Provavelmente, trata-se de uma memória afetiva que se fundiu com a minha alma ainda na infância: como moradora de uma cidade pequena vizinha, nos anos 1980 ir para Caxias do Sul sempre era um evento. Meus pais levavam minha irmã e eu para fazermos compras de material escolar numa livraria tradicional da Júlio de Castilhos, ver as vitrines de duas ou três lojas renomadas (só uma delas permanece lá, tão deslumbrante e ainda mais bonita hoje em seu prédio histórico centenário). Nós almoçávamos numa galeteria perto da Igreja de Lourdes, jantávamos bauru perto da Igreja de São Pelegrino, e também íamos ao cinema (sim, havia uma sala de cinema enorme ali junto à Praça Dante Alighieri: foi lá que vi ET – O Extraterrestre em 1982).
Na adolescência, nos anos 1990, eu fiz o antigo Segundo Grau no Colégio Nossa Senhora do Carmo, ali na 18 do Forte, atrás da Catedral. Acho que nessa época fiquei ainda mais apaixonada pelo centro da cidade: as idas até a saudosa Piff Discos na Galeria, os passeios pelo calçadão e as compras nas bancas de revista, a novidade dos buffets de cachorro-quente e de sorvete, as longas conversas na parada de ônibus, de olho no relógio do Eberle para não perder a hora (não tínhamos celular, jovens, e nem todo mundo usava relógio de pulso).
O centro de Caxias do Sul, para mim, sempre foi um lugar incrível, mágico. Aliás, toda a faixa que liga o Bairro Nossa Senhora de Lourdes ao Bairro São Pelegrino, mas principalmente ali no entorno da Praça Dante. Sou completamente fascinada pelos prédios históricos, pelas pessoas que circulam por ali e suas jornadas plurais, múltiplos caminhos que se desdobram e que se cruzam. Não sei se os caxienses se dão conta do quanto são lindas a praça Dante e a Catedral, de como o Parque dos Macaquinhos é convidativo e bem localizado, enfim, do tanto que o centro tem a oferecer para abrigar o abraço e o cuidado que merece por parte de seus frequentadores. Toda vez que passo no Pátio Eberle e leio “Eu Amo o Centro”, penso que já estava mais do que na hora de valorizarmos, honrarmos e aproveitarmos tudo o que o centro de Caxias tem a oferecer.
Por isso, sinceramente, não consigo entender qual é a polêmica sobre trazer o Mississippi Delta Blues Festival para a rua Marques do Herval, no entorno do Clube Juvenil. Isso deveria ser elogiado e apoiado por todos os caxienses como um marco da revitalização do centro da cidade. Mas, acreditem, há quem reclame que o “trânsito vai ser fechado”. Que pequenez de pensamento é esta?
Garibaldi tem um evento que ocupa todo o centro da cidade chamado Garibaldi Vintage e celebra o passado para incentivar seus cidadãos a reforçar os laços afetivos com o lugar onde vivem no presente (além de ser um grande case de sucesso no turismo). Foi sem dúvida uma das inspirações para trazer o MDBF para o coração de Caxias. Revitalizar não é só reformar fachadas: é dar vida a um lugar. Apoie.