Os debates sobre os malefícios das redes sociais e a necessidade de regulamentação da internet (ou censura, dependendo do ponto de vista) andam acalorados. Fala-se muito em fake news, influencers tóxicos, exploração comercial dos nossos dados sem o devido consentimento, superficialidade das interações, cyberbullying e vício em jogos e apostas online. É uma pena que se fale muito pouco das coisas boas que a internet nos proporciona e de como esta tecnologia tem sido importante para aproximar pessoas com interesses comuns e diminuir aquela sensação de se estar sozinho numa multidão.
Certo dia me deparei com o curioso caso dos busólogos. Andei de ônibus minha vida inteira entre São Marcos e Caxias do Sul, passei milhares de vezes em frente à Marcopolo, a maior fabricante de ônibus da América Latina, mas nunca tinha ouvido falar até semana passada de um hobby chamado “Busologia”. Esse termo é usado para denominar a atividade do estudo do ônibus e de tudo que for relacionado a esse meio de transporte, sejam empresas operadoras de rotas, fabricantes, motores, carrocerias, acabamentos, pinturas, e muito mais.
Descobri por acaso a existência de um grupo no Facebook que reúne busólogos do Brasil inteiro. Lá compartilham fotos, vídeos, desenhos e miniaturas de ônibus urbanos, intermunicipais e interestaduais. É um hobby singelo que só requer um celular com câmera e acesso a uma rede social para postar as “coleções” de diferentes tipos de ônibus fotografados nas ruas e nas estradas desse Brasil imenso.
Talvez alguém esteja pensando: “Qual é a graça de fotografar e conversar sobre ônibus?”. A questão a ser feita não é exatamente essa. O que precisamos entender é quais são os benefícios de se ter um hobby, um passatempo, seja ele qual for. Isso nos leva a socializar com outras pessoas que compartilham do mesmo interesse, e as redes sociais amplificam o alcance para achar quem tem uma visão de mundo parecida e sente aquela mesma empolgação por uma coisa muito legal.
Ter um hobby, e principalmente dividir essa experiência com outras pessoas, nos permite tirar um pouco o peso das coisas sérias demais e nos dedicarmos a algo que parece uma extensão das brincadeiras da infância.
Não sei se há busólogos aqui na Serra gaúcha, eu mesma entrei há pouco num desses grupos de busologia do Facebook. Por quê? Porque é fascinante ver como cada ônibus — um veículo tão universal — ganha uma cor local dependendo da cidade ou região onde circula. Além disso, com a chegada dos ônibus elétricos, o transporte coletivo — algo extremamente importante na história da humanidade — inaugura uma nova era, e está sendo interessante acompanhar essa evolução.
E, cá entre nós, quem não tem uma boa história de ônibus para contar? Que bom que as redes sociais ainda servem para o que se prestavam em sua origem: socializar. Espero que não tentem nos tirar isso só porque há quem utilize o meio de má fé. Que se usem as leis já existentes para punir os criminosos, e basta.