Quem nunca ouviu a expressão “a história da minha família daria um livro”? No caso da professora e pesquisadora Márcia Gladis Cantelli Dias, foram cerca de 20 anos para que centenas de lembranças, fotografias, depoimentos, percalços e conquistas dessem origem à publicação “Baú dos Cantelli”.
Trata-se de um vasto e detalhado trabalho que situa as famílias Baú e Cantelli, de Bento Gonçalves, no contexto da imigração italiana, desde finais do século 19, até os dias de hoje. Curiosidade: o “Baú” do título dialoga, ao mesmo tempo, com o repositório de lembranças e com o sobrenome da mãe de Márcia, dona Dilza Therezinha Baú, casada com o senhor Matheus Cantelli (leia mais abaixo).
Toda essa história tem origem na comuna de Breganze, na província italiana de Vicenza, Foi de lá que, em 1881, partiram Gioachino Cantele (tataravô de Márcia) e sua família rumo ao Brasil. “Rebatizado” como Joaquim Cantelli, o imigrante viveu pouco na nova pátria, falecendo de hérnia em 1º de fevereiro de 1889, aos 45 anos.
Coube à viúva, Maria Teresa Simonato Cantelli, então com 41 anos, a criação dos filhos Maria, 16, Matteo (bisavô da autora), 13 anos, Fortunata, 10, Angela, sete, Giovanni, cinco, Amália, quatro, Antonio, dois, e Giovanna, 10 meses - Amalia faleceria em 1890, aos cinco.
Conforme a autora, o bisavô assumiu a linha de frente da família:
“Matteo cresceu e se tornou o homem da casa. Permaneceu na casa paterna. Seus irmãos e irmãs aventuram-se por diversas cidades, em lados opostos. Uns migraram para localidades que hoje fazem parte de Veranópolis, Erechim e Serafina Corrêa; outros foram para Santa Catarina e Paraná. Matteo casou-se com Maria Osmarin e construiu sua família, criando assim a comunidade Cantele/Cantelli em São Pedro, no município de Bento Gonçalves. Seus filhos, meus ‘zios’ (tios avós): João Domingos (Joanin), meu avó Timóteo Joaquim, Maria Anna, Honorato Francisco, Angela, Amália, Angelo, Pedro Antônio (Pietoso), Ardoino e Ricardo”.
Da linhagem de Matteo, somente quatro filhos permaneceram na localidade de São Pedro, nos Caminhos de Pedra: Timóteo, Ardoino, Pedro (Pietoso) e Ricardo. Os demais, a exemplo dos tios, aventuraram-se por outras cidades do RS, Santa Catarina e Paraná, sem nunca esquecer os vínculos - seja por meio do envio de cartas, cartões e fotografias ou visitas frequentes.
Na imagem acima, vemos Timóteo (na última fila, o segundo da esquerda para a direita, com o “basso tuba”) e a banda La Musica di San Pietro. Conforme a neta Márcia, “os Cantelli cantavam sempre, na alegria e na tristeza, nas festas, nas casas, nos filós, nas missas e nos enterros. É assim até hoje. Nos descendentes, ficou a música”.
O pioneiro e seus frutos
Joaquim Cantelli, o imigrante pioneiro, viveu no Brasil apenas oito anos, de 1881 a 1889. Mas eternizou seu nome e sua história. Conforme a tataraneta Marcia Cantelli Dias, orgulhosamente seu nome transformou-se em nome de rua nos Caminhos de Pedra, fazendo lembrar e conhecer que, após a curva, “lá em cima”, está a pequena vila dos Cantelli.
E é no cemitério dos Caminhos de Pedra, logicamente, que repousam várias geracões dos Cantelli. Além de Joaquim, da esposa Maria e da filha Amalia, estão Matteo e Maria (bisavós da autora), os tios-avós Pietoso, Ardoino e Ricardo, e suas respectivas esposas, Albina, Lucia e Isena. Já no cemitério de Barracão foram enterrados Timóteo e Carolina (avós da autora) e Matheus Cantelli (seu pai).
Dilza e Matheus, um casamento em 1950
No capítulo intitulado “Dilza”, a autora Márcia Cantelli Dias presta uma homenagem à mãe, dona Dilza Therezinha Baú, filha de Orlando Baú e Rosa Foresti Baú, a “Nonna Baú”. “Aqui temos a Baú dos Cantelli”, escreve Márcia, fazendo uma alusão ao nome do livro.
Dilza e Matheus Cantelli, o caçula de Timóteo e Carolina Cantelli, casaram em 20 de maio de 1950, nascendo dessa união os filhos Marlene, Gilceu, Márcia, Marinês e Marilúcia. Na imagem acima, os noivos junto aos padrinhos Alcides e Madalena Baú, e Dileta Cantelli e Alteser Cavalet.
Seu Matheus faleceu em 8 de agosto de 1994, aos 66 anos. Dona Dilza, 25 anos depois, em 5 de agosto de 2019, aos 88.
A obra
Mesclando a saga da família Cantelli à cultura trazida pelos antepassados vindos da Itália, a autora Márcia Cantelli Dias “abre” um baú de recordações que proporcionam uma imediata identificação com os moradores da Serra. “Talvez você descubra que, nas minhas lembranças, você recordou das suas também”, avalia Márcia.
O livro pode ser adquirido pelo e-mail marcia.cantelli@gmail.com e e em diversos endereços dos Caminhos de Pedra, em Bento, como a Pousada Cantelli, a Cantina Salvati & Sirena, o Restaurante Nona Ludia e a Ferraria Ferri. Também na Escola de Educação Profissional São Pelegrino (Rua Coronel Flores, 525), em Caxias. O valor é R$ 50.