O número de motoristas de Passo Fundo que precisam usar óculos ou lentes de contato para dirigir é o maior desde 2014: pelo menos 29,4% dos condutores que fizeram a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na cidade precisam usar lentes para dirigir.
Em 2014, o índice era de 25,1%, conforme o Detran (veja no gráfico abaixo). A informação tem como base os dados enviados pelo DetranRS à reportagem de GZH Passo Fundo.
Os índices são reflexo de pesquisa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que apontou um aumento de 77% na necessidade de lentes na direção de veículos nos últimos 10 anos.
Em 2014, a anotação "A" existia em cerca de 14 milhões de carteiras nacionais de habilitação (CNH). Hoje o número passa dos 25 milhões. No Rio Grande do Sul, 27,7% condutores têm a restrição.
Em Passo Fundo, chama a atenção que a exigência por lentes cresceu em todas as faixas etárias. Entre aqueles que fazem a primeira CNH, aos 18 anos, o número saltou 79% de 2014 até agosto de 2024. Na faixa dos 21 aos 25 anos, o aumento foi de 50%: eram 1.348 em 2014 e são 2.022 até agosto de 2024.
A maior variação foi em motoristas de 41 a 45 anos, na qual o número de condutores que precisam usar lentes para dirigir subiu 85,4%, de 1.533 para 2.976. Quem menos precisou de óculos nos últimos 10 anos foram os condutores de 51 a 55 anos, com aumento de 14,1%.
Quem trabalha nos Centros de Formação de Condutores (CFC) da cidade percebe a diferença na prática.
— Muitos vêm, fazem o exame e depois retornam para refazer porque começaram a utilizar óculos. Isso está sendo muito recorrente — relatou o diretor-geral de um CFC de Passo Fundo, Antônio Carlos dos Santos.
— Nossos médicos peritos relataram que houve um aumento no número de clientes que precisam utilizar lentes. Por isso, eles orientam sempre fazer uma avaliação prévia com oftalmologista para verificar o grau ocular e depois procurar o CFC para avaliação da CNH — disse Sheila Bolzan, diretora-geral de outro CFC.
Reflexo de mudanças sociais, diz oftalmologista
Conforme o médico oftalmologista do Hospital de Olhos Lions de Passo Fundo, Enrique Chami, os números refletem a sociedade como um todo, desde o envelhecimento da população, o acesso precoce às telas até o aumento do rastreio de doenças oculares.
— Taxas mais altas de envelhecimento levam a uma incidência maior de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade, que têm repercussões oculares. Já nos mais jovens, o uso indiscriminado de celulares e tablets na infância e adolescência tem relação comprovada com o aumento dos casos de miopia — explicou.
Quem precisar usar lentes de contato ou óculos, por sua vez, vê como a peça é essencial na direção. É o caso do aposentado passo-fundense Eliseu Pinto Prestes, 74 anos, que usa óculos desde os 55.
Com anotação "A" na CNH, a peça é essencial não só no trânsito, mas em toda a sua rotina.
— Usar óculos me ajuda não só para dirigir, mas também a ler, mexer no celular, até caminhar. No começo eu odiava, relutei bastante, mas depois segui a recomendação médica e agora é essencial, ainda mais no trânsito — pontua.