Virou parte da rotina ver celebridades mostrando o resultado de procedimentos estéticos nas redes sociais, como a popular harmonização facial. Mas, recentemente, um movimento inverso tem ganhado destaque: a procura pela reversão dessas intervenções, também apelidada de "desarmonização facial".
A dançarina Scheila Carvalho e os influenciadores Eliezer e Gkay são exemplos de nomes que buscaram a retomada da aparência natural.
Os motivos por trás dessa decisão são diversos. Nem sempre os resultados dos procedimentos atendem as expectativas de quem os realiza. Há quem alegue ter exagerado nas aplicações para atingir um padrão de beleza, enquanto outros relatam que pararam de se reconhecer no espelho ou que perderam a autoestima. Complicações médicas e impactos na vida pessoal também são fatores.
Como desfazer a harmonização facial?
Ácido hialurônico x hialuronidase
A harmonização facial envolve um conjunto de intervenções na face. Portanto, diversos procedimentos podem ser realizados na busca da "harmonia", como os preenchimentos faciais — principalmente os de ácido hialurônico — e a aplicação de toxina botulínica, popularmente conhecida como botox.
Tanto um quanto o outro têm um tempo de duração na pele. Conforme a dermatologista Julia Ribar, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a toxina botulínica tem um efeito paralisante de dois a quatro meses, enquanto o ácido hialurônico pode ser absorvido pelo organismo em um prazo de 12 a 18 meses.
Se a pessoa não gostou dos resultados, ela pode esperar e o efeito será dissolvido com o tempo. Contudo, caso haja o desejo pela mudança imediata, estratégias podem ser acionadas com auxílio especializado.
— Quando fazemos uma harmonização ou um preenchimento facial, a ideia é usar produtos não permanentes. Se foi utilizado um ácido hialurônico, caso não agrade, tenha alguma complicação ou exagero, conseguimos reverter esse processo usando a hialuronidase. É uma substância líquida, a qual pode ser injetada em áreas que se deseja diminuir o volume — pontua Julia Ribar.
O processo pode ser dolorido, já que há o uso de agulhas. Além disso, envolve um número de sessões variável, de acordo com o local da aplicação, a quantidade, as características da substância e a marca utilizada.
Geralmente, a reversão é feita com um profissional diferente daquele que fez a primeira intervenção. Dessa forma, a médica cita a necessidade de fazer um mapeamento com exames para identificar que substância foi utilizada, onde está aplicada, em quais camadas e qual a profundidade na pele.
— É preciso saber o que pode ser retirado. Se foi utilizada, por exemplo, uma substância definitiva, como o metacril, mais conhecido como PMMA, que não tem indicação de uso atualmente, não tem como remover — exemplifica.
A dermatologista Cíntia Pessin, secretária científica da Sociedade Brasileira de Dermatologia Secção RS (SBD-RS) adiciona que a aplicação da hialuronidase deve ser utilizada somente em casos muito selecionados, uma vez que seu uso é off label, ou seja, não há indicação em bula para esse uso cosmético. Por isso, é necessária uma avaliação precisa de um especialista. A recomendação é que seja um cirurgião plástico ou um dermatologista.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de efeitos adversos. Assim como qualquer outro procedimento, a reversão do ácido hialurônico pode ter complicações.
— O uso da hialuronidase deve ser feito por médicos experientes no manejo de complicações clínicas ou inestéticas dos procedimentos, visto que apresenta risco de edema (inchaço), eritema (manchas vermelhas na pele) e até anafilaxia (reação alérgica aguda). Também pode degradar o colágeno, importante proteína de sustentação da pele, deixando o local com aspecto mais flácido — cita Cíntia Pessin.
Toxina botulínica (botox) não tem reversão
No caso da toxina botulínica, não existem substâncias capazes de dissolvê-la. Cíntia Pessin explica que isso ocorre porque ela é capaz de provocar um bloqueio parcial da musculatura nas terminações nervosas da área aplicada.
Segundo a médica, substâncias como hidroxiapatita de cálcio e ácido polilático, utilizadas preferencialmente como bioestimuladores de colágeno na pele, também não são reversíveis.
Antes de qualquer procedimento
Para a dermatologista Cíntia Pessin, há uma banalização dos procedimentos dermatológicos estéticos, com excesso de volumização na boca e nas maçãs do rosto, e uma busca por um "padrão" de mandíbula bem marcada.
— O tratamento de sucesso é aquele no qual a pessoa segue sendo ela mesma, mas aparentando estar mais bonita de uma forma elegante, sem exageros ou padronizações — declara.
Antes de qualquer intervenção, para que se evite arrependimentos e possíveis complicações, é preciso ir atrás de um profissional qualificado.
— Os procedimentos invasivos devem ser realizados por médicos por conta dos riscos envolvidos, da necessidade de diagnóstico preciso e intervenção médica imediata, da segurança do paciente e da capacidade de lidar com complicações e reações adversas de forma apropriada — acrescenta Cíntia.
A confiança também é um aspecto relevante. Nesse sentido, a médica Julia Ribar reforça a importância de alinhar as expectativas com o profissional e conhecer bem o próprio estilo.
— É uma questão de conversa e alinhamento prévio, isso é fundamental em qualquer área. Acho uma tristeza ter que passar por um processo de retirada de produtos. Realmente, às vezes falta diálogo, há uma expectativa ou a busca por um profissional que não é adequado para o que se procura — conclui.
*Produção: Carolina Dill