Sem ter onde morar, pelo menos 25 pessoas fazem de calçadas, marquises e praças de Passo Fundo o seu lar temporário. Acompanhados pela Secretaria de Cidadania e Assistência Social do município (Semcas), o número pode ser ainda maior se considerar os que passam apenas o dia na rua e utilizam os serviços públicos de albergues, refeições e auxílios básicos como banho, troca de roupa e ajuda com documentos.
A maioria das pessoas em situação de rua em Passo Fundo vem de outras cidades e busca o destino ora pelas oportunidades, ora pela necessidade de amparo. Entre os perfis, há casos de pessoas que estão na rua a procura de trabalho ou de um familiar, além da dependência química, como aponta o secretário da Semcas, Rafael Bortoluzzi:
— O número de 25 oscila muito, mas são estes os que de fato não possuem residência. Além deles, atendemos pessoas que têm família, mas que por algum motivo passam o dia na rua. Nesses casos, o número oscila mais e não conseguimos dimensionar.
Segundo Bortoluzzi, o acompanhamento é feito através de equipes de abordagem que circulam pelos bairros orientando essas pessoas sobre os serviços disponíveis, como pernoite, refeições e higiene na Casa de Passagem e demais auxílios, como alimentação e troca de roupa no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop).
Dados da Semcas mostram que o número de pessoas atendidas nesses serviços oscilou entre o primeiro trimestre de 2023 e 2024. Houve aumento entre quem procurou por abrigo durante a noite e diminuição de quem foi atendido de dia.
Na Casa de Passagem, o número aumentou 12,34%: foram 308 acolhidos em janeiro, fevereiro e março de 2023 e 346 em 2024. Já no Centro Pop houve uma ligeira redução (8,5%) de atendidos: 1.050 nos primeiros meses de 2023 e 960 até março neste ano. Além da procura que vem de fora, equipes do poder público fazem buscas ativas por pessoas em situação de rua, em especial quando as temperaturas são mais baixas.
— Fazemos isso durante os dias e noites. Chegamos de forma amigável. Alguns casos frequentes a gente já chama pelo nome. Nessa conversa oferecemos o banho quente, refeição e oportunidade de dormir em um lugar seguro. Obviamente essa procura aumenta nos dias frios, mas ainda tem aqueles que não conseguimos convencer — relata o secretário.
Ações rotineiras não combatem o problema, dizem especialistas
Essa forma de trabalho tende a suprir as necessidades momentâneas e não enfrenta o problema de forma 100% efetiva, como disse a coordenadora geral da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo, Luciane Zanella. Segundo ela, seria necessário um trabalho conjunto entre secretarias e políticas públicas específicas para a população de rua.
— Este é um problema social, reflexo direto da exclusão da sociedade, pois não há investimento constante dos governos. Não se resolve o problema com a retirada compulsória deles desses locais, não é assim que se garante os direitos deles. Deve-se investir na política pública de atendimento, de abordagem e acompanhamento de cada um de maneira individualizada e de acordo com suas peculiaridades — reiterou.
Quanto ao serviço oferecido, a especialista aponta que seria necessário o reforço de profissionais qualificados para atendimento na cidade, a fim de entender cada caso e os motivos de estarem naquela situação. Hoje a Semcas tem 25 profissionais para realizar esse trabalho através do poder público, incluindo equipes da parte administrativa, técnica e de vigilância.
— Precisamos de profissionais e em quantidade suficiente para prestar o atendimento, onde o morador possa fazer os encaminhamentos que necessitar. O município possui alguns equipamentos públicos, como o Centro POP, que necessita de maior número de profissionais para atender a demanda, mas não basta só estruturas, é preciso uma política pública estruturada de atenção a população de rua — finaliza Zanella.
A doutora em Serviço Social e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Giovana Henrich, concorda que é essencial estruturar novas políticas públicas e estratégias governamentais. No seu ponto de vista, seria preciso pensar na valorização das potencialidades desses indivíduos, o resgate de vínculos familiares e comunitários e a redução da problemática do uso de drogas.
— Também entendo que a realização de diagnósticos mais detalhados seja primordial para o planejamento de ações que considerem as condições e modos de vida da população que vive na rua, ou seja, suas histórias e trajetórias. Só assim veremos realmente o que há nesse cenário para descobrirmos o que é preciso ser feito — aponta Henrich.
Atendimentos em Passo Fundo
Centro POP
O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) é a porta de entrada para a assistência na cidade. São oferecidos encaminhamentos necessários para inserir as pessoas em situação de rua na rede de saúde e prestar atendimento psicossocial.
No local, também são promovidas atividades para o fortalecimento de vínculos familiares e o acesso à provisão de documentação civil. Durante o primeiro trimestre de 2024, foram 1.898 atendimentos individualizados e 624 abordagens.
- Endereço: Rua Morom, nº 2649 — próximo à Biblioteca Pública Municipal
- Horário de funcionamento: das 8h às 12h e das 13h às 14h
- Telefone: (54) 3314-5278
Casa de Passagem
A Casa de Passagem Madre Teresa de Calcutá — conhecida como Albergue Municipal — conta com 30 vagas e profissionais de diversas áreas e atuações sociais, que fazem o encaminhamento para as demais estruturas dos serviços públicos. No primeiro trimestre de 2024, foram 1.299 atendimentos, 1.203 pernoites e mais de 7,6 mil refeições (desjejum, almoço, lanche, janta e ceia).
- Endereço: Rua Uruguai, 266, próximo ao CTG Lalau Miranda
- Horário de funcionamento: 24 horas
- Telefone: (54) 3314-6180