Encerrada a alta-temporada em Gramado e Canela durante o Natal Luz, várias reportagens falavam da queda no número de turistas e, consequentemente, na arrecadação da Região das Hortênsias. Entre as causas apontadas, uma das mais citadas foi a ausência da classe média nos hotéis, pousadas, restaurantes e eventos. O motivo? Preços elevados, alguns realmente fora da realidade da maioria das famílias brasileiras, tanto nos ingressos para os espetáculos de Natal e outras atrações, quanto nas diárias do setor de hotelaria e restaurantes.
Convenhamos que um casal com dois filhos não consegue frequentar Gramado gastando menos de R$ 1 mil por dia. Na verdade, hotéis nem tão badalados ou luxuosos estavam cobrando cerca de R$ 800 por noite. Para efeitos de comparação, é o mesmo valor de uma diária para até quatro pessoas no hotel Pop Century do Walt Disney Resorts em Orlando, ou de uma cabine num dos imponentes cruzeiros que estão navegando pela costa brasileira. Então, o que isso está nos dizendo a respeito dos rumos que o turismo aqui na Serra Gaúcha está tomando? Não é mera ganância nem erro de cálculo, é uma guinada proposital e alinhada com a sofisticação do chamado “turismo de montanha”.
Acredito que a experiência da Serra Catarinense – com suas pousadas e resorts estilo lodge, além das belas vinícolas e seus incomparáveis vinhos de altitude – possa nos dar uma pista do que vem por aí. Talvez inspirados por outros famosos refúgios de montanha ao redor do mundo, seja nos Alpes da Europa ou nas Montanhas Rochosas nos EUA, a tendência é cobrar o que o local realmente vale e poder bancar o alto preço de se manter uma estrutura compatível com aconchego, conforto térmico, acessibilidade, boa gastronomia, segurança, entre outros. Cá entre nós: quem consegue pagar por isso? Gente rica. Por isso, assim que começaram a anunciar pousadas e cabanas e resorts nos planaltos de Santa Catarina – por exemplo, basta observar toda a estrutura criada junto à famosa Serra do Rio do Rastro – , o preço das diárias passava de um salário mínimo já na abertura do empreendimento. Ou seja, determinou-se de início um padrão para frequentadores e turistas que não se afetam pela instabilidade econômica, mirando principalmente no chamado público “Triple A”.
Só ficou surpreso que Gisele Bündchen trouxe a família inteira para passar o final de ano aqui no Rio Grande do Sul, mais especificamente na Região das Hortênsias, quem não estava prestando atenção na gradual transformação de Gramado e Canela – além de São Francisco de Paula e Cambará do Sul – em destinos cada vez mais sofisticados. Observem o tipo de empreendimento que está sendo construído e o tipo de investidores que a região vem atraindo. E não é à toa: a exuberância da nossa natureza e das nossas paisagens realmente tem um altíssimo valor em tempos de ecoturismo sustentável. Mas tudo isso também acaba tendo um alto custo. Vamos acompanhando atentos ao desenrolar dos fatos.