
As 12 badaladas soaram pela primeira vez à meia-noite do dia 31 de dezembro de 1955 – e até hoje a sonoridade acompanha o cotidiano de moradores, trabalhadores e passantes do Centro, mesmo que muitos nem se dêem conta disso. Falamos do relógio da Metalúrgica Abramo Eberle, que, juntamente com a piteira e a “casinha” (réplica da primeira funilaria) compõem a chamada “tríade das alturas” do atual Pátio Eberle.
Símbolo absoluto do Centro, o relógio é imediatamente “procurado” em fotos antigas do entorno da Praça Dante, daí a curiosidade que algumas imagens ainda sem a estrutura despertam. É o caso dos dois registros desta página, da primeira metade dos anos 1950.
Na imagem acima, captada pelo fotógrafo Clemente Tomazoni, percebe-se o trecho da Rua Marquês do Herval no entorno da então Praça Ruy Barbosa, com o terraço do Eberle ainda apenas com a casinha – instalada em 1946, por ocasião dos 50 anos de fundação da empresa. Vemos ainda o novo prédio do Banrisul, inaugurado em 1952, o Cine Guarany, o Hotel Menegotto e os terrenos vazios que, posteriormente, receberiam o Banco do Brasil e o Edifício Mingheli, na esquina com a Sinimbu. Na foto abaixo, o prédio e a torre prestes a receber o relógio, vistos a partir do chafariz da praça, à época rodeado pelas famosas roseiras.

Detalhes
Conforme informações contidas no primeiro volume do Boletim Eberle, datado de junho de 1956, o relógio foi construído pela Indústria e Comércio de Relógios Públicos Schwertner Ltda, de Estrela. Os dois sinos levam a marca da firma Irmãos Bellini & Cia Ltda, de Canoas. O maior deles pesa 677 quilos e o menor, 307. Já os ponteiros, de ferro e esmaltados a fogo, medem 1,71m (o dos minutos) e 1,14m (o das horas).
Na parte estrutural, possui um mostrador de quatro faces, de 3,2 metros cada uma, e está assentado sobre uma coluna de 5,7 metros. Compreendendo os mecanismos dos ponteiros e do relógio, mais os sinos, a torre soma 14,2 metros. Nos primeiros tempos, o relógio era iluminado por gás neon e possuía uma reserva de energia de 10 horas, usada quando havia interrupção da corrente elétrica.

A campanela
À época do surgimento do relógio, a sonoridade lembrava também a antiga campanela, espécie de sino que convocava os trabalhadores da empresa para suas tarefas. Conforme detalhado no Boletim Eberle, naqueles tempos usava-se uma expressão que acabou perdurando entre os antigos funcionários e todos os trabalhadores do entorno: “Abramo já Tocou”. Era uma espécie de sinal para que todos os habitantes fossem ao encontro de suas atividades. A sentença também batizou um livro sobre a trajetória do empresário, lançado nos anos 1950.

Caminho Histórico
Um caminho histórico localizado no térreo do atual Pátio Eberle destaca várias curiosidades e detalhes da antiga metalúrgica. Integrantes do cenário urbano de Caxias desde meados dos anos 1940, eles nem sempre são percebidos pelos passantes. Entram aí, por exemplo, as duas piteiras do telhado, os vitrais no acesso pela Sinimbu e a calçada de pedras portuguesas reproduzindo as engrenagens, símbolos da metalurgia.
A exposição permanente, que convida o visitante a “descobrir e redescobrir” o lugar, pode ser conferida acessando-se o Pátio Eberle pelas ruas Sinimbu, Borges de Medeiros e Os Dezoito do Forte.