Ouvir as demandas dos moradores da cidade, suas necessidades, problemas e anseios, é um dos compromissos dos veículos de imprensa desde sempre. Em 1962, Jornal Pioneiro e Rádio Caxias divulgavam o programa “A Voz dos Bairros”, em que autoridades municipais, vizinhos e representantes de alguma autoridade religiosa da paróquia reuniam-se para encaminhar soluções a diversas demandas.
O então bairro “Cruzeiro do Sul” foi destacado na edição do Pioneiro de 13 de janeiro de 1962, época em que Caxias era administrada pelo prefeito Armando Biazus, e o padre Sidney Zanettini (1927-2005, foto) atuava como titular da então recém-inaugurada Paróquia Sagrado Coração de Jesus, surgida em 25 de dezembro de 1959.
Confira o texto original de 1962:
“Pela 6ª vez foi ao ar o programa “A Voz dos Bairros”, da Rádio Caxias do Sul. Desta vez, fez-se ouvir o bairro Cruzeiro do Sul, que falou diretamente do Salão Paroquial do Sagrado Coração de Jesus. Compareceram as autoridades municipais, lideradas pelo sr. prefeito. A apresentação do bairro foi feita pelo Rvdo. Pe. Sidney Zanettini, que ressaltou ter o bairro aproximadamente mil famílias, distribuídas numa área de 165 quilômetros. O parque industrial apresenta as seguintes firmas: Fábrica de Garrafões do sr. Nirvano Zanetti, Indústria de Móveis Kieling, Fábrica de Estojos de Benjamin Grasselli, Malharia do sr. Luiz Vanzin, e a Estação Experimental, dirigida pelo dr. Moacir Falcão. O bairro possui um grupo escolar estadual e sete escolas municipais. É sede da paróquia, abrangendo as capelas São Virgílio, Santo Antônio, Nossa Senhora da Rocca, São Valentim, São Luiz, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Caravaggio e São José”.
Nova igreja e comunidade rural
O texto também destacava os moradores e a importância da agricultura:
“A população do bairro também não pode ser classificada toda na classe média. Há numerosas famílias que encontram dificuldades, embora a maioria dos moradores possua emprego fixo. Concluindo sua exposição, o padre Sidney Zanettini ressaltou o significado da contribuição da zona rural para o progresso da cidade, fornecendo os alimentos de que ela necessita”.
O encontro de janeiro de 1962 teve como representantes do bairro os moradores Luiz Vanzin, Nilva Webber, Constantino Bozzi, Ari Goulart, Avelino Avrela e Zulmiro Boff. Três anos depois, começaria a tomar forma um dos símbolos religiosos do Cruzeiro: a nova igreja do Sagrado Coração de Jesus.
A pedra fundamental foi lançada em 16 de maio de 1965 - conforme fotos abaixo, gentilmente cedidas pelo historiador Éder Dall'Agnol dos Santos, morador do bairro e colaborador da coluna Memória em diversas matérias.
As reivindicações de 60 anos atrás
Ao final da reunião, o então prefeito Armando Biazus prestou uma série de esclarecimentos sobre os problemas apresentados pela Associação dos Amigos do Bairro do Cruzeiro.
As reivindicações foram enumeradas na edição do Pioneiro de 13 de janeiro de 1962. Confira:
- Instalação de bicos de luz nas ruas do bairro.
- Calçamento da Várzea Michielon.
- Abertura da nova rua de acesso ao bairro.
- Retificação de um trecho da estrada partindo dos terrenos da senhora Mônica Ruzzarin até o centro do bairro Cruzeiro.
- Abertura de estrada que é continuação da Rua Luiz Michielon e que ligará com a estrada que serve ao moradores da Capela São Valentim, Zona Formolo e Usina do Piauí.
- Melhoramento da estrada que corta a que conduz a Santa Lúcia e a que liga a Estação Experimental ao bairro.
- Abertura da estrada que liga a Capela Nossa Senhora das Graças à Estação Experimental e à estrada de Santa Lúcia.
- Providências para o abastecimento de água no bairro, o qual parte só está sendo suprido à noite.
- Assistência mais frequente às ruas do bairro.
- Reaparelhamento do pátio do Grupo Escolar do bairro.
- Solução do problema do telefone, ligação de duas linhas.
- Mais um ônibus nas horas de partir para as fábricas e voltar.
- Mais um ônibus às 10h, subindo pela Rua Canopus e descendo pela Rua Sírius.
- Dar condições de tráfego às estradas da colônia.
- Instalação de uma Escola Técnica de Agricultura e Zootecnia, laboratório de análise de terra e uma assistência geral concreta, para maior eficiência do trabalho do agricultor.
Remy Bisol e a famosa Ponte Seca
A realidade do bairro Cruzeiro de 60 anos atrás é ilustrada por um dos símbolos daquele trecho da cidade: a famosa Ponte Seca, na Rua Luiz Michielon. O registro que abre a matéria, de meados dos anos 1960, é do fotógrafo Remy Bisol, não por acaso, um dos moradores “raiz” do bairro.
Fundador do Foto Studio Bisol - Bisol Fotografias -, na esquina da Rua Luiz Michielon com a Avenida Sírius, seu Remy teve passagens pelo Studio Tomazoni e pela Foto Optica Caxiense, até se mudar para o bairro Cruzeiro, em 1967.
Nascido em 1938, em São Luiz da Sexta Légua, Remy Bisol faleceu em 2016, aos 77 anos.