O martelo já havia sido batido no congresso técnico da Fifa na Copa de 66, na Inglaterra, mas emergiu forte durante a Copa do México, em 70, batendo firme no imaginário daquela criança que acabava de testemunhar sua primeira Copa do Mundo. A informação, reafirmada na despedida da Copa, era de que os jogos de 1974 se realizariam na Alemanha, os de 1978, na Argentina, e os de 1982, na Espanha.
A gente olhava para o futuro, do alto dos 9 anos de uma criança qualquer, e não conseguia vislumbrar e conceber o que seria o mundo 12 anos depois, com a Copa da Espanha, nem quanto tempo durariam para passar aqueles 12 anos. Parecia uma eternidade. Quando se é criança, o tempo demora para passar. Quando se é adulto, passa num piscar de olhos, ou num estalar de dedos. Nem percebemos. Essa é uma lição preciosa das Copas: como se dá nossa relação com o bem mais precioso que a vida nos oferece, o tempo.
Pois quatro anos até a Copa da Alemanha em 74 já deixavam uma sensação de que o tempo iria se arrastar pesadamente. Uma Copa do Mundo, ao seu término, deixa um gosto de "quero mais", a ponto de se cogitar que os jogos devessem ser mais frequentes, com menos anos de intervalo entre uma edição e outra, mas é justamente nesses quatro anos entre uma e outra disputa que reside toda a graça. A Copa não se banaliza, outro ensinamento importante da Copa na relação com a valorização dos acontecimentos e eventos. Quando chega, a Copa é arrebatadora. Ensinamento para a vida.
Pois o menino olhava para frente e não conseguia assimilar que teriam de se passar, ao fim da Copa do México, 12 anos até chegar a Copa da Espanha, 8 anos até chegar a Copa da Argentina _ 12 anos, 8 inacreditáveis anos. Já na Copa da Alemanha, em 1974, surgiu o anúncio de que a Copa de 1986 seria na Colômbia, onde não chegou a ser realizada, trocando de sede e voltando ao México. 1986, imaginem! Quando esse ano iria chegar? Pois chegou. "Esse tempo nunca irá passar", pensava o garoto. Pois passou, e da Copa da Espanha, já passou faz 40 anos, e uma vida foi percorrida, com sonhos, anseios, expectativas, lutas, conquistas, frustrações e, no meio disso tudo, pausas para uma Copa do Mundo a cada quatro anos.
A Copa pontilha a existência de cada um de nós, oferecendo referência para fatos relevantes. Em 1970, estávamos concluindo o 5º ano do que se chamava ensino primário, hoje em dia os cinco primeiros anos do Ensino Fundamental. E, para passar ao ensino ginasial da época, o famoso Ginásio, era preciso transpor o temido exame de admissão, uma espécie de vestibular para seguir em frente. É..., assim era em 1970. Peguei a última turma a transpor o exame de admissão. Já 1974 surpreendeu-me na pré-adolescência, e 1978, trocando de cidade, deixando Alegrete para prestar o vestibular para a faculdade de Engenharia em Santa Maria. Um novo mundo, um novo universo. E assim por diante.
Como nos ensinou brilhantemente Cazuza, e descobri logo, logo, "o tempo não para". E as Copas chegam, uma após a outra. E os dias parecem ser vividos "de par em par", e os anos passam, e uma vida se vive.
Que venha a Copa de 2026 nos Estados Unidos, México e Canadá. Em 2030, a Copa do Mundo faz 100 anos. O tempo passa, o tempo voa...
* Durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Qatar, são 14 Copas.