Um dos destaques da programação Festa da Uva, o corso alegórico ganhou os mais diversos nomes desde que os primeiros carros puxados por juntas de bois “estrearam” na Av. Júlio de Castilhos, na segunda edição do evento, em 1932. Informalmente, Parada da Uva, Parada da Vindima, Corso da Vindima e Desfile de Carlos Alegóricos foram alguns desses títulos, até chegar-se à denominação oficial de hoje: desfile cênico-musical.
Entre avanços e homenagens, o de 1965 pode ser considerado um divisor de águas, conforme descrito pelo autor Luiz Carlos Erbes no livro Festa da Uva - A Alma de um Povo:
“Não foram, porém, os negócios empurrados pela ótima safra da uva de 1965 e pela solidez da indústria local, nem os turistas os responsáveis pelo auge da festa, que teve o empresário Otoni Minghelli novamente na presidência - a primeira vez fora em 1937. O que brilhou naquele verão quente e seco foi o corso alegórico, para o qual o próprio Minghelli contribuiu, comprando plataformas de ferro de uma empresa de Santo Antônio da Patrulha para serem utilizadas no desfile”.
Todo o esmero da apresentação ficou a cargo de outro nome inesquecível quando se fala na história dos corsos alegóricos: Isaac Menegotto - responsável pelos desfiles por 34 anos, de 1950 a 1984. Com a ajuda de 80 carpinteiros, ele aprontou os carros em 18 dias de intenso trabalho e estruturou a apresentação. O autor Luiz Carlos Erbes detalhou parte daquele trabalho:
“Menegotto modernizou o desfile. Em 1950, quando assumiu o comando, os carros eram artesanais eram artesanais, pobres. Não havia luxo nem sofisticação. A partir do seu envolvimento, os veículos ganharam tamanho e beleza, transformando o corso em uma das partes mais interessantes da festa. Esse trabalho se consolidou em 1965, quando os carros ganharam pompa e luxo. Já em 1961, os veículos que desfilariam teriam brilhado, não fosse o mau tempo. Coube, portanto, àquela edição a chance de entrar para a história”.
Vista a partir do antigo Banco do Brasil
Nas imagens acima e abaixo, a passagem do corso pelo Largo da Catedral Diocesana, captado provavelmente das alturas da antiga sede do Banco do Brasil (na esquina com a Dr. Montaury). Na primeira foto está o carro das soberanas, projetado pelo mestre Darwin Gazzana. Denominado “Pastora de Cisnes”, ele trazia a rainha Silvia Celli e as princesas Ana Maria Botelho Marchiro, Maria Paula Pezzi Portela, Martha Campos De Carli e Clara Maria Nesi.
Repare no público junto à marquise do Eberle e às janelas do Edifício Dona Ercília (ainda em construção, à direita) e na extinta Mansão Raabe (com a cúpula, na esquina com a Borges de Medeiros). Naqueles tempos também era possível avistar as torres da Igreja de Lourdes.
Por fim, um detalhe da capa da edição-extra do Pioneiro de 21 de fevereiro de 1965, produzida e levada aos leitores no mesmo dia da estreia do corso.
Os carros
Conforme o autor Luiz Carlos Erbes, ao todo, 42 carros entraram na Rua Sinimbu em 1965. O desfile foi dividido em duas partes: a primeira enfocou a uva, a segunda mostrou a diversidade da indústria na Serra Gaúcha. Tudo para homenagear os então 90 anos do início da colonização italiana, em 1875.
Confira alguns veículos de empresas e entidades, a partir da lista publicada no Pioneiro de 21 de fevereiro de 1965:
* Rainha da Estrelinha (Sapataria Estrela)
* Vai, Abóbora (Diretoria de Fomento Agrícola)
* Brotinhos (comissão)
* Joãozinho e Mariazinha (Madezatti)
* Diligência (Vinícola Mosele)
* Uma Casa Diferente (Pastifício Caxiense)
* Escola Superior de Belas Artes
* Faculdade de Direito
* Faculdade de Filosofia
* Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas
* União Caxiense de Estudantes
* CTG Rincão da Lealdade
* CTG Tropeiros do Rio Grande
* Esporte Clube Juventude
* Clube Juvenil
* Os Caçadores
* A Evolução da Moda Através dos Tempos (Tecidos e Artefatos Kalil Sehbe)
* Lanifício Gianella
* Francisco Stedile S/A
* Industrial Madeireira
* Metalúrgica Abramo Eberle
* Indústria de Bebidas Marumby
* Cooperativa Vinícola Aliança
* Rádio Caxias
* Estação Experimental de Viticultura e Enologia
Dia e noite
A edição de 1965 contou com apenas dois desfiles: um no domingo de abertura, em 21 de fevereiro de 1965; outro em 14 de março, quando foi acompanhado pelo general Castelo Branco, primeiro dos presidentes militares pós-Golpe de 1964.
Ambos os corsos foram diurnos. O desfile noturno seria uma realidade apenas dali a quatro anos, na edição de 1969.