Essa é a história de Copa mais recente: uma nova eliminação. Na vida, em geral, a gente mais perde do que ganha. A menos que se prefira não encarar grandes empreitadas. E uma Copa do Mundo é uma grande empreitada. Então, há uma certa probablidade: mais se perde do que se ganha. Faz parte, é aprendizado, e é preciso respeitar as regras do jogo. É da democracia e das boas regras de civilidade aceitar quando se perde, reconhecer o mérito do outro, saber perder na Copa do Mundo. E, já que o momento permite a referência, vale também para as eleições. É preciso respeitar as regras do jogo democrático. Pedir intervenção militar porque não se gostou do resultado das urnas revela nenhum apreço pela democracia.
Pois nas 14 Copas que testemunhei, o Brasil foi campeão em apenas três, e não chegou lá em 11. São 11 eliminações. Vamos recordar: 1974, para a Holanda (2 a 0); 1978, para a Argentina (empate em 0 a 0 com eliminação no saldo de gols); 1982, para a Itália (3 a 2, jogo do carrasco Paolo Rossi); 1986 para a França (nos pênaltis); 1990, para a Argentina (1 a 0, do célebre gol de Maradona e Caniggia); 1998, para a França (3 a 0, na final da Copa); 2006, para a França (1 a 0, gol de Henry); 2010, para a Holanda (2 a 1); 2014, para a Alemanha (os 7 a 1 aqueles); 2018, para a Bélgica (2 a 1); e agora 2022, para a Croácia (nos pênaltis). Esse momentos, por certo, valorizam a comemoração quando vem uma vitória. Assim é a vida: às vezes se ganha, às vezes se perde. E, em geral, mais se perde do que se ganha.
A eliminação para a Croácia foi dolorida. A segunda vez na história que acontece nos pênaltis. Mas não integra o top 3, o pódio das derrotas mais doloridas. Neste grupo, certamente há três derrotas especiais, duas delas indiscutíveis: para a Itália em 1982, quando o Brasil tinha uma seleção considerada uma das melhores que já teve, e os 7 a 1 vexatórios. Não estou falando nos 2 a 1 para o Uruguai em 1950, pois não vivi essa Copa. A terceira derrota, pelo contexto e pelo adversário, é a eliminação para a Argentina em 1990, gol de Caniggia já no final.
Uma questão a se considerar nas derrotas do Brasil, um aprendizado que nunca chega, é o ambiente que se cria no país. Há um tratamento superestimado da Seleção e dos jogadores. Não havia indícios de que o Brasil estava melhor do que muitos de seus adversários para essa Copa, e o que se dizia é que o Brasil era um dos principais favoritos. Ora, a Seleção tinha muitas vitórias em sua preparação, mas contra adversários fracos. E, ao longo da Copa, praticamente não mostrou bom futebol, a não ser no primeiro tempo contra a Coréia do Sul. Então, cria-se o ambiente e, quando chega a eliminação, tem sido um tombo duro a cada Copa.
A vida segue. A Copa é um espetáculo mágico, que deixa saudades, que traz benefícios à convivência entre os povos. É um megaevento de intercâmbio entre países, entre culturas, uma oportunidade única para a valorização das diferenças, o que nem sempre acontece. É um encontro de povos, mas cada vez mais um encontro de povos de alto poder aquisitivo, um meganegócio. Também a Copa deste ano, em especial, proporcionou um alívio no momento político conturbado, ajudou a distensionar. Mas deve se dar a ela o tamanho que ela realmente tem. Vida que segue, há contas a pagar, novos experiências, novos caminhos por percorrer. E, ali na frente, virá uma nova vitória. Porque um dia se perde, em outro se ganha. Assim é a vida.
* Durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Qatar, são 14 Copas.