Nesta quinta-feira, dia 21 de novembro, acontece a 5ª edição do evento Crie o Impossível no Estádio Beira-Rio, com o lindo tema Onde há chance para educação, há chance para o recomeço. É um seminário com o objetivo de inspirar alunos do Ensino Médio de escolas públicas a acreditarem em si e a investirem no seu potencial, mesmo diante das inúmeras adversidades.
E o que Machado de Assis tem a ver com isso? Explico: o maior escritor brasileiro superou barreiras intransponíveis em sua época para se tornar um dos melhores escritores da literatura ocidental. Inúmeras biografias ressaltam que Joaquim Maria Machado de Assis conviveu na infância e na juventude com três grandes dificuldades potencializadas pelos preconceitos arraigados no Brasil do século 19: a pobreza, a cor e a epilepsia.
Era filho do brasileiro Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravizados alforriados, e da mãe Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira portuguesa oriunda dos Açores, que faleceu quando ele era ainda criança. Sua infância foi marcada pela simplicidade e pela luta do pai para superar as dificuldades financeiras. Autodidata, teve acesso à educação graças aos livros que lia (em vários idiomas) e à sua carreira como tipógrafo numa gráfica, sempre próximo a jornais e folhetins.
Machado de Assis era um descendente de escravos africanos que, antes mesmo da assinatura da Lei Áurea, em 1888, publicou seus primeiros contos, crônicas e livros — entre eles Ressurreição (1872), e Helena (1876) — e uma de suas obras-primas — Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Nos anos seguintes, lançou talvez seu maior best-seller, por assim dizer — Dom Casmurro (1899) — e foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Infelizmente, com o protagonismo veio também um cruel apagamento de sua verdadeira identidade e das suas origens. Em artigo publicado nos anais do VI Seminário do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira, em agosto de 2020, a pesquisadora Raquel Campos explica como houve um processo de “embranquecimento” do autor, quando até mesmo suas poucas fotografias o retratavam artificialmente com a pele mais clara.
Quem será que se incomodava com o fato de um dos maiores intelectuais brasileiros da época ser negro? Certamente, não sua noiva, a inteligentíssima Carolina Xavier de Novais (1835-1904), que afirmou numa carta que iria se casar com “um homem de cor”. Porém, na certidão de óbito, de 1908, Machado de Assis consta como “branco”, uma última violência contra sua identidade e suas origens.
Felizmente, desde meados do século 20, tem havido o devido resgate da identidade de Machado de Assis e da superação diante do preconceito para apresentá-lo hoje, já traduzido para vários países, como um dos maiores escritores negros da história da literatura mundial. Machado criou o que parecia impossível em sua época, sem dúvida uma inspiração incontestável na data em que se celebra o Dia da Consciência Negra.