A chuva forte que atinge o norte do RS desde a madrugada desta segunda-feira (4) já provocou quatro mortes nas cidades de Mato Castelhano, Passo Fundo e Ibiraiaras.
Por volta das 9h da manhã desta segunda, um homem morreu após ser atingido por uma descarga elétrica no bairro Entre Rios, em Passo Fundo. Segundo moradores, o homem foi encontrado em casa e chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu.
Também nesta manhã, o corpo de Cristiano Schuslei, 41 anos, foi encontrado no rio Piraçuce, em Mato Castelhano. Segundo o Corpo de Bombeiros, ele dirigia um veículo arrastado pela água do rio, que transbordou.
Dentro do carro também estava uma outra pessoa, que conseguiu escapar. O incidente aconteceu por volta das 4h50min da manhã no interior do município.
Em Ibiraiaras, um casal morreu depois de ficar preso no veículo ao tentar atravessar uma ponte na localidade de Santa Clara, interior do município. Segundo a Defesa Civil, o carro foi levado pela correnteza.
No norte do RS, casas ficaram alagadas, moradores ilhados e estradas bloqueadas. Equipes do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e da prefeitura auxiliam os moradores atingidos pelas chuvas intensas.
Desde sexta-feira (1º), choveu 291,6 milímetros em Passo Fundo, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). O volume representa 176% do previsto para todo o mês de setembro, que é de 165,5mm.
— Nossa prioridade é dar suporte às famílias afetadas e minimizar os impactos causados pelas chuvas, que estão intensas não apenas em Passo Fundo, mas em toda a região. As secretarias municipais estão trabalhando junto com a Defesa Civil e os Bombeiros para executar os serviços emergenciais e promover ações rápidas e efetivas — afirmou o prefeito de Passo Fundo Pedro Almeida.
Segundo a prefeitura, há 120 desalojados em Passo Fundo. O bairro Entre Rios foi um dos mais atingidos. Charlene Bernardon, dona de uma lanchonete na Rua Parobé, perdeu tudo.
— A água começou a subir por volta das 3h. Tivemos tempo de erguer algumas coisas, mas perdemos geladeira, freezer e toda a mobília da casa — lamentou.
Segundo ela, equipes do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil só chegaram volta das 9h, quando a água estava no joelho. Todos os eletrodomésticos e móveis já haviam sido perdidos.
— É desesperador. Você vê o trabalho de uma vida toda perdido.
O taxista Nelson Macedo, que mora ao lado do rio Santo Antônio, contou que estava trabalhando quando amigos ligaram alertando que a água invadia sua casa.
— Cheguei em casa às 7h30, mas já era tarde demais. A água estava na cintura e não tinha tempo de fazer mais nada. A tristeza é grande, mas pelo menos foram apenas danos materiais. Agora é batalhar para comprar tudo de novo.
Transtornos no Litoral Norte
Municípios do Litoral Norte também registram transtornos causados pelo temporal. Níveis de rios subiram e já há comunidades isoladas e pontos inundados.
Em Caraá, município mais atingido durante a passagem de um ciclone extratropical pelo RS em junho, algumas comunidades novamente tiveram problemas com o excesso de chuva. Conforme o prefeito Magdiel Silva, são pelo menos 20 famílias isoladas, na manhã desta segunda.
Em Itati, ao menos duas comunidades estão inacessíveis. A prefeitura diz que, no entanto, ninguém está desabrigado. Segundo a administração municipal, a barragem que liga Itati a Três Forquilhas, conhecida como barragem do Edir Witt, transbordou e não é possível atravessar com veículos no local.
Já em Maquiné, pontos que ainda não tinham sido completamente recuperados desde a passagem do ciclone anterior, agora voltam a sofrer. Uma dessas localidades é a região do Refúgio Verde, onde passa o Rio Maquiné. Segundo o prefeito João Marcos Bassani, o nível do Rio Forqueta também vem subindo e há pontos de barragens para travessia que estão submersas, como na localidade de Pedra de Amolar.
Além disso, o Rio Três Forquilhas, que marca o limite entre os municípios de Terra de Areia e Três Forquilhas, apresenta nível alto, já invadindo a passagem que liga os dois municípios.
Vale do Caí
Região bastante afetada na passagem do ciclone que atingiu o Estado em julho, o Vale do Caí também ligou sinal de alerta. Na manhã desta segunda, em cerca de três horas, entre as 7h e 11h, o rio que dá nome à região subiu quase dois metros, chegando aos oito metros. Acima dos sete, a condição é considerada de alerta. A inundação, no entanto, segundo as autoridades da região, ocorre a partir dos 10 metros.
Serra
Há registro de alagamentos, quedas de árvores, sinaleiras desligadas e famílias fora de casa. Os relatos mais graves são em São Jorge e Nova Bassano.
Segundo a Defesa Civil Estadual, no município de São Jorge há 40 pessoas desalojadas e outras famílias estão sendo retiradas das moradias em pontos alagados. Elas estão sendo levadas para o Ginásio Municipal. Cerca de 30 casas tiveram danos, conforme a última atualização, muito em função do Rio Guabiju e Santa Cruz, que subiram e alagaram a cidade.
— Na área central já conseguimos passar, mas ainda estamos contabilizando os estragos — diz Inara Ferraz, que trabalha na assistência social de São Jorge.
Em Nova Bassano, os bombeiros resgataram duas pessoas que estavam ilhadas em um telhado em função da cheia do Rio Sabiá. Também há relatos de cheia no Rio Carreiro, que fica entre a cidade e Serafina Corrêa. Na Vila Bassanense, um bairro da cidade, também há relatos de alagamentos.
A prefeitura de Nova Araçá informa que o bairro Vila Zuchetti e o Centro foram os dois pontos com maior estrago. Algumas casas foram atingidas, mas ninguém ficou desabrigado. Ainda, segundo a prefeitura, parte de uma ponte que da acesso a Vila Zuchetti e ao bairro Integração caiu. A defesa civil do município ainda faz levantamentos sobre os estragos.
Em Bento Gonçalves há relatos de alagamentos em diversos pontos da cidade. O mesmo acontece em Caxias do Sul, onde a Defesa Civil relata também quedas de árvores. Nos municípios de Ipê e Vacaria também há alagamentos.
Porto Alegre
Um novo trecho da ciclovia da Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, foi interditado, na manhã desta segunda-feira (4), devido à queda de parte do talude do Arroio Dilúvio. O ponto fica próximo à esquina com a Avenida Silva Só, no sentido bairro-Centro.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) isolou o local, com fitas e cavaletes, pouco antes do meio-dia. Em rede social, o órgão afirma que há risco de desmoronamento da pista para bicicletas e de se "agravar a situação".
A interdição do trecho ocorre menos de dois meses depois de outro ponto da ciclovia da Ipiranga ter sido fechado após parte do talude ceder. Devido a um temporal, o barranco deslizou com o gradil de proteção, em 12 de julho, no ponto próximo ao Planetário, no bairro Santana. O local segue bloqueado.
Árvores caídas e vias alagadas eram alguns dos transtornos provocados pela chuva que atinge Porto Alegre desde domingo (3).
Para esta segunda-feira, a sala de situação da Defesa Civil alerta para a formação de um ciclone extratropical sobre o mar, que pode intensificar as chuvas por todo o Estado. Já a Climatempo alerta para as rajadas de vento, que podem alcançar 80 km/h.