Em dois momentos distintos, a agência central do Banco do Brasil alterou o cenário do entorno da Praça Dante Alighieri. Foi a partir de 1956, quando a primeira sede própria do BB ocupou o edifício em estilo modernista construído na esquina das ruas Dr. Montaury e Sinimbu – posterior Fórum e Palácio da Polícia Civil. Um novo sopro de modernidade – não muito bem compreendida por alguns na época – chegou no início dos anos 1970, quando a atual sede, na Rua Marquês do Herval, começou a ser planejada.
Assinado pelos arquitetos Joel Ramalho Junior, Leonardo Oba, Luis Forte Neto, Vicente de Castro e José e Roberto Gandolfi, de Curitiba, o projeto foi escolhido via concurso nacional, em 1970 – conforme destacado por Isabella Caroline Januário na dissertação de Mestrado A arquitetura de Joel Ramalho Junior, Leonardo Oba e Guilherme Zamoner nos anos 1970 : concursos nacionais, respostas curitibanas, defendida em 2018 na Universidade Estadual de Maringá.
Segundo reportagem do Pioneiro de 9 de março de 1974, o prédio “subiu” no tempo recorde de dois anos e 10 meses. Batizado de Edifício Satélite, começou a ser construído pela Vivenda Engenharia e Arquitetura Ltda em 1971 e foi inaugurado em 7 de março de 1974.
Com 17 pavimentos, incluindo subsolo, chegou com o status de “mais luxuoso do interior do Brasil” e passou a ser também o mais alto do trecho da Rua Marquês do Herval, entre a Sinimbu e a Av. Júlio de Castilhos, posto ocupado até então pelo Edifício Minghelli (foto abaixo).
Linhas arrojadas
A edição do Pioneiro de 9 de março de 1974 trouxe ainda um suplemento especial detalhando aspectos da construção, a inauguração, serviços oferecidos e homenagens.
Conforme o texto, o protocolo estendeu-se por todo o dia, reunindo o então diretor-presidente do BB, Nestor Jost; o gerente geral da agência, Odilo Tirelli; o prefeito Mário Ramos; o presidente do Legislativo, Ovídio Deitos; o bispo Dom Benedito Zorzi; o diretor administrativo Osvaldo Colin e o deputado Vitor Faccioni, além de dezenas de funcionários, políticos e convidados.
“Suas linhas são arrojadas e de arquitetura moderníssima, sem pinturas e com decorações em alto relevo, o que dá um aspecto de verdadeira obra de arte que veio embelezar grandemente o centro de Caxias do Sul”, detalhava o texto de 1974, referindo-se ao espaço do subsolo (foto mais abaixo)
Edição do Jornal de Caxias daquele mesmo dia completou que, dos 17 pavimentos, sete seriam ocupados pelo banco, o restante vendidos a empresas comerciais e prestadores de serviços. A reportagem também recordou dos primórdios do Banco do Brasil em Caxias.
“A agência local começou com quatro funcionários, hoje possui 208. O primeiro cliente, a 10 de março de 1936, foi o senhor Júlio Sassi”.
Na imagem abaixo, um registro do fotógrafo Giancarlo Mantovani captado no início dos anos 1980, destacando o contraste entre o moderno Banco do Brasil e o “vizinho” Hotel Menegotto, demolido em 1984.
Estilo polêmico, segundo o diretor
Utilização de elementos pré-fabricados, “menos é mais” e “não ornamentação” eram marcas dos projetos modernistas assinados pelo arquiteto mineiro Joel Ramalho Junior desde 1961, quando passou a atuar em parceria com o não menos renomado Eduardo Kneese de Mello, em São Paulo.
Ao longo de sua trajetória em Curitiba – e trabalhando com vários colegas –, foram dezenas de prêmios e primeiros lugares em concursos para prédios de bancos, hospitais, centros de convenções e conjuntos residenciais pelo país.
Isso não impediu que, na inauguração da agência em Caxias, em 1974, o prédio tenha sido considerado um “edifício polêmico”, conforme capa do Jornal de Caxias de 9 de março de 1974 (foto abaixo).
“Durante a visita às novas instalações do Banco do Brasil, em rápido contato com a imprensa, o dr. Nestor Jost disse que o estilo arquitetônico do edifício recém-inaugurado era polêmico, realmente. Entretanto, o que importava era que a agência dispusesse de dinheiro para atender aos interesses da indústria, comércio e agricultura.”
Mentalidades da época...
Curiosidades
Tanto a antiga agência do Banco do Brasil, na esquina da Rua Sinimbu com a Dr. Montaury, quanto a nova – do outro lado da Praça, na Rua Marquês do Herval – foram construídas em terrenos que abrigaram espaços de entretenimento temporário.
Na primeira, funcionou, durante alguns meses de 1950, um rinque de patinação, novidade surgida na Festa da Uva daquele ano. Já o endereço do atual Banco do Brasil abrigou o extinto Boliche Caxias, point dos caxienses nos anos 1960.
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