Nos últimos 10 anos, a frota de veículos cresceu 32,5% em Passo Fundo. O número fica abaixo do aumento nacional, de 35% entre 2013 e 2023, mas representa um aumento expressivo no contexto municipal. Conforme estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran-RS), hoje Passo Fundo tem 143.656 veículos para 206 mil habitantes. Em 2013, eram 108.385.
Na prática, 35.271 veículos novos passaram a transitar na cidade em 10 anos, uma média de 3,52 mil por ano. A taxa de crescimento, de 32,5%, foi significativamente maior que o avanço no número de habitantes do município, que aumentou 5,3% na última década.
Nesse contexto, a maioria dos condutores possui CNH categoria B. Os motoristas habilitados para conduzir carros equivalem a 84,34% do total, somados os habilitados na categoria AB.
Conforme a professora de Direito e membro do Programa UniverCidade Educadora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Daniela Santos, as políticas de incentivo à indústria automobilística têm sido um dos fatores do aumento exponencial da frota de veículos.
— Além dessas políticas de incentivo, temos outras questões como a pandemia de covid-19, que impactou a forma de deslocamento das pessoas e o aparecimento da plataformização, como Uber, 99, Garupa, além de, claro, a falta de transporte coletivo de qualidade. Enquanto esse modal não for prioridade para os gestores públicos, as pessoas irão optar pelo transporte individual — disse a pesquisadora.
Problemas crescentes
Mais veículos queimando combustível fóssil nas ruas também significa cidades mais quentes, congestionadas e com altos níveis de poluição. As consequências diretas são prejuízos à saúde e aumento no número de acidentes, explicou a pesquisadora.
— Conforme o Estudo Técnico da Confederação Nacional dos Municípios, esse aumento exacerbado da frota de veículos particulares aponta para o risco de constantes paralisações por engarrafamentos e aumento significativo dos acidentes, poluição ambiental e problemas gravíssimos de saúde, como estresse, doenças respiratórias e câncer de pulmões.
As cidades brasileiras andam na contramão de inovações implementadas em países desenvolvidos, como Itália, Espanha e Alemanha, que priorizam o transporte sustentável e criam restrição de horário e local para carros, por exemplo.
A Noruega, por outro lado, lançou incentivos à população para a aquisição de veículos elétricos, o que reduz a emissão de dióxido de carbono, o principal gás poluente responsável pelo efeito estufa.
— As gestões municipais precisam romper com a lógica da cidade para os carros. E não estou demonizando o automóvel, pelo contrário, penso ser uma alternativa necessária, mas precisamos pensar o uso desse modal de forma mais consciente e responsável, uma vez que impacta o meio ambiente e consequentemente a qualidade de vida das pessoas — conclui.