Dias atrás estava assistindo ao Galpão Crioulo e ouvi um depoimento de Neto Fagundes sobre como ele e a família Fagundes costumam encarar o mês de dezembro. Em vez de ficarem pensando que é o final do ano, que algo está terminando e pensando apenas no que passou nos meses anteriores, preferem olhar para o futuro. Enxergam no último mês do ano uma oportunidade de preparação para o ano que virá.
Achei essa mudança de perspectiva uma bela lição de otimismo e de esperança, um jeito de tornar mais leve a passagem do tempo. São incontáveis as pessoas que chegam a dezembro numa correria insana para tentar dar conta do que não foi possível fazer antes. Tratam suas próprias vidas como se fosse o final de expediente ou final de mês de uma empresa ou de um escritório em que metas devem ser batidas, caixa deve ser fechado, pedidos atendidos, pendências zeradas. Sinceramente, fico com pena de quem transforma o mês de dezembro numa planilha de Excel.
Portanto, para tudo ser mais leve, a primeira coisa a fazer é lidar com esse falso sentimento de que tempo está acabando, de que há algum tipo de contagem regressiva até o zero minuto em que suas chances de fazer melhor e de fazer diferente estão acabadas. Obviamente não estão. Depois que 2024 terminar e um novo calendário começar, teremos mais uma temporada para viver.
Acredito que grande parte dessa correria e desse estresse todo que acomete muita gente em dezembro nada mais é do que algum tipo de frustração ou de decepção consigo mesmo. E isso não só é comum e normal, mas é perfeitamente aceitável diante da nossa condição humana. Perfeição não existe, expectativas são criadas, mas nem sempre se tornam realidade. Planos são alterados e mudanças acontecem justamente porque o tempo simplesmente ignora a organização numérica que a humanidade determinou: ele apenas continua enquanto a Terra girar em torno de si e em torno do sol, e o Universo seguir em expansão dentro do seu infinito.
Essa última semana de dezembro pode ser diferente se a usarmos como um tempo de preparação em vez de lamentação ou de euforia exagerada e descabida. Os erros e acertos de 2024 devem servir como aprendizados. O futuro está sempre acontecendo, não só na virada do ano, por mais simbólica que seja a troca na folhinha para janeiro de 2025.
O filósofo grego estoico Epíteto deixou um ensinamento para a posteridade. Segundo ele, a primeira coisa que todo indivíduo deve fazer é dizer a si mesmo quem gostaria de ser; e depois fazer tudo o que estiver ao seu alcance para se tornar essa pessoa. Então, agora é tempo de refletir e de se preparar para, aos poucos, mas consistente e constantemente, tornar sua visão de futuro uma realidade.
Um Feliz Natal a todos, que o nascimento de Jesus — ele próprio um dos grandes filósofos da história da humanidade — nos inspire e nos traga bondade, solidariedade, ética, compaixão e resiliência para dentro dos nossos corações.