Quando a bossa nova explodiu no país, no finalzinho dos anos 1950, o termo passou a ser utilizado para designar tudo que fosse diferente, que comportasse uma interpretação nova - de uniformes, geladeiras e máquinas de lavar, passando por sapatos e gravatas, até rádios, vitrolas, enceradeiras, aparelhos de barbear e, pasme, edifícios e projetos arquitetônicos.
“Tudo era lançado sob a chancela de Bossa Nova, acompanhando a onda de modernização que atingia o Brasil em 1960”, bem resumiu Ruy Castro, autor do best-seller Chega de Saudade - A História e as Histórias da Bossa Nova, lançado em 1990.
E Caxias, obviamente, acompanhou a novidade, instalando no coração da antiga Praça Rui Barbosa uma “Árvore de Natal Bossa Nova”, conforme destacado em uma crônica publicada no Boletim Eberle de janeiro de 1961. Talvez pouca gente tenha associado a decoração ao movimento musical da época, mas a história merece ser recordada. Confira o texto original:
“As principais artérias da cidade tomam um colorido todo especial, principalmente à noite, com jogos de luz e painéis resplendentes. O movimento pelas ruas torna-se intenso. O lufa-lufa nas casas de comércio é enorme. As vitrines das casas comerciais, repletas de brinquedos e bonecas, tornam-se pequenas para os olhos da criançada ansiosa pela vinda do Papai Noel. Em noites mornas de verão, constitui-se uma verdadeira delícia um passeio pela Av. Júlio de Castilhos e uma rápida paradinha em nossa bonita e perfumada Praça Rui Barbosa. Em nosso meio, a exemplo de outros países do velho mundo, por ocasião do Natal, é tradição armar-se a árvore de Natal e o presépio, simbolizando o nascimento de Jesus.
Raras são as famílias que não possuem esse hábito entre nós. Algumas, naturalmente, por falta de recursos. Daí, porque, de uns anos para cá, desde o início da administração municipal Euclides Triches, vem se tornando hábito em nossa cidade erguer-se um belíssimo presépio e uma resplandecente árvore de Natal, bem no centro de nossa principal praça - em comemoração à data magna da cristandade, para a alegria de todos. Principalmente das crianças pobres, que não possuem, em seu lar, uma árvore de Natal e um presépio próprios.
Daí, porque, a nossa praça, nessa época do ano, torna-se ainda mais bonita e agradável, mais repleta de crianças, de jovens e de velhos. Sem dúvida alguma, é um costume sadio esse, que vem sendo seguido por todos os administradores caxienses. No ano que passou, foi erguido um presépio e uma árvore de Natal estilizados, tipo "bossa nova", corno foram batizados por muitos entendidos na matéria.
Segundo estamos informados, o presépio e a árvore de Natal serão conservados até o final da Festa da Uva e Exposição Agro-Industrial, a ser realizada em fevereiro e março do corrente ano (1961), ornamentando, assim, ainda mais a nossa querida cidade - principalmente, para os inúmeros visitantes que aqui virão para os nossos tradicionais festejos da vindima.
De qualquer forma, são nossos votos, que todos os anos, para alegria nossa e da petizada, tenhamos sempre, em nossa praça, um presépio simbolizando o nascimento de Jesus e uma esplendorosa árvore de Natal”.
Acima e abaixo, as duas imagens publicadas no Boletim Eberle de janeiro de 1961, com as legendas originais da época. Ambas as fotos foram captadas a partir da Rua Marquês do Herval e trazem a antiga sede do Banco do Brasil (na esquina da Dr. Montaury com a Sinimbu), o extinto prédio da Biblioteca Pública Municipal e da Escola de Belas Artes; e o sobrado dos Irmãos Serafini (à esquerda).
Na sequência, a árvore que decorou a praça na sequência, desta vez estampando a capa do Boletim Eberle de dezembro de 1964.
Outras criações
Conforme já destacado neste espaço em outras ocasiões, a instalação de uma árvore de Natal no centro do chafariz ocorreu pela primeira vez no Natal de 1952. A prática durou até meados dos anos 1970, quando ela deixou o chafariz e passou a "transitar" por outros pontos da praça.
De todas as criações que embelezaram o Centro, impossível não lembrar da criação de dona Elyr Ramos Rodrigues, então diretora da Escola Superior de Belas Artes, à época localizada na Rua Dr. Montaury (atual Casa da Cultura).
Instalado no chafariz na segunda metade da década de 1960, durante a gestão do prefeito Hermes Weber, o pinheiro de metal que encantou gerações de caxienses era adornado por centenas de lâmpadas incandescentes coloridas. Elas davam forma às estrelas e acendiam em sequência, promovendo uma espécie de êxtase coletivo – tanto para quem via de baixo quanto dos prédios (fotos abaixo).
PARTICIPE
Você possui fotos antigas junto às árvores de Natal que decoraram a Praça Dante nos anos 1950, 1960 e 1970? Envie para o e-mail rodrigolopes33@gmail.com.