Todo mundo conhece a expressão “galinha dos ovos de ouro”, que surgiu de uma história contada há muitos séculos na Europa Medieval e hoje conhecida mundialmente como uma lição de moral sobre ganância. O conto fala de um casal de camponeses que estava sempre insatisfeito com a vida e nunca se contentava com nada. Mesmo vivendo numa bonita propriedade rural, numa casinha simples mas confortável, com bastante água, comida, saúde e paz, o dono da terra e sua esposa acreditavam que só seriam realmente felizes se tivessem muito ouro para ostentar na aldeia. Um duende decidiu então testar a índole dos dois: os presenteou com uma galinha que colocaria “um ovo de ouro por dia”. Mas fez um alerta: “É preciso esperar um dia inteiro até que a galinha lhes dê outro ovo de ouro”.
Impacientes para obter mais riqueza e mais rapidamente, decidiram matar a galinha para retirar todos os ovos de ouro que haviam dentro dela sem ter que esperar 24 horas. Para surpresa deles, não havia ovo nenhum. Por imediatismo, ganância e burrice, mataram sua fonte de riqueza e acabaram com as chances de melhorar de vida aos poucos, mas constantemente e para sempre.
Esse conto da sabedoria popular transmitido de geração para geração é a ilustração perfeita do momento que vive o turismo aqui no Sul do Brasil, principalmente no litoral catarinense. O caso da contaminação por coliformes fecais – esgoto podre e não tratado – em praticamente todas as praias mais badaladas de Santa Catarina não só é um escândalo, mas um atentado à saúde pública. Nos meses de dezembro a fevereiro, o lindíssimo litoral catarinense sempre sofre com os estragos gerados pelo turismo predatório e pela urbanização desordenada e caótica. Ninguém parece realmente agir para reverter isso. De que adianta o alargamento da faixa de areia ao custo de milhões de reais em Balneário Camboriú para que os banhistas mergulhem num caldo poluto e insalubre? Que turista vai voltar a Florianópolis – destino caro e badalado – se acabou tendo que passar seus dias de férias fazendo soro num hospital por causa de um surto de diarreia? Além disso, as chuvas incessantes na virada do ano transformaram o trânsito entre as praias e na descida das serras num inferno: deslizamentos, engarrafamentos, acidentes, um pesadelo sem fim.
No litoral catarinense, estamos quase chegando ao que os cientistas chamam de “ponto de não retorno”: um estágio tão devastador de depredação da natureza que ela se tornará irrecuperável. O turismo massificado, sem planejamento, sem investimentos em infraestrutura e sustentabilidade simplesmente só não matou ainda nossa galinha dos ovos de ouro porque ela se encontra na UTI. Providências precisam ser tomadas com urgência, não só por parte do setor público, mas também pelo setor privado, que precisa deter suas tendências autodestrutivas. (Vou falar mais sobre isso semana que vem com foco na Serra Gaúcha, aguardem.)