A recuperação da fachada da antiga Metalúrgica Abramo Eberle passa também por dois símbolos arquitetônicos praticamente "invisíveis" do prédio: os vitrais ao lado do antigo portão de entrada e saída dos trabalhadores, pela Rua Sinimbu.
Retirados e restaurados durante um período de quase três meses, eles agora se integram à rápida mudança verificada no térreo, entre as lojas que abrigam uma padaria e uma óptica. O trabalho ficou a cargo dos artistas plásticos e vitralistas Ivanir Ferreira e Sérgio Antônio Spoldari, da empresa Cose Belle, de Caxias do Sul.
Símbolos da fábrica
Conforme a vitralista Ivanir, os desenhos dialogam com as atividades da fábrica e fazem referências à vizinhança do prédio, como a Praça Dante Alighieri. Na parte superior vê-se a marca registrada da empresa, a famosa piteira (a mesma que decora o telhado, na esquina da Borges com a Os Dezoito do Forte), e as iniciais AEC, de Abramo Eberle e Cia. Também estão reproduzidos personagens da mitologia (entre eles Hefesto, o deus grego do fogo, dos metais e da metalurgia, ou Vulcano, na mitologia romana), suas ferramentas e a figura de um trabalhador.
Orevil Bellini, o desenhista da Eberle
– Boa parte dos vitrais estava danificada, com módulos lascados e com a calha de chumbo (estrutura de fixação) desgastada. Buscamos comparar com imagens antigas para tentar recompor e manter o mais próximo possível do original – destaca Iva, completando que a exposição de décadas na rua e a depredação dos passantes, mesmo com a tela de proteção, também ajudaram a "maltratar" as peças.
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Na imagem que abre a reportagem, a saída dos funcionários da fábrica, com os dois vitrais ao fundo, em finais dos anos 1940. A foto, uma das únicas em que os exemplares aparecem, integra o acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari e auxiliou no trabalho de restauração da equipe.
Jubilados do Eberle em outubro de 1968
Autoria não confirmada
Durante as pesquisas para a restauração não foi possível certificar a autoria dos vitrais. Conforme a vitralista Ivanir Ferreira, o trabalho, na técnica de sombra em sépia, pode ter sido desenvolvido pelo atelier Irmãos Conrado, de São Paulo, responsável também pelos belíssimos vitrais do palacete de Abramo Eberle, na esquina das ruas Sinimbu e Borges de Medeiros.
Memórias do Palacete Eberle
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– Eles não têm a riqueza, o colorido e a suntuosidade da peças do palacete (datado de 1939), exatamente por decorarem uma fachada de rua, de uma fábrica, mas são da mesma época. Provavelmente, a empresa paulista foi novamente contratada por já ter feito trabalhos para a família Eberle alguns anos antes – estima Ivanir.
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Detalhes preservados
Os vitrais verticais com as inscrições Metalúrgica Abramo Eberle, que ladeiam a varanda central a partir do quarto andar até a marquise, também estão em processo de restauração pela Belle Cose. Eles serão mantidos na fachada. A preservação da riqueza arquitetônica do térreo estende-se às antigas portas de madeira decoradas com esculturas em metal, no acesso à Faculdade Ideau, e próximo a Rua Borges de Medeiros.
Abaixo, mais registros dos vitrais e detalhes do prédio:
Eberle Centro: detalhes de outros tempos
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