Formou-se uma parceria de sucesso entre Alegrete e Caxias do Sul. Alegrete é a terra natal do colunista. Caxias do Sul é a cidade que abraçou o colunista, chegando ao ponto de conceder-lhe, com irrestrita generosidade da Câmara de Vereadores, o título de Cidadão Caxiense. Para chegar até a parceria que vou contar, volto no tempo para relatar uma breve passagem, há mais de 50 anos.
Era final dos Anos 60, quem sabe 1968. Devia ter uns sete anos. Naquele tempo, mesmo em uma cidade pequena e distante, a 500 quilômetros da Capital, a vida já era um tanto corrida. Era buscado por minha mãe, servidora pública estadual, e por meu pai, servidor público federal, à saída das aulas ao final de cada manhã, no sempre lembrado Grupo Escolar Demétrio Ribeiro, uma escola estadual. Não havia tempo para fazer o almoço, que se infiltrava na rotina corrida desde então, e a saída encontrada pelos pais funcionários públicos era pegar comida de vianda.
Pausa no meio do caminho, portanto, para abastecer a vianda na conhecida Vó Amélia, que fornecia refeições na Praça Nova, um agradável logradouro público de Alegrete, até hoje com árvores generosas que garantem uma abençoada sombra nos dias quentes de verão. Havia uma fila de gente esperando por sua vianda no pátio da casa, fregueses da Vó Amélia, e por ali perambulavam os netinhos dela, crianças com idades próximas da minha, que ficavam chutando uma bola pelo pátio. Logo me enturmei com eles e ficávamos fazendo acrobacias com a bola, até a vianda ficar pronta. Um dos netinhos de Vó Amélia, o mais velho, chamava-se Zezinho, o outro, uns dois anos mais novo que eu, era o Clebinho, ambos filhos da cabeleireira Preta, que tinha um instituto de beleza na Waldemar Masson, e o Xavier, que tinha o restaurante Xavier na Vasco Alves. Pois bem, ficava chutando bola com o Clebinho no pátio da casa da Vó Amélia enquanto a vianda não vinha.
Cidade pequena, você acompanha a trajetória dos conhecidos até certo tempo, nos tempos de colégio, lembra de boa parte dos colegas e amiguinhos da época. Até que cada um de nós segue seu rumo e nos afastamos, perdendo-se os rastros. Não raro, se perdem no tempo e na memória. Seria também o caso de Clebinho, não fosse ter sido ele resgatado por um certo Adenor Bachi, mais conhecido por Tite, ao firmar parceria nos tempos de Grêmio, em 2001, com Cléber Xavier, para mim simplesmente o Clebinho, que provavelmente nem se lembrará mais dessa história. Eis a parceria de sucesso entre Alegrete e Caxias.
Tite e Cléber Xavier têm pela frente a empreitada da Copa do Catar. Estão na Copa do Mundo. Todo sucesso a eles. Em especial ao Clebinho, com quem "batia uma bola" quando criança no Alegrete, no pátio da casa da Vó Amélia, onde o pai e a mãe paravam para pegar comida de vianda na Praça Nova. Que venha mais uma Copa.
* A partir deste sábado (19/11), e durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Catar, já são 14 Copas.