Quem ama o futebol deve torcer pela Argentina nesta final de Copa do Mundo contra a França. Que final! A melhor que a Copa poderia encontrar. São as melhores seleções, os resultados mostram, e a qualidade do futebol apresentado também. Talvez só a Inglaterra pudesse rivalizar com França e Argentina, mas os ingleses seguem em crescimento e toparam com a França pela frente. E ainda possuem, França e Argentina, Mbappé e Messi, gênios da bola
Que me perdoe Mbappé, mas quem ama o futebol torce pela Argentina, entre outras justificativas, por causa de Lionel Messi. Kylian Mbappé rivaliza com Messi na magia, no encantamento, na arte. Mas Mbappé ainda tem muito tempo. Tem pelo menos mais três Copas pela frente. E ele nem precisa de tempo, ele já é realidade, já foi campeão do mundo, já tem 10 gols marcados em Copa e vai transformar em pó o recorde do alemão Klose de mais gols marcados na competição. O alemão fez 16. Então Mbappé e os franceses podem esperar e render homenagem a um dos maiores jogadores de futebol que o mundo já viu. Mas que sempre vacilou em Copas. Um jogador que, inicialmente, parece não tinha sintonia com a seleção de seu país. Era um Messi no Barcelona, outro na seleção argentina.
Na Copa de 2014, no Brasil, Messi teve a bola do jogo na decisão contra a Alemanhã, mas vacilou, e a Argentina perdeu o título. Parecia faltar alguma coisa para Messi no momento decisivo, e isso era uma incompletude comprometedora para a pretensão de não faltar nada na carreira. Agora Messi tem a chance, a última, a derradeira. Pela sua carreira, pela sua genialidade, ele merece. Portanto, para quem ama o futebol, torcer para a Argentina, torcer para Messi se impõe, em nome de fazer justiça a quem faz por merecer.
Feito esse diagnóstico, descrito esse cenário, não tenho dúvida: Messi será campeão. Ainda que a França seja um time muito forte, capaz de se impor em qualquer condição, Messi campeão é uma imposição diante da qual os deuses do futebil terão de se curvar. Não tenho muito apreço pelos deuses do futebol. Quando eles encasquetam que um time vai ser rebaixado no Brasileirão, não tem jeito, não adianta espernear. A sentença está dada, e todas as tentativas de reversão darão errado. Quando os deuses decidem que a bola não vai entrar, não adianta. Certamente cada um de nós já teve a sensação, em algum jogo qualquer, de que um time pode tentar fazer um gol a semana inteira, que a bola não vai entrar. Bate na trave, o zagueiro tira em cima da linha, o centroavante erra o gol inacreditável. Obra dos deuses do futebol. Então, quando os deuses do futebol se arvoram a decidir, está decidido, assim será. Pois eles têm a chance de se redimir nesta final de Copa, abrindo espaço para a coroação de Messi. Para que o mundo da bola reverencie Messi, com toda a justiça. Messi já fez muito pelo futebol.
Da minha parte, já revelei aqui: tenho um pé na Argentina, vim ao mundo a 140 quilômetros do território argentino, tenho enorme apreço pela cultura, pelo povo, pelo cenário argentino. Torço veladamente pelos argentinos sempre que posso. Não haverá dificuldade alguma em torcer pela Argentina, pelo contrário. Também simpatizo com a França, mas Mbappé e os franceses vêm cheios de títulos recentes, e podem esperar. É hora de os deuses do futebol se renderem a Messi. E fazer justiça.
* Durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Catar, são 14 Copas.