Elda Iracema Facchin Fochesato era uma das moradoras mais conhecidas, queridas e atuantes do bairro São Pelegrino – desde a época em que a Avenida Itália não tinha calçamento integral, o pároco era o padre Eugênio Giordani e a nova igreja de alvenaria nem havia sido concluída.
Testemunha destes e de tantos outros momentos do cotidiano caxiense ao longo das últimas nove décadas, dona Elda despediu-se na última terça, aos 98 anos, deixando um legado de generosidade, carinho e dedicação à família e ao próximo. As últimas homenagens serão prestadas nesta segunda (21), durante a missa de sétimo dia, às 18h30min, na Igreja de São Pelegrino – praticamente, uma extensão de sua casa.
Primogênita do casal Romano e Olinda Mantese Facchin, Elda nasceu em 13 de novembro de 1922, na localidade de São Marcos da Linha Feijó. Integrante de uma família de viticultores, desde cedo a menina atuou nas lidas da colônia, auxiliando os pais também na criação dos cinco irmãos mais novos (Vilma, Zeno, Nelson, Dilva e Neuza). A chegada definitiva à “cidade” deu-se a partir do casamento com o jovem Tercílio Fochesato, cujos pais e irmãos moravam no bairro São Pelegrino.
Após a união, em 30 de maio de 1947, o casal instalou-se em uma casa de madeira na Rua La Salle, vizinha ao futuro novo prédio do colégio. O crescimento da família, porém, impulsionou a mudança para um dos imóveis pertencentes ao sogro Caetano Fochesato, bem maior e a poucos metros dali – era o exemplar do meio daquele famoso conjunto histórico em madeira ao lado do Bar Danúbio, na Av. Itália.
Foi lá que Elda e Tercílio criaram os filhos Gelson, Cleide, Cleusa, Gilson e Cleila. Todos, com exceção de Tercílio, falecido em 1978, aparecem na foto mais abaixo, captada em frente à residência no início dos anos 2000 – pouco antes de o saudoso casarão adornado por lambrequins “migrar” de São Pelegrino para a Terceira Légua (leia mais abaixo).
Atuação comunitária
A forte religiosidade e a preocupação com a família e o próximo nortearam a trajetória de dona Elda desde sempre. Em São Pelegrino, essas virtudes se traduziram em uma série de atividades. À época do surgimento da nova igreja, nos anos 1950, ela dividia-se entre a criação dos filhos e a cozinha da paróquia – auxiliando a preparar o cardápio das quermesses, das festas do padroeiro e dos almoços beneficentes em prol da construção do templo.
Exímia costureira, dona Elda atendeu a uma vasta clientela por anos, além de ter confeccionado boa parte dos uniformes da banda escocesa do Colégio São Carlos. Em meio a tudo isso, ajudava ainda nas tarefas do Bar Danúbio – do qual o marido, Tercílio, foi um dos fundadores, em 1953, juntamente com o pai Caetano e os irmãos Enói e José Fochesato.
Mas foi a estreita relação com a Igreja de São Pelegrino que acompanhou-a desde a juventude até o fim – cumprimentando vizinhos e conhecidos na ida e no retorno das missas, sentando sempre nos primeiros bancos, convivendo com os padres Eugênio Giordani e Mário Pedrotti, participando de novenas, hospedando a capelinha, recebendo a comunhão e a visita das senhoras da paróquia, além da bênção do atual pároco, Leonardo Inácio Pereira.
Não por acaso, dona Elda “despediu-se” faltando poucos minutos para as 18h da última terça. Ao som da Ave-Maria de São Pelegrino...
Família e “segunda mãe”
Além dos cinco filhos, Elda Fochesato deixou os netos Guilherme, Henrique, Fabíola, Paula, Rodrigo, André, Cristiane e Daniel, que lhe deram ainda 10 bisnetos. Conforme lembrado pela família e por diversos amigos e conhecidos, dona Elda também foi uma “segunda mãe” para muitos, devido a sua postura acolhedora.
– Foi uma mãe carinhosa e preocupada com seus filhos e netos, sempre disposta a estar junto para resolver qualquer problema, confortando a quem precisava. Colocava-se à disposição dos outros em detrimento até de sua própria saúde e de seus afazeres. Não lhe faltavam os melhores atributos de uma pessoa que praticava os ensinamentos cristãos. Foi solidária, generosa, carinhosa, bondosa e compassiva – destacaram os familiares.
Casarão preservado
O lendário casarão de madeira – dotado de um “sótão mágico”, um porão gigante (por várias vezes, QG temporário de gincanas lassalistas), um jardim frontal e um “lote” onde se plantava de tudo – acabou cedendo lugar a um prédio. Mas, ao contrário de tantas outras, a emblemática residência número 192 da Avenida Itália não virou pó.
No início dos anos 2000, após dona Elda mudar-se para um apartamento em frente à Igreja de São Pelegrino, a poucos metros dali, a casa inteira foi transportada para o terreno junto ao Museu Casa Zignani, na Terceira Légua. A partir de então, passou a funcionar como uma espécie de pousada, mantendo várias características originais, preservando a memória de sua antiga dona e eternizando novos personagens e histórias.