Como uma ideia inicialmente impensável acaba se tornando uma política pública ou até mesmo uma lei? Por muitos anos, esse foi o objeto de estudo de Joseph P. Overton (1960-2003), pesquisador e advogado norte-americano, conhecido por seu trabalho no campo das políticas públicas. Overton atuou como vice-presidente do Mackinac Center for Public Policy, instituto de pesquisa de Michigan, Estados Unidos que hoje é um dos principais think tanks do mundo.
A propósito, esse termo é meio difícil de traduzir para o português: literalmente, seria “tanques de pensamento”, um laboratório de ideias. Um think tank é uma organização dedicada a realizar pesquisas, análises e propostas de políticas públicas em diversas áreas, como economia, segurança, educação, saúde e meio- ambiente. Reúne especialistas, acadêmicos, cientistas e pesquisadores que desenvolvem relatórios a fim de promover debates sobre temas relevantes para a sociedade e influenciar políticas governamentais. É importante observar que esses think tanks podem ter diferentes orientações ideológicas ou ser independentes (o que seria o ideal no mundo de hoje), e frequentemente formam parcerias com governos, empresas e ONGs.
Pois foi num desses institutos independentes que Joseph Overton apresentou sua teoria que descreve o espectro de ideias politicamente aceitáveis num determinado momento da história (ou zeitgeist, o “espírito da época”). A “Janela de Overton” seria o centro de uma linha horizontal que vai do progressismo extremo ao conservadorismo extremo. A escala de uma ideia e o modo como ela é percebida pela população vai de impensável, quando é vista como fora dos limites do aceitável, para depois passar a ser vista como radical, quando a ideia ainda é rejeitada, mas começa a ser discutida por grupos específicos, ou “bolhas”.
O próximo passo, segundo Overton, é quando uma ideia se torna aceitável, ou seja, começa a ser debatida objetivamente (reforço aqui o “objetivamente”) sem grande rejeição. Esse é o último estágio para que uma ideia passe a ser entendida pela população como que seja sensato e considerado razoável e até mesmo viável. Neste momento, ganha apoio popular e se torna uma política pública, uma lei, uma regra. Vamos tomar como exemplo o divórcio: há dois séculos, era algo considerado totalmente impensável no espectro mais limítrofe do conservadorismo. Com o tempo, passou a ser discutido e debatido dentro do campo do bom senso e da lógica, e hoje é uma prática legal nos registros civis, até mesmo tolerada entre religiões que antes abominavam o fim de um casamento.
Há vários temas extremamente controversos que, neste exato momento, transitam pela Janela de Overton e são estudados a fundo pelos think tanks: eutanásia, liberação da maconha, aborto, porte civil de armas de fogo, adoção de linguagem neutra, homeschooling, voto não-obrigatório. Se levarmos em conta a teoria de Joseph Overton, é possível perceber claramente que se trata de debates muito, mas muito mais complexos do que a dicotomia anacrônica e limitante de “esquerda x direita”. Onde você coloca cada um desses temas na Janela? Impensável? Radical? Aceitável? Sensato? É um ótimo exercício de autoconhecimento.