qual será o desafio que deverão realizar.
— Nós nos especializamos ao longo do curso para sabermos todo o processo, com a olimpíada nos aprofundamos bastante e continuamos nos aprofundando e aprendendo mais sobre a nossa área. O curso foi a base para estarmos aqui, para sabermos sobre as tecnologias, os processos da mecatrônica, então, acredito que tudo isso vai nos preparar muito bem para o mercado de trabalho e para termos esse diferencial no meio — pontua Mateus.
Setor de plástico também sofre com alta demanda por mão de obra e falta de profissionais capacitados
O curso de plástico oferecido pelo polo de Caxias do Sul do IFRS também enfrenta a dificuldade com alta demanda da indústria e poucos profissionais matriculados. Com aproximadamente 1,6 mil alunos, metade no Ensino Médio e metade no Superior, o local oferece cursos técnicos integrados, incluindo o de técnico em plástico, com duração de quatro anos.
De acordo com a professora e coordenadora do curso técnico em plástico, Rachel Nasser, a área tem alta demanda vinda de empresas que atuam com profissionais qualificados e precisam de mão de obra.
— O curso tem uma abrangência muito alta e os profissionais dessa área precisam, obrigatoriamente saber como funciona a operação das máquinas, o processo de transformação de plástico. Nas aulas, além desse conhecimento, eles também aprendem uma sólida base teórica em química, a ciência de materiais e síntese de polímeros. Então, entram no curso e saem prontos para atuar nas empresas — conta Rachel.
Em uma região com forte demanda do setor, profissionais que buscam a qualificação no curso de plásticos encontram facilmente vagas dentro das indústrias tanto de Caxias, quanto de toda a Serra. Segundo Rachel, cerca de 20% dos graduados no curso de plástico começam a estagiar e são efetivados dentro das empresas.
Entretanto, apesar do vasto número de vagas disponíveis, muitos estudantes acabam não concluindo o curso ou deixando a área para seguir caminhos profissionais diferentes. Segundo ela, uma forma de impulsionar a presença de estudantes em cursos técnicos de maneira geral e, também, contribuir com a alta demanda da indústria por mão de obra qualificada, seria a cidade ter uma universidade pública.
— Muitos alunos se mudam para outras cidades para estudar, e isso, de certa forma, contribui com casos de evasão, desistência e também com a alta demanda de profissionais, não só dentro das indústrias, mas em todas as áreas em geral. Acredito que uma universidade pública seria um diferencial para integrar o conhecimento técnico ao profissional e, além de manter os estudantes e jovens daqui, atrair mais estudantes e jovens de toda a região e também do Estado — pontua a coordenadora.
Segundo ela, não só o curso em plástico, mas todos os cursos oferecidos pelos polos do Instituto Federal do Rio Grande do Sul contribuem com a formação técnica oferecida para o desenvolvimento regional e o avanço da indústria de plásticos.
Desafios para o crescimento no número de vagas ofertadas
Somadas as redes federal, estadual, municipais e privadas, o Estado registrou, em 2023, exatos 133.850 estudantes em cursos técnicos. O objetivo no Plano Nacional de Educação era de que se chegasse a 315.891 matriculados até 2024, o que demandaria a criação de mais do que o dobro de vagas em um ano, o que não ocorrerá.
A rede estadual de escolas técnicas conta hoje com 157 instituições de ensino, que oferecem 63 cursos para 28.635 alunos. Até 2027, a expectativa é dobrar o número de vagas, chegando a 57.593, e ampliar o território coberto, que é de 22%, para 50% das regiões do RS até 2026. No Plano Decenal da Educação Profissional e Tecnológica do Rio Grande do Sul, consta que a quantidade de matrículas em escolas estaduais alcance 115.917 até 2032.
A diversificação regional ocorrerá, por exemplo, em regiões de fronteira com Argentina e Uruguai, em municípios como Itaqui, Uruguaiana e Alegrete, onde hoje não há oferta de EPT, segundo a superintendente da Educação Profissional do RS, Tamires Fakih.
— A ideia é chegar a esses municípios e ir aumentando a oferta, porque os dados revelam que a EPT faz a diferença: aumenta as chances de empregabilidade e oferece melhores salários e maior aprendizagem — descreve Tamires, acrescentando que, para o ano que vem, o Estado pretende criar cursos técnicos articulados com a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A superintendente afirma que é preciso romper paradigmas, pois ainda é forte a visão de que os cursos técnicos seriam voltados para pessoas economicamente vulneráveis e que estariam aquém da qualidade do Ensino Superior:
— Quando você vai às nossas escolas técnicas, não é isso o que você vê. No Ensino Técnico Agrícola, por exemplo, os estudantes vivenciam a prática em meio a aulas teóricas, com o apoio de universidades do entorno e de órgãos como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Além disso, ele não compete com o curso superior: é uma continuidade dos estudos.
Nesse contexto, outro desafio é convencer as instituições de Ensino Superior a aceitar créditos cursados na EPT depois, quando o aluno decide fazer uma graduação, o que facilitaria o desenvolvimento contínuo.
— Ainda há resistência das universidades e da sociedade em ver que a EPT é um espaço de desenvolvimento, inovação e tecnologia — lamenta a gestora.
Outra demanda é criar cursos técnicos aderentes às novas economias, como a indústria criativa e a digital, que demandam estruturas robustas de laboratórios e contratações de profissionais especializados. Em parte, o problema tem sido enfrentado com parcerias com o Sistema S, que também possui cursos técnicos, e universidades comunitárias, além das Secretarias Estaduais do Trabalho e da Cultura, que promovem cursos de livre duração para a comunidade. Para o futuro, um curso técnico em Energias Renováveis terá o apoio do Sindienergia-RS, sindicato patronal do setor.
Tamires percebe que o interesse do jovem por ingressar em um curso técnico é maior quando familiares seus já frequentaram aulas nessa modalidade. Em camadas mais baixas, há menos estímulo, e, por isso, a Superintendência da Educação Profissional do Estado (Suepro) tem investido em divulgar a oferta em espaços públicos onde os estudantes circulam.
O órgão da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) também lançou, neste ano, o programa Partiu Futuro, que procura aproximar os alunos do mundo do trabalho. Em 2024, cerca de 2 mil matriculados em sete escolas participarão de um piloto, no qual, a partir do segundo ano do Ensino Médio, poderão ser contratados por empresas através de sua instituição de ensino.
A contratação de professores capacitados também é um entrave que o Ministério da Educação (MEC) tem procurado resolver. Com o aumento de vagas para alunos, será preciso contratar mais docentes para atender a demanda.
— No fim das contas, um engenheiro bem formado, que poderia dar aula em uma escola técnica, é disputado pelo mesmo mercado das empresas. Como atrair esse profissional para a educação? Primeiro, as carreiras em educação têm que melhorar, o que se encaminha por meio de políticas estruturantes e a aproximação com o empresariado, que o ministro está buscando — afirmou Getulio Marques Ferreira, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, durante evento realizado em setembro pelo Itaú Educação e Trabalho em São Paulo.
Até 2026, o plano da pasta é ampliar dos 680 campi de institutos federais para um mil.
Com isso, o objetivo é que cada unidade atenda cerca de cinco ou seis dos 5.568 municípios brasileiros. A princípio, a ampliação se daria por meio do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), mas, até o momento, o valor era considerado por Ferreira insuficiente para completar o número desejado.