As baladas para o público 40+ se tornaram um mercado bastante lucrativo, e não é à toa: há sim uma demanda reprimida por festas que comecem cedo e que tenham boa música. Nessas festas que nos anos 1980 e 1990 a gente chamava de “ir pra o som” ou “ir para a boate” — ninguém falava “balada” décadas atrás — só tocava rock e música eletrônica de extrema qualidade. Muitos jovens de hoje se conformaram com música ruim regada a muita bebida e letras toscas monotemáticas sobre traição, bebedeira e promiscuidade. No fundo, dá pena.
Só que esse retorno saudoso aos tempos de outrora não é exatamente só por causa de música ruim, obviamente. É mais um sintoma do que eu identifico como nostalgia reconfortante. Estudiosos do comportamento humano sempre se dedicaram a observar como esse sentimento nostálgico surge, quais as causas disso e, principalmente, quais as consequências. Embora muitos pensem que a nostalgia se trata de um sentimento comum a todos nós, geralmente inofensivo e passageiro, também pode ser um indício do quanto a realidade está machucando as pessoas em diferentes graus.
O que mais tem me espantado nos últimos tempos é que não só a minha geração, que nasceu entre 1965 e 1980, tem sido acometida por um forte sentimento de nostalgia. Conversando com jovens e adolescentes, vira e mexe o papo cai em temas como “o que eu assistia no Disney Channel quando era criança” ou “lembra dos Backyardigans”, ou ainda recordações das tardes passadas com os avós, das brincadeiras no pátio da escolinha e joguinhos eletrônicos rudimentares de uma era em que os smartphones não eram tão smart nem tão onipresentes. É realmente intrigante que pessoas com menos de 16 anos sejam tomadas por sentimentos nostálgicos.
A nostalgia tem um aspecto obscuro de descolamento da realidade, seja a realidade presente ou passada. Geralmente, há uma saudade de um passado idealizado — e, portanto, irreal — para servir de contraponto a um tempo presente carregado de incerteza, de sentimento de perda, de inconstância, de dor e de decepção. É inegável que desde a pandemia, que aconteceu há longos e inacreditáveis cinco anos, não só nos jovens, mas em todos nós, criou-se uma sensação de que ali adiante podemos ser surpreendidos por algo trágico e em escala assustadora.
O maior problema da nostalgia a meu ver é gerar certa paralisia: quando o apego ao passado é exagerado, quando se torna uma fuga, nos impede de seguirmos adiante, que deveria ser o propósito número um de se viver. Lembrar com carinho de como a gente era e dos momentos felizes que vivemos é muito bom, é saudável até, mas cismar que só antigamente se era feliz nos impede de buscar novas experiências e de conhecer outras formas de sorrir.
A nostalgia deve ser aquele conforto ocasional, mas não pode jamais ser um estilo de vida. O futuro também pode ser bom, basta lembrar que o que se viveu de bom no passado também já tinha sido um futuro sonhado em algum momento das nossas vidas.