A trajetória da família Chiarello no Brasil, a partir da chegada do imigrante italiano Giuseppe Chiarello ao país e de seu casamento com Juseppa Casengato, norteia a publicação Giuseppe Chiarello e Juseppa Casengato com seus Descendentes, de autoria da professora e pesquisadora Lucinda Chiarello Maccari.
Moradora do município de Serafina Corrêa, Lucinda vem fazendo um trabalho de divulgação nas redes sociais e entregando a obra a familiares e amigos. O objetivo, segundo ela, é fazer com que cada descendente reconheça sua origem, identifique os antepassados, conheça os parentes e promova laços de união e preservação da cultura.
Toda essa história remete ao ano de 1887, quando o camponês Catterino Chiarello decidiu sair da província italiana de Pádova e rumar ao Brasil, a bordo do navio Righi. Aos 45 anos, viúvo de Maria Cervelin e acompanhado dos filhos Giulia, nove, Giuseppe, 11, e Giustina, 18, ele se instalou em um lote de terra na localidade de Antônio Prado.
Foi lá que o pequeno Giuseppe viveu e testemunhou a odisséia dos primeiros imigrantes até 1897, quando completou 22 anos e uniu-se a jovem Juseppa Antônia Casengato, de apenas 17.
Novo destino
O casamento de Giuseppe e Juseppa ocorreu em 21 de junho de 1897. Porém, após alguns anos morando com a família paterna, eles decidiram desbravar novas terras. Juntamente com os três primeiros filhos, Alexandre Catterino, João Benvenutto e Antônio, migraram para a Linha Porto Alegre, Capela São José, atual município de Serafina Corrêa, onde passaram a residir.
No novo endereço, Giuseppe e Juseppa tiveram mais cinco filhos - Maria, Orélia, Abramo, Regina Elisa e Guerino, além de três natimortos. Conforme a autora, os descendentes se dispersaram por diversos estados brasileiros, com exceção de Abramo, Antônio e Guerino, que se fixaram definitivamente no interior da Encosta Superior do Nordeste - hoje os municípios de Guaporé, União da Serra e Serafina Corrêa.
Livros escondidos durante a guerra
Devoto de Santo Antônio e extremamente católico, Giuseppe Chiarello costumava rezar o terço na capela da localidade. Quando a saúde não mais permitiu, ele passou a ler o breviário da missa em casa, com a família - todos os domingos e sempre em italiano, logicamente.
Outra história curiosa resgatada pela autora Lucinda Chiarello Maccari diz respeito ao período do proibido falar italiano, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945).
“Valendo-se dessa lei, os soldados passaram a revistar as propriedades dos imigrantes italianos para destruir e queimar tudo o que encontravam da língua italiana. Giuseppe possuía livros na língua italiana, que para ele eram sagrados. Para poder salvá-los, cavou um buraco bem fundo debaixo do assoalho de sua casa, fez uma caixa e os enterrou. Juseppa queria que fossem escondidos debaixo do pasto, do feno dos animais, mas Giuseppe não aceitou, porque era muito fácil encontrá-los. Assim, preferiu enterrá-los. O medo de perdê-los foi tanto que preferiu aguardar um longo período para desenterrá-los, mais de seis meses. E qual foi a surpresa? Encontrou os livros todos mofados e impossíveis de se fazer leituras. Haviam se deteriorado”.
Falecimentos
A partir do episódio da perda dos livros, Giuseppe tornou-se bastante sério, introvertido, quase não mais falava. Segundo a autora do livro, resguardava-se em silêncio e falava apenas o necessário. Já a esposa Juseppa trabalhou por anos a fio como parteira - na época, era a única que existia na região e deslocava-se a cavalo para auxiliar as moradoras próximas a dar à luz.
Conforme destacado no livro, a matriarca também enfrentou longas enfermidades. Contraiu a Gripe Espanhola de 1918 por três vezes, sempre conseguindo reagir. Giuseppe Chiarello faleceu em 20 de dezembro de 1950, aos 75 anos. Juseppa, em 1959, aos 79. Os restos mortais de ambos encontram-se no cemitério da Capela São José, em Serafina Corrêa.
O livro
O livro conta com 89 fotos, muitas delas enviadas por familiares espalhados pelo Brasil e Exterior. Destes, 60 foram entrevistados e contribuíram com a pesquisa. Entre eles, os próprios pais de dona Lucinda: José João Chiarello, 97 anos, e Pierina Ângela Marcon Chiarello, 99, moradores do município de União da Serra e fontes de informações valiosas e de ricos detalhes para a conclusão da obra.
_ Deixo minha melhor herança, que se perpetuará entre as gerações de descendentes da grande família Chiarello _ finaliza dona Lucinda, bisneta de Giuseppe e Juseppa e neta de Antônio Chiarello e Carmela Maraschin.
Em função da pandemia, não houve solenidade de lançamento presencial. Mais informações sobre o livro podem ser obtidas pelo e-mails jmaccari@net11.com.br e josemaccari@net11.com.br ou com dona Lucinda, pelo fone (54) 98153.4338 . Também pelo fone (54) 99600.6532, com Elias De Marco, ou via e-mail eliasdemarco16@gmail.com.
A autora
Lucinda Chiarello Maccari, 69 anos, é natural de Guaporé. Formada em Letras, trabalhou por anos em escolas públicas e privadas na rede de ensino. Foi também secretária municipal de Educação e Cultura em Serafina Corrêa entre 1977 e 1983.