Homens e mulheres estão cada vez mais dispostos a investir na aparência e há um mercado atento a essa demanda. Seja para o rosto, para o corpo ou para os cabelos, a promessa dos tratamentos é de que os pacientes façam as pazes com a imagem refletida no espelho. Em Caxias do Sul, o aquecimento do setor se manifesta em números: nos últimos cinco anos, os estabelecimentos de estética e outros serviços de cuidados com a beleza aumentaram 65,9%, passando de 865, em 2019, para 1.435, em 2023. Os dados são da Receita Federal.
Tratamentos pouco invasivos, com resultado rápido e condições facilitadas de pagamento têm encorajado pacientes a entrar em clínicas e consultórios da Serra. Graças à evolução tecnológica e à capacitação de profissionais de diferentes áreas da saúde, não é mais preciso recorrer apenas aos blocos cirúrgicos para ter resultados satisfatórios e que impactam na autoestima e no bem-estar.
Anos atrás, o mercado era mais engessado. Hoje, temos, a cada ano, novos produtos e novas tecnologias sendo lançados
MAITÊ PANIZZON
Médica
— Anos atrás, na época das nossas mães, mulheres hoje com 60, 70 anos, (o mercado da estética) era mais engessado. Não existiam os injetáveis ou existia muito pouco. As opções eram mais limitadas à cirurgia plástica. Hoje em dia, temos, a cada ano, novos produtos e novas tecnologias sendo lançados no mercado — opina a médica Maitê Panizzon.
Para a biomédica esteta e coordenadora do curso de pós-graduação de Saúde Estética do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Franciele Zanol, Caxias do Sul acompanha o cenário nacional na demanda e na oferta estética — o país já esteve na liderança mundial quando o assunto é cirurgia plástica.
— As pessoas têm a necessidade de se sentirem melhores consigo mesmas e buscam por procedimentos que vão fazer com que elas estejam mais satisfeitas com a própria imagem. Por conta disso, os tratamentos estéticos cresceram. O mercado percebeu esse movimento e respondeu crescendo também — diz Franciele.
Coordenadora do curso de Estética e Cosmética da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a farmacêutica Francie Bueno acrescenta que a evolução do segmento impacta também no meio acadêmico, com profissionais de outras áreas da saúde buscando habilitação para trabalhar no ramo. São, por exemplo, biomédicos, enfermeiros e fisioterapeutas ampliando o conhecimento e a possibilidade de atuação.
— Isso ocorre justamente porque temos visto o setor aumentar. A área de produção e consumo de cosméticos cresceu tremendamente. As pessoas começaram a se cuidar mais e a fazer mais procedimentos — avalia Francie.
"O glúteo é o novo rosto", avalia médica sobre demanda para harmonização corporal
Reconhecida por mudar o aspecto facial, a harmonização também pode beneficiar outras partes do corpo, como o bumbum. A harmonização glútea se popularizou entre famosos no último ano e tem atraído cada vez mais adeptos por todo o país. É o que aponta a médica Maitê Panizzon, que atende em Caxias do Sul e em Flores da Cunha e acompanha de perto esta demanda.
— Disparadamente, quando falamos em corpo, o que está mais em alta é a harmonização do glúteo. O glúteo é o novo rosto. (essa tendência) Começou com as grandes marcas de injetáveis investindo fortemente em campanhas de Carnaval com famosas como a Sabrina Sato e Deborah Secco — opina a médica.
Para além do forte apelo publicitário, a propagação da técnica também está relacionada com o olhar atento do mercado estético. Anteriormente, segundo a médica, as substâncias eram comercializadas em pequenas quantidades, voltadas ao tratamento do rosto, o que tornava a aplicação no corpo um investimento pouco atrativo para os pacientes.
— As marcas, então, lançaram frascos maiores, destinados ao corpo, e conseguimos fazer o procedimento com um resultado melhor — complementa Maitê.
A técnica envolve a aplicação de biostimuladores de colágeno, ácido hialurônico, esvaziadores de gordura e a tonificação muscular (com exercícios físicos ou por meio de aparelhos). O tratamento promete firmeza, volume e melhora do aspecto da celulite e da chamada depressão trocantérica — afundamento na lateral do glúteo. O investimento varia entre R$ 10 mil a R$ 15 mil, em média. O produto é naturalmente absorvido pelo corpo, sendo necessário fazer manutenções a cada um ou dois anos, a depender do paciente.
Além do glúteo, os bioestimuladores de colágeno se tornaram os atuais "queridinhos" para a face, segundo a médica. Injetável, a substância melhora a firmeza e a elasticidade da pele.
As pacientes estão procurando resultados naturais, que não mudem tanto as feições delas
MAITÊ PANIZZON
Médica
— As pacientes estão procurando resultados naturais, que não mudem tanto as feições delas, mas que deixam a pele com um aspecto mais jovem e hidratado. Vejo também que com esse "boom" da harmonização facial as mulheres acabaram ficando com um pouco de medo da parte dos preenchedores — finaliza Maitê.
Clínica projeta fazer cinco transplantes por dia nos próximos meses
Usar boné, variar o penteado ou ainda raspar totalmente a cabeça. São estratégias utilizadas para esconder os efeitos da alopecia androgenética, a calvície. Para além de questões de saúde, a perda dos fios está relacionada à estética, impactando no bem-estar e na autoestima não só de homens, como também de mulheres. A boa notícia é que graças à Medicina, à tecnologia e a profissionais dispostos a se atualizar, os tratamentos se popularizaram e é possível recuperar o cabelo sem ir muito longe.
Uma técnica, em especial, tem literalmente ganhado a cabeça daqueles que sofrem com este problema e estão dispostos a abrir a carteira. Trata-se do transplante capilar FUE (follicular unit extraction, na tradução, extração de unidade folicular). O método, considerado minimamente invasivo, consiste na extração das unidades capilares de uma determinada parte do couro cabelo e implantação na área calva.
Em Caxias, a Clínica Stërah comprova que o transplante FUE está em expansão. O empreendimento ampliou recentemente de dois para cinco o número de salas de cirurgia e prevê, nos próximos meses, realizar até cinco procedimentos por dia. A equipe de 44 pessoas também deve ganhar 10 novos profissionais em breve.
O público, predominantemente masculino, é diverso, abrangendo diferentes faixas etárias e classes sociais. Também há quem se desloque para a Serra somente para fazer a técnica: há atendimentos de moradores de Passo Fundo, Lajeado, Porto Alegre e até outras partes do país. São mais de 1,4 mil transplantes feitos em quatro anos.
Os homens estão mais preocupados com a aparência. O transplante é para eles o que a prótese é para as mulheres
LISIANE FENNER BECKER ROMBALDI
Sócia da Clínica Stërah
— Temos pacientes que por muitos anos fizeram uma reserva financeira para se preparar para o procedimento. Então, o pai é calvo e o filho vê indícios de calvície e já começa a se preparar. Porque, de fato, os homens estão mais preocupados com a aparência. Costumamos dizer que, hoje, o transplante é para os homens o que a prótese é para as mulheres — comenta a sócia da clínica Lisiane Fenner Becker Rombaldi.
A médica Marina Rombaldi ressalta que a técnica se popularizou, principalmente, por não deixar cicatriz, ter uma recuperação tranquila e oferecer um resultado natural ao paciente:
— Exige todo um estudo, uma pesquisa da angulação do fio, do tipo de cabelo do paciente, que dão, ao final, um aspecto muito natural. Fazemos também um tratamento, um acompanhamento, anterior e posterior ao transplante. Não é apenas tirar e colocar cabelo — defende.
O transplante demora em torno de oito a 12 horas para ser realizado e o resultado final é visto em até 18 meses. O custo, em média, é de R$ 25 mil a R$ 30 mil.
"Me sinto mais jovem", diz advogado que fez o transplante capilar FUE
É consenso entre profissionais da área e quem busca pelo transplante capilar: a mudança no visual não impacta apenas na imagem vista no espelho. Os relatos dos pacientes que tratam a calvície falam sobre aumento da confiança, melhora no rendimento profissional e estímulo para investir em outros cuidados de saúde e estéticos.
— O que percebemos é que acontece uma grande transformação na vida deles. Muitos homens usavam qualquer roupa, se olhavam pouco no espelho, mal penteavam o cabelo. Quando eles realizam o procedimento, começam a se enxergar de outra forma, performam melhor no trabalho, nas relações familiares e com os amigos, começam a fazer exercícios, a se alimentarem melhor. É uma mudança completa — relata a sócia-proprietária da Clínica Stërah, Lisiane Fenner Becker Rombaldi.
Recomendo a quem puder fazer que faça. Eu me sinto mais jovem
REGIS MORANDI
Advogado
Quem vive os impactos dessa transformação é o advogado Regis Morandi, 35 anos. Incomodado com os sinais da calvície, ele decidiu investir em um tratamento capilar no ano passado. O protocolo para o método FUE começou em novembro e a transferência dos fios foi realizada em março deste ano. O resultado, mesmo não sendo o final, é perceptível e comemorado por ele.
— O cabelo é muito importante para a autoestima masculina e foi por este motivo que eu optei por fazer o transplante capilar. Não me arrependo. Recomendo a quem puder fazer que faça. Eu me sinto mais jovem — avalia.
Aplicações de toxina botulínica aumentaram 30% em clínica de Caxias
O mercado odontológico é um dos que está atento ao crescimento da demanda estética. Se até há alguns anos a imagem do dentista estava relacionada a tratamento de cáries e limpezas dentárias, por exemplo, atualmente, há profissionais se reinventando e expandindo a atuação para áreas como harmonização facial. Desde 2016, o Conselho Federal de Odontologia reconhece a utilização de toxina botulínica (botox) e preenchedores faciais por estes profissionais para fins terapêuticos ou estéticos.
Formada há 13 anos, a cirurgiã-dentista Giovana Crosa iniciou a carreira voltada à colocação de aparelhos ortodônticos, entretanto, há cerca de três anos decidiu se especializar em harmonização facial. Ela vê a migração da carreira e a diversificação do próprio negócio, que mantém junto com a irmã, como uma saída da zona de conforto e uma "cereja do bolo" para os pacientes. A profissional, inclusive, observa um incremento de 30% nas aplicações de botox neste semestre em comparação com o anterior. Essa sazonalidade na demanda tem uma explicação:
— As pessoas querem chegar ao final do ano com os procedimentos em dia. Então, eu tenho pacientes que desde o início do ano já vão se programando para fazer. Também tem muitos que esperam receber o 13º (salário) para se organizar e fazer antes do Natal. Mas é incrível: tanto a parte estética dentária quanto a (estética) facial vemos um "boom" no final de ano. Os meses de janeiro, fevereiro e março costumam ser períodos mais baixos na economia — explica Giovana.
Outra característica importante para o faturamento da clínica é a fidelização do cliente. A cirurgiã-dentista comenta que, além de retornar, os pacientes acabam ampliando o leque de procedimentos: há quem busque melhorar o aspecto da pele e se sinta incentivado a transformar o sorriso, por exemplo. Para isso também há tecnologia em alta, como as facetas de resina, espécie de capa que recobre o dente e é capaz de alterar a cor e imperfeições, como desalinhamentos e espaçamentos indesejados. O procedimento tem custo menor que as chamadas lentes de contato dentárias, entretanto, exige manutenção a longo prazo.
— É um mercado que cresce a cada dia e a procura parte de pessoas de todas as idades, desde pessoas mais velhas a mais jovens. É um trabalho bem forte aqui da clínica — complementa a dentista.
Com fila de espera, Clínica da FSG faz 45 atendimentos por semana
Uma opção mais em conta para quem busca por tratamentos estéticos é oferecida na Clínica de Biomedicina Estética do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG). Criada em 2019, a clínica-escola trabalha com alunos do fim do curso de Biomedicina e oferta tratamentos com valores abaixo do mercado. Estão disponíveis tratamentos capilares, para gordura localizada, harmonização facial, entre outros, para moradores de Caxias e da região.
É necessário realizar um agendamento e passar por uma avaliação para verificar se o desejo é condizente com as técnicas disponíveis e com a indicação clínica. O espaço soma, em média, 45 atendimentos por semana:
— Temos uma procura grande na toxina botulínica e, nesta época do ano, para redução da gordura corporal — explica a biomédica esteta e responsável técnica pela clínica, Carla Pisoni.
A maioria dos pacientes é do sexo feminino, entretanto, a docente Franciele Zanol atesta o que outros profissionais relataram à reportagem: os homens estão mais dispostos a investir na própria aparência.
— Eu vejo que a estética masculina ainda não tem as mesmas proporções do sexo feminino, mas existe um crescimento, sim. Eles buscam muito a tricologia, que são os tratamentos capilares, e os procedimentos faciais. É um público que está mais vaidoso, com desejo de se cuidar — comenta Franciele.
A clínica está localizada na Rua Marechal Floriano, 1.229. Os tratamentos ocorrem nos turnos da manhã e da tarde.
Saiba mais
:: A aplicação de substâncias como a toxina botulínica e o ácido hialurônico são permitidas para profissionais como médicos, dentistas, farmacêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros, biomédicos e biólogos, desde que com especialização e seguindo as determinações do conselho de cada categoria.
:: As profissões de esteticista, cosmetólogo e de técnico em estética são regulamentadas desde abril de 2018, a partir de uma lei federal. Os profissionais podem realizar procedimentos capilares, faciais e corporais.
:: A aplicação da toxina botulínica varia, em média, de R$ 1 mil a 1,7 mil. Já os bioestimuladores de colágeno têm preço de R$ 1,8 mil a R$ 3 mil, em geral.