A sustentável leveza do sentido!
Hoje é dia de conhecer um pouco mais sobre o jovem caxiense Felipe Soares da Silva, filho de Everson Luiz Soares da Silva e Maria Clara Ribeiro da Cruz, que molda os dias com uma consciência crítica e humanista. Acadêmico do curso de Moda na Universidade de Caxias do Sul, ele interpreta o mundo com multidisciplinaridade, compreensão e paciência.
Que conexão lúdica faz com a infância? Sempre fui uma criança quieta, mas curiosa, rodeada por livros nos quais embarcava em longas viagens na minha própria mente; a coleção de obras do Harry Potter me acompanhou por muito tempo. Socializar é um verbo que, de fato, surgiu no meu vocabulário lá pelo início do Ensino Médio, no La Salle Carmo, quando firmei boas amizades que cultivo até hoje. Posso dizer que as narrativas imaginárias que utilizava para passar o tempo são o que ainda me conectam com a infância.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Na pele de Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), político francês do Século 17, responsável por uma das primeiras revistas de moda, a Mercure Galant; em suas edições, foi capaz de influenciar o estilo de vida em praticamente toda a Europa. Também adoraria ter vivido como o Visconde de Valmont, personagem fictício da obra Ligações Perigosas, do escritor francês Pierre Choderlos de Laclos (1741-1803), para articular todo o drama envolvendo a aristocracia daqueles idos anos.
Qual a passagem mais importante da sua biografia e que título teria se fosse publicada? O momento em que decidi retornar para Caxias do Sul depois de um breve período em Porto Alegre, quando estudei na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Por lá, aprendi muito, porém a distância da família e o sentimento de pertencimento me fizeram querer voltar. Um bom título seria, Aqui é o meu lugar!
Qual a sua história com a Moda? Como começou e por que decidiu seguir esse caminho? É uma trajetória repleta de curvas, mas acredito que me mantive no caminho certo. Inicialmente, ingressei no curso de Publicidade e Propaganda, desvendei muito daquele universo, porém sempre direcionei meu olhar para o design. Na sequência, quase que instintivamente, comecei o curso de Moda no Campus 8 da UCS, a chamada cidade das artes, e fiquei fascinado pelas disciplinas criativas. A moda vai além dos limites físicos da roupa e de seus acessórios, refletindo a expressão pessoal, os costumes e o pertencimento social; quero aprender ainda mais sobre tudo o que a cerca, e, em tempo, contribuir com sua evolução.
Busca estabelecer relações no seu trabalho com outras áreas, como design, arquitetura, arte? Inevitável citar uma frase dita pela própria Coco Chanel (1883-1971): “Moda é arquitetura, é só uma questão de proporção”. Existe um diálogo livre entre todas as manifestações artísticas, e quanto mais a moda se relaciona com outras áreas culturais, mais ideias surgem. É preciso se aventurar.
O que é ter estilo? É conhecer a si mesmo para traduzir, em roupas e acessórios, a parte mais expressiva da personalidade de quem veste.
Quais as suas referências na área? A icônica ex-editora da Vogue Itália, Franca Sozani (1950-2016), por seu pioneirismo e coragem em quebrar os paradigmas das revistas de moda da época. O fotógrafo Steven Meisel, por seu olhar singular e provocativo. Também destaco dois grandes estilistas internacionais: o britânico Jonathan Anderson e o italiano Pierpaolo Piccioli. E, claro, todas as pessoas próximas a mim, que protagonizam seus particulares projetos de sucesso.
Como lidar com bloqueios e se manter criativo? Evitar ao máximo a procrastinação e manter a mente ocupada com experiências sensoriais, mediante a leitura, a pintura, a música ou com qualquer outra atividade em que se possa conciliar a arte e o conforto.
Como observa a cena de moda contemporânea no Brasil? Com pouco incentivo, devido ao cenário político e pandêmico atual. O brasileiro é muito criativo e inovador, dentro de cada realidade em que está inserido. Na moda, não é diferente, basta garantir a visibilidade àqueles que têm disposição de empreender, visto que a produção de arte no país fomenta, direta e indiretamente, muitos empregos. A moda está no comando, porque o amor pelas novidades efêmeras tornou-se sem limites. Como diz minha querida professora e amiga Beth Venzon, é preciso observar o espírito do tempo ao olhar para cada tendência que se apresenta.
Qual a importância da sustentabilidade nesse meio? É o que se fala há muito tempo: o planeta não suporta um ritmo de produção massificada. É inadiável o investimento em pesquisas e em tecnologias de reciclagem. Mais do que nunca, além do consumo consciente, é preciso focar em um sistema renovável capaz de desacelerar a degradação de recursos naturais.
Quais os seus planos para o futuro? Contribuir para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva mais eficiente no mercado da moda. Aplicar minhas habilidades, sempre em constante aprimoramento, em ações que resultem num bom impacto para a comunidade. Em específico, concluir minha graduação e lançar uma coleção de roupas que representem o que há de mais criativo em mim.
O que considera mitos da profissão? Que é um trabalho superficial e fútil. Na verdade, as peças de vestuário, o produto final da moda, são parte essencial e indissociável do que a humanidade construiu enquanto sociedade. Além de alimentar nossas vaidades pela estética, e nos proteger do frio, do sol, etc, expressam o arbítrio libertário de apresentarmos no mundo nossa imagem pessoal.
O que significa fazer moda? É compreender cada pessoa que veste. Provocar o debate. Traduzir o tempo que estamos vivendo.
Um talento que ninguém conhece? Adoro cozinhar, testar receitas e, principalmente, compartilhá-las com aqueles que mais amo. No meu aniversário, que ocorreu no fim do mês de abril, cumpri a tradição italiana de comer nhoque, e fiz um molho com cogumelos, manteiga e cebolinha como guarnição. Também redescobri minha aproximação com o desenho, incentivado pelas aulas que tive com a talentosa professora Cecilia Seibel.
Uma qualidade: paciência.
Um defeito: teimosia.
Uma palavra-chave: ação.
Um livro: Se Eu Ficar, da escritora norte-americana Gayle Forman. Inclusive, recentemente, fui presenteado pelo meu namorado, Bento Martins, com um exemplar da primeira edição autografado. Entre tantos outros do meu acervo pessoal, também devo citar, Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan, que conta a história da homessexualidade no Brasil, da colônia à atualidade.
Que músicas não saem da sua playlist? Tenho poucas afinidades musicais, não toco instrumento algum, porém escuto com frequência a discografia completa da Lana Del Rey, e sou influenciado pelo bom gosto de quem me cerca; ouço Fashionista, de Jimmy James; Lost In Yesterday, da banda Tame Impala; Hope To Be Around, do trio Men I Trust; Peur des Filles, do grupo francês L’Imperatrice; e Show You The Way, do Thundercat.
A melhor invenção da humanidade? Ainda não foi inventada. A possibilidade de fazer upload das informações do nosso cérebro para supercomputadores, tal como a cantora Grimes sugere na música We Appreciate Power, perpetuando nossos pensamentos para além da vida orgânica.
Gostaria de ter sabido antes... que não devemos ter receio em expressar nossos sentimentos.
Qual vai ser a primeira coisa que fará quando a pandemia passar? Comemorar com meus amigos e dar um abraço apertado nas minhas avós Matilde Ribeiro e Adalir Garbin.