É possível notar a diferença ao circular no sentido centro-bairro da avenida Ipiranga, no bairro Santana. Motoristas e ciclistas dividem espaço em uma das vias mais movimentadas de Porto Alegre desde que foi interditado um pequeno trecho da ciclovia, nas proximidades do Planetário, devido ao desmoronamento de parte da encosta do arroio Dilúvio.
O fato aconteceu na noite de 12 de julho, durante a passagem de um ciclone extratropical pelo Estado. Segundo a prefeitura, a estrutura foi danificada pela quantidade expressiva de chuva nas semanas anteriores, mas já vinha sofrendo com o impacto das raízes de árvores crescendo no local. De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), a falta de manutenção da travessia também ficou clara no episódio.
— A sequência de muitos anos sem uma vigilância, sem um controle, associada à chuva forte foi desestabilizando aos poucos, até acontecer isso — disse o diretor-geral, Maurício Loss.
O trabalho de recuperação do trecho ainda não tem data para acontecer porque depende do andamento de outras obras. De acordo com o Dmae, os funcionários da empresa Brasmac, contratada para o serviço, devem iniciar o reparo próximo ao Planetário a partir de setembro ou outubro. E a tendência é de que a conclusão fique para o fim do ano.
Enquanto o reparo não acontece, a única opção para os ciclistas é seguir em frente por uma pequena pista improvisada e sinalizada por cavaletes, em uma das faixas da avenida.
- Hoje, temos o uso de cavaletes, mas isso é temporário - destacou o diretor-técnico da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Flávio Caldasso. - Nós vamos fazer em breve uma sinalização desviando os ciclistas para a calçada. Eles vão andar um trecho junto aos pedestres, de forma segura, para poder retornar à ciclovia na quadra seguinte.
Só que a preocupação não se esgota com a solução para este ponto. Vários problemas são encontrados em praticamente toda a ciclovia, que tem aproximadamente nove quilômetros de extensão. A equipe de reportagem de GZH percorreu toda ela com uma das bicicletas disponíveis no sistema de aluguel da cidade.
Fissuras à beira do Dilúvio
Perto do local desmoronado, na mesma quadra do Planetário, a equipe de reportagem de GZH se deparou com rachaduras de aproximadamente 10 centímetros de largura na ciclovia.
Nesse mesmo ponto, a pista ainda conta com um leve declive para o arroio Dilúvio. Os guard-rails, estruturas de segurança feitas com material plástico reciclável e localizadas ao longo do trajeto, seguem a mesma inclinação - o que causa medo de desabamento.
- Tem que ter todo um cuidado na hora de fazer o passeio. Às vezes tem galhos no trajeto, ondulações na pista, rachaduras. Isso é um perigo porque a gente não sabe se vai afundar - diz a ciclista Thamires Ferreira, que usa a bicicleta como um dos principais meios de transporte.
Além de sinalizarem a falta de manutenção, as fissuras representam um risco para os ciclistas diante da possibilidade de quedas e danos aos pneus das bicicletas.
"O que vem pela frente?"
O uso constante dos freios se torna essencial para evitar acidentes. Apesar de existirem duas faixas, uma rumo ao Guaíba e outra em direção à Zona Leste, a pista tem estreitamentos em vários pontos. Alguns deles com postes, que obstruem quase toda a visão dos ciclistas.
- Não dá para ver quem vem do outro lado porque normalmente tem um poste na frente. A gente tem que diminuir a velocidade, dar a passagem para o próximo. Em dias de chuva, fica ainda mais complicado - relata Thamires.
Durante o percurso percorrido por GZH, encontramos algumas "rotas alternativas", com traços improvisados por quem usa a pista e quer evitar colisões.
À noite, a dificuldade se intensifica. A iluminação pública nem sempre torna o caminho mais visível: obstáculos, as rachaduras e ondulações abruptas representam um risco maior.
O que diz o poder público municipal
Flávio Caldasso, diretor-técnico da EPTC, afirmou que a ciclovia da avenida Ipiranga já soma 11 anos desde a inauguração do primeiro trecho, e que o último segmento foi entregue à população há dois anos. De acordo com a EPTC, um levantamento está sendo realizado para apurar todos os problemas existentes na ciclovia
— Obviamente, os trechos mais antigos são aqueles que sofreram mais com as intempéries. A ciclovia da Ipiranga é uma das mais usadas e seguras de Porto Alegre. Tem proteção lateral, é bem sinalizada junto aos semáforos. Não tenho o número de acidentes, mas é mínimo. Ela está com o pavimento mais rachado, mas isso não é um problema estrutural. O que racha é a capa asfáltica — argumenta.
Ainda que as fissuras existentes não representem risco de desabamento, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, disse a GZH que não dá para descartar a possibilidade de novos desmoronamentos do talude do arroio Dilúvio:
— Existe (o risco de desmoronamento) para a ciclovia, mas, dependendo da situação, pode atingir até a pista de rolagem da avenida, que é bastante movimentada. Por isso, neste mesmo momento em que estão sendo realizados os reparos, a gente também tem feito algumas avaliações de geotecnia. Estamos estudando o solo para saber o que está ocorrendo para agir preventivamente e evitar desmoronamentos em outros trechos.
A empresa Brasmac é responsável por realizar o reparo das áreas de encosta do arroio. Após a conclusão dessa etapa, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos deve dar andamento a uma manutenção asfáltica da ciclovia.
— Não tenho uma data do início disso, mas a previsão é de que se inicie a recuperação da pista como um todo ainda no segundo semestre deste ano. Aí, fazendo a recuperação asfáltica, a EPTC vem atrás fazendo a sinalização — revela Loss.
Com relação aos postes de alta tensão que servem de obstáculo para os ciclistas, o diretor da EPTC explicou que as únicas alternativas existentes quando a ciclovia foi arquitetada eram colocar a pista mais para cima da encosta do arroio — o que representaria um risco maior para quem pedala — ou criar desvios somados a estreitamentos, opção que acabou sendo implementada.