Os sinais mais notórios da maturidade não têm necessariamente a ver com anos de vida nem rugas no rosto, mas com marcos de crescimento emocional e intelectual. Um desses sinais é perder o rancor. Como muita gente – todos nós, creio eu – no ano que passou recebi doses a conta-gotas de calúnia, difamação, desrespeito, negligência, injustiça, ameaça, ingratidão, incompreensão. Resumindo, fui alvo de maldades, grandes e pequenas.
E agora? O que fazer com quem agiu de forma muito, mas muito errada comigo?
Como boa estoica que tento ser, sigo uma das regras máximas do estoicismo: foque no que está sob seu controle. Não tenho controle algum sobre o mau-caratismo, o recalque, a burrice perversa, a falta de discernimento dos outros, mas posso controlar totalmente minha resposta e as minhas reações a tudo isso. Eu não preciso de forma alguma partir para algum tipo de revide ou de vingança, porque, convenhamos, a realidade dos fatos e a harmonia acabam prevalecendo, mesmo que demore. Se não fosse assim, a civilização como um todo já teria colapsado há séculos. As boas intenções acabam se sobrepondo às más intenções porque é isso que permite o progresso, o desenvolvimento e a paz.
Contudo, se controlar racionalmente as atitudes até pode parecer simples e fácil, pois requer disciplina e lógica, o campo nas emoções é um terreno muito mais complicado para trilhar. Diante de uma pessoa que te faz mal e te escolhe de alvo para maledicência pelos motivos mais inexplicáveis e bizarros, como não sentir rancor? Como não se decepcionar e se desesperar na iminência de ter que sofrer as consequências da inconsequência dos outros?
A primeira atitude, por mais contraditória que seja, é agradecer que tal situação tenha acontecido. Há um lema do estoicismo que diz amor fati, ou seja, “ame seu destino”. Juro que esse, para mim, sempre foi um dos ensinamentos mais árduos para seguir, mas hoje entendo o que há por trás dele: se fosse para ser diferente, teria sido diferente. Se aconteceu dessa forma, é porque minhas escolhas e minha visão de mundo me trouxeram a este momento específico. Mas, principalmente, na minha fé, mesmo os menores desentendimentos e os menores contratempos são uma forma de Deus me mostrar como as pessoas realmente se sentem com relação a mim.
Por isso não vale a pena guardar rancor, mas tomar a segunda atitude diante de uma decepção: perdoar e seguir em frente. O perdão é praticamente um “deixar pra lá” e torcer para que quem me fez mal encontre a paz em algum momento. Como dizem, “gente feliz não enche o saco”. Não tenham dúvidas de que quem vive arrumando treta e culpando o mundo pelos seus infortúnios nada mais é do que uma pessoa com uma carga de sofrimento interior muito pesada e aflitiva.
Obviamente, não sou obrigada a conviver com quem me fez mal. De mim terá talvez gentileza e educação, um “tenha um bom dia”. Só que à minha mesa, essa pessoa não senta nunca mais.