Paisagens vistas de outras formas!
A médica Annemarie Brugger Speer, filha de José Brugger (in memoriam) e Rita Brugger, foi Rainha da Festa Nacional da Uva em 1978 e viu sua filha Julia receber o mesmo título de soberana em 2006. Casada com Dietmar Speer é a dedicada mãe de Fernando e Julia De Carli e Andrea Speer. Formada pela Fundação Católica de Medicina de Porto Alegre, Annemarie vive os dias entre o consultório de Ginecologia e sua outra paixão, a fotografia, com o Clube do Fotógrafo. Criativa desde a infância por influência da mãe, a renomada artista plástica Rita Brugger, nossa entrevistada ama a família, as viagens e a profissão.
Qual a imagem da sua infância? Minha mãe, Rita Brugger, preparando a árvore de Natal para a noite do dia 24. A data sempre foi muito comemorada em nossa família, que é de tradição alemã. A expectativa estendia-se durante todo o mês de dezembro, com a celebração dos quatro Domingos de Advento e com a confecção de biscoitos natalinos, da qual participávamos com alegria. Na véspera do Natal, a sala ficava fechada com surpresa e mistério até a hora da festa.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse uma obra? Não teve uma passagem propriamente dita, mas sim alguns momentos muito marcantes. Por exemplo, a aprovação no curso de Medicina, o nascimento dos meus filhos, quando fui eleita rainha da Festa da Uva, quando minha filha Julia foi eleita Rainha da Festa da Uva, quando anunciaram que recebi a medalha de ouro na Bienal de Arte Fotográfica do Brasil. São os momentos que me ocorrem agora. O título seria “Paisagens sempre vistas de outras formas”.
Ao lado de quem gostaria de ter sentado na época da escola? A fotógrafa mundialmente conhecida Annie Leibovitz, que fotografava os Rolling Stones e fez também a foto famosa de John Lennon e Yoko Ono.
Se tivesse vindo ao mundo com uma bula, o que conteria nela? Use com precaução.
Qual foi sua motivação para seguir na Medicina? Foi através dela que começou a fotografar? Com certeza tudo começou no ambiente familiar, com vários médicos; meu pai, José Brugger (in memoriam) foi meu maior incentivador. Desde criança tive vontade de fazer Medicina, que foi minha escolha de profissão. A fotografia também foi uma paixão precoce: ganhei minha primeira câmera na adolescência e passei a registrar momentos familiares e viagens. Quando entrei no Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul, em 2012, aprendi mais sobre a técnica, a edição, e desenvolvi a forma que olhava para o mundo.
Quais têm sido os grandes desafios da medicina nos dias atuais? Descobrir o tratamento para doenças infecciosas, que ainda causam muito sofrimento, principalmente em países subdesenvolvidos, e o desenvolvimento de vacinas, especialmente neste momento. Outro grande mal que nos aflige nessa época, os cânceres, com seu tratamento cada vez mais especializado por meio de imunossupressores e do uso da genética, também desafiam a medicina continuamente.
Por que escolheu a Ginecologia e Obstetrícia para se especializar? Cursei esta disciplina na Santa Casa de Porto Alegre, ministrada por uma equipe espetacular de professores médicos. Então, apaixonei-me por essa área. Atuei como ginecologista e obstetra desde 198. Atualmente, no entanto, exerço apenas a Ginecologia, no consultório, fazendo as revisões, exames anuais, prevenção do câncer, menopausa, e acompanhando inclusive pacientes minhas de muitos anos.
A pandemia do novo coronavírus trouxe diversas mudanças para o cenário político e científico, como diferenciar o que é ciência e o que é “achismo”? “Achismo” é o que se lê e replica sem conhecimento nas redes sociais e grupos de Whatsapp; são pessoas isoladas querendo ganhar alguma coisa e chamar atenção, alardeando tratamentos mágicos e improváveis, objetivando sempre algum benefício pessoal. A ciência é a única saída.
Como concilia a vida profissional e pessoal? Como encontrar o equilíbrio? Sempre foi um pouco difícil essa conciliação. Como já não estou mais ativa na Obstetrícia, agora está mais fácil. Mas considero esse um dos grandes desafios da mulher; um equilíbrio quase impossível. Mulheres que trabalham e cuidam dos filhos precisam se desdobrar, e algum lado haverá sempre prejuízo. Temos que lidar ainda com a culpa por descuidarmos de um ou de outro lado. As exigências parecem só aumentar, cobrando da mulher que seja uma médica de ponta, uma mãe perfeita, uma ótima dona de casa, cozinheira, etc., e ainda por cima precisa estar maravilhosa, ser fit, sempre cuidada e bem vestida. Precisamos dar atenção constante ao que é razoável para não submergirmos em estresse.
Um conselho para quem deseja ingressar na profissão? Muita vontade de estudar, disciplina, gostar de relações humanas, e não focar em expectativas ilusórias. Medicina é muita dedicação, atualização constante e longa carga horária.
O que te atraiu a fazer parte do Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul? Sempre fotografei. Depois que entrei no Clube, vi outro lado da fotografia. Deixou de ser um registro simples da cena e passou a ser mais uma forma de transmitir alguma mensagem. Virou arte. Compartilhar um hobby com amigos também é saudável e representa crescimento constante.
Que lições sobre trabalho em equipe e interdisciplinaridade carrega desde a época em que foi Rainha da Festa Nacional da Uva de 1978? Faz tanto tempo, parece que passaram três vidas depois disso. Tivemos que aprender a lidar com aprovações e desaprovações, críticas, exposição, divisão de tarefas, trabalho em equipe. Com certeza aprendi muito. Saí do pequeno ambiente familiar, e tive uma valorosa experiência no relacionamento com pessoas e no trabalho em equipe.
Como foi reviver estes momentos de soberana quando sua filha, Júlia, foi eleita Rainha da Festa Nacional da Uva de 2006? Foi mágico! Acho que vivi mais a Festa da Uva na época dela que quando fui rainha. Estive muito envolvida no pré-concurso e quando anunciaram seu nome, foi uma emoção sem tamanho. Diria que foi um dos momentos mais importantes da minha vida.
Qual a influência da sua mãe a artista plástica Rita Brugger? Com minha mãe, sempre tivemos um exemplo. O que ela fazia em aquarela, refletindo o cotidiano, as pessoas e suas particularidades, é na verdade o que eu faço na fotografia. Ela sempre foi grande incentivadora da nossa criatividade, oferecendo-nos toda espécie de oportunidades e incentivando-nos em pintura, cerâmica, trabalhos manuais, música, ballet, esportes e livros.
Qual a importância da imagem como registro histórico e valor afetivo? A imagem é a única coisa que fica para o futuro. A fotografia faz o registro como antigamente as pinturas faziam. E uma boa foto resgata o momento em que ela foi realizada, despertando toda uma emoção e atmosfera vivida.
Como estimular que as pessoas conheçam o Clube do Fotógrafo e se tornem membros colaborativos dessa arte pelas lentes? Mostrando nossos trabalhos na mídia e nas exposições, nossas viagens fotográficas e nossos encontros no Clube, que estão sempre abertos aos interessados. Na pandemia o Clube do Fotógrafo segue com desafios mensais e encontros, de forma virtual.
Um projeto para o futuro? Envelhecer com saúde, conviver com meus filhos e netos e viajar mais muitas vezes.
Para quem já visitou tantos lugares no mundo. Cite uma viagem inesquecível: África do Sul e a “caçada” fotográfica aos “Big Five”: o elefante, o búfalo africano, o leão, o rinoceronte e o leopardo. O objetivo é conseguir fotografar os cinco, durante os safáris, em camionetes abertas, onde chegamos bem perto dos animais em seu ambiente natural, no Kruger Park e Serengetti. Outra viagem muito bacana foi do Clube do Fotógrafo ao México, fomos no Dia dos Mortos, viajamos de carro até o interior, para Oxaca, e passamos a noite no cemitério, fotografando as homenagens dos familiares aos falecidos.
Com que mensagem encara o mundo? Precisamos viver e aproveitar o hoje, diante da fragilidade que é a vida.
Gostaria de ter sabido antes... que o tempo passa depressa demais.
Frase máxima? Otimismo e alegria são as coisas mais importantes para enfrentar o dia.