Influenciados, em grande parte, pelas redes sociais, jovens têm procurado cada vez mais cedo por procedimentos estéticos. Em Passo Fundo, no norte gaúcho, clínicas dermatológicas e estéticas registram o interesse de adolescentes entre 12 e 18 anos por intervenções como preenchimento labial, rinomodelação (procedimento no nariz) e otomodelação (nas orelhas).
Na clínica da dermatologista Lara Tusset, o público jovem com menos de 20 anos representa cerca de 5% dos pacientes. Apesar de baixa, a porcentagem exige um olhar atencioso por parte da profissional.
— Eu sempre converso com o paciente e os pais e explico os riscos dos procedimentos. A gente sempre tem que avaliar com os pais, quando é um jovem menor de idade, se aquele procedimento se justifica, ou seja, se é algo que está incomodando muito esteticamente e está influenciando na autoestima e até em relacionamentos pessoais do jovem — explica.
Entre os casos mais jovens que atendeu, a médica relata sobre uma paciente de 12 anos que chegou com queixas sobre o formato do nariz no consultório. Outras, na faixa dos 16 anos, também queriam fazer preenchimento labial e nasal.
— Fora dessas circunstâncias, onde a pessoa não tem uma queixa específica, a gente sempre orienta entre os 25 e 30 anos iniciar com os procedimentos com o objetivo de preservação da beleza, não de transformação — disse.
Autorização dos pais
Para a realização dos procedimentos estéticos em caso de jovens menores de idade, Lara afirma que solicita a assinatura dos pais em um termo de consentimento.
— Neste termo, nós explicamos sobre os resultados, efeitos e possíveis riscos, porque são procedimentos de risco e os pais precisam estar cientes de tudo e autorizar — disse.
A dermatologista ainda salienta sobre a importância de escolher bons profissionais. O cuidado de selecionar um serviço qualificado pode ser o diferencial entre um resultado satisfatório e complicações graves.
— Essa tendência atual de preenchimento de lábios, de transformação, tem feito os jovens a procurarem preços baixos, fazendo procedimentos em lugares não qualificados, com profissionais desqualificados, que não sabem depois tratar uma intercorrência, uma complicação — disse.
Busca pela aceitação
A adolescência é uma fase de busca por identidade e aceitação, o que pode tornar os jovens mais vulneráveis à pressão por um corpo ou rosto perfeito.
A partir das etapas de desenvolvimento do corpo humano, os adolescentes passam por mudanças nas feições e silhuetas ano após ano. Por isso, a biomédica esteta Rafaela Magrin optou por realizar procedimentos estéticos com o consentimento dos pais, somente em jovens acima de 16 anos:
— Eu, particularmente, não faço procedimentos estéticos para menores de 16 anos porque são muito jovens, ainda estão na sua adolescência, não são jovens adultos e ainda vão ocorrer muitas transformações no seu rosto. Eu acredito que é melhor esperar e ter uma escolha mais consciente.
A psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Lívia Garcez, afirma que o movimento dos jovens em busca da beleza é antigo, mas que nos últimos anos tem crescido abruptamente.
— Muitas vezes tem se perdido o limite desse movimento dos jovens. Já vi, durante os meus atendimentos, uma menina de 13 anos que faz o mesmo skincare que a mãe dela faz aos 40 anos sem ter uma indicação médica, por exemplo. Mas, como ela viu aquela blogueira falando e a amiga usando, ela entra nesse movimento do querer fazer parte de algo — conta.
O diálogo entre pais e filhos é fundamental para que o jovem compreenda os riscos associados aos procedimentos, desde possíveis complicações médicas até os impactos psicológicos de mudanças precipitadas.
— Esse diálogo precisa ser muito aberto. É importante que se analise quem o jovem está seguindo nas redes sociais e quais são os padrões de beleza que ele acompanha. Quem são esses exemplos dele. Nesta fase, é comum eles quererem distância dos pais e acabam passando mais tempo com os amigos. Por isso que orientar e supervisionar é muito importante — orienta a psicóloga.