Por Nadja Hartmann, jornalista
O presidente do legislativo de Passo Fundo, vereador Saul Spinelli (PSB), marcou um verdadeiro gol de placa nesta terça-feira (30), em sua estratégia de transformar a Câmara em uma das principais protagonistas na defesa de pautas regionais. A Audiência Pública para debater a concessão das rodovias estaduais RS-135, RS-324 e RS-129 reuniu prefeitos, vereadores, lideranças políticas e empresariais de mais de 30 municípios da região.
Na mesa oficial, além dos prefeitos de Marau, Iura Kurtz (MDB), e de Ponte Preta, Josiel Griseli (PT), presidente da Associação dos Municípios do Alto Uruguai (AMAU), também estavam o secretário estadual de Parcerias e Concessões, Pedro Capeluppi, o assessor do governo Leite, Mateus Wesp, e o deputado federal Luciano Azevedo (PSD). O prefeito de Passo Fundo, Pedro Almeida, não se fez presente por estar com a agenda lotada, segundo a sua assessoria.
Se o secretário participou da audiência para ouvir a região, como manifestou na sua fala inicial, ele deve ter saído satisfeito, porque ouviu e ouviu muito. Entre outras coisas, ouviu muitas cobranças da comunidade pelas mortes que já aconteceram nas rodovias que, há mais de 30 anos, aguardam por duplicação. Tanto que a frase mais repetida durante a audiência foi: “até quando?”.
Duplicação
Mas o secretário também ouviu que a região não quer pedágio. De acordo com o prefeito de Marau, Iura Kurtz, mais de 70% dos usuários da RS-324 são trabalhadores que se deslocam entre Passo Fundo e Marau e não podem arcar com o custo de pedágio. Manifestação nesse sentido também foi feita pela Reitora da Universidade de Passo Fundo, Bernadete Dalmolin, que chamou a atenção para o número de alunos que se desloca diariamente de Marau para Passo Fundo.
Segundo o secretário, o novo modelo de concessão ainda não está definido, mas deve se optar pelo sistema Free Flow de cobrança automática, que não requer a construção de praças de pedágio. A consulta pública deve ser lançada até meados de junho e a previsão do governo é que o edital seja lançado no último trimestre deste ano, sendo que o início da concessão está previsto para meados do ano que vem.
Quanto ao prazo das obras de duplicação, apesar da insistência de lideranças por uma resposta, o secretário ainda não soube informar quando devem iniciar. Só tomara que não se repita o modelo de outras concessões, onde primeiro se arrecada por 10 anos para só depois iniciar as obras mais importantes de melhorias. A região não pode esperar por mais dez anos, aliás, nem por mais cinco anos.
Decreto
Horas antes do governador Eduardo Leite anunciar que iria retirar da Assembleia o projeto de aumento do ICMS, o presidente da Cotrijal, Nei Cesar Mânica, já havia “cantado a bola” durante reunião almoço com empresários de Carazinho na segunda-feira (29). Bastante à vontade como uma das principais lideranças à frente do movimento que vinha defendendo o aumento como o “remédio menos amargo”, Mânica chamou atenção para os prejuízos que o decreto de cortes de incentivos pode trazer à população, com o aumento no custo dos alimentos.
— Sou contra o aumento de impostos, mas esse decreto irá atingir diretamente o setor produtivo e mais de 4 milhões de consumidores —, destacou, complementando que as entidades e políticos que se posicionaram contra o projeto é que terão que se explicar para a população diante do caos que irá se instalar no Estado.
Ao anunciar que retiraria o projeto da Assembleia, Leite acenou com mudanças no decreto que passa a vigorar nesta quarta-feira (1°), com a revisão de algumas desonerações que iriam impactar diretamente o setor produtivo.
Diante da importância do tema e do impacto direto na vida de todos os gaúchos, seria importante que os eleitores da região pudessem conhecer o posicionamento dos seus principais representantes políticos, como deputados federais, prefeitos e vereadores. O momento não tolera omissão.
Batismo antecipado
A partir de agora em Passo Fundo, ruas, prédios e logradouros podem ser batizados antes mesmo de existirem de fato e de direito. O projeto da Mesa Diretora da Câmara, aprovado por unanimidade nesta segunda-feira (29), permite que os espaços públicos, mesmo que ainda em construção, possam receber a denominação indicada pelo legislativo.
Até ai, tudo bem, já que muita gente nasce com o nome já escolhido. O risco, porém, é “batizar” uma obra que nunca irá sair do papel ou nunca será concluída, o que “é raro mas acontece com frequência” se tratando do setor público. Em Carazinho, por exemplo, os vereadores acabaram de batizar uma obra que está no papel há mais quinze anos. Trata-se do trevo de acesso à Ulbra, na BR-285, que mesmo sem existir e com poucas possibilidades de sair do papel, ganhou o nome de Trevo Osvaldo Biolchi. Só falta agora “inaugurarem” uma placa no local...
E faltando oito meses para o fim da atual gestão, o legislativo de Carazinho aprovou nesta segunda-feira (29) a criação da secretaria de Esportes na Prefeitura. A nova secretaria irá provocar mais uma dança de cadeiras na equipe do prefeito Milton Schmitz.
Reunião frustrada
E a reunião chamada pela Comissão de Patrimônio da Câmara, para tratar sobre o subsídio do transporte coletivo e o novo contrato com a empresa que adquiriu a Coleurb, acabou sendo frustrada em função da ausência de representantes da empresa e do Executivo. O episódio acabou reforçando o discurso dos vereadores da oposição que cobram por transparência no processo.
Apesar de algumas manifestações mais inflamadas e até mesmo irresponsáveis por parte de alguns vereadores, o fato é que quando se trata de dinheiro público, transparência nunca é demais. Portanto, até mesmo para evitar interpretações dúbias, seria de bom tom que fossem feitos esclarecimentos sobre a aplicação dos recursos repassados. Porém, como contratante do serviço, os principais esclarecimentos cabem à Prefeitura. Uma nova reunião foi marcada para o dia 14 de maio. Vamos aguardar...
E a noiva?
Nas articulações ainda em andamento rumo à eleição municipal em Passo Fundo, chama a atenção a posição do PSDB, que ao que tudo indica, de noiva na chapa de Situação, irá passar para uma posição de coadjuvante. Apesar de fontes do “Palácio” insistirem que o candidato à vice de Pedro Almeida ainda não está definido, outras fontes também do “Palácio” garantem que dificilmente o lugar será ocupado pelo PSDB, cujo principal nome seria do assessor do governador, Mateus Wesp.
Diante do investimento significativo feito pelo governo Eduardo Leite em Passo Fundo, o que explicaria um recuo dos tucanos, abrindo mão da majoritária? Um apoio futuro do PSD à candidatura de Wesp à Assembleia em 2026? Mas neste caso, como ficariam os demais nomes da base que também devem se candidatar à deputado estadual? Ou será que a noiva perdeu seus encantos por conta do aumento do ICMS? Perguntar não ofende...
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