Os prejuízos causados pelas enchentes devem ir além das mortes e estragos deixados pelo excesso de chuva na maioria dos municípios gaúchos. No norte do Rio Grande do Sul, cidades turísticas que não tiveram impactos significativos agora enfrentam problemas na economia: a grande maioria dos visitantes cancelou suas reservas nos locais acostumados a receber turistas o ano todo.
Em Ametista do Sul, um levantamento da Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo do município mostra que 80% das reservas feitas em hotéis para os próximos 120 dias foram canceladas pelos turistas. O motivo, segundo o secretário da pasta, Alcindo Zilch, é a percepção equivocada de que todas as cidades do RS tiveram danos estruturais causados pelas enchentes, impossibilitando as viagens.
O turismo é uma das mais importantes fontes de renda do município de 7,6 mil habitantes, impulsionado pelas minas de pedras preciosas, restaurantes e vinícolas.
— Nós não fomos afetados diretamente pela chuva, pelos danos materiais. Nossa estrutura turística e principais acessos estão normalizados, mas nosso movimento praticamente parou. O trabalho tem sido mostrar que nos solidarizamos com a situação do estado e, ao mesmo tempo, permanecemos em condições de receber os visitantes — disse Zilch.
Apesar das minas de garimpo estarem interditadas desde julho do ano passado, as minas de pedras preciosas, que são abertas para visitação, não tiveram alterações e funcionam normalmente para passeio. Os locais são parada obrigatória nos roteiros de viagem, parte vital do turismo de Ametista, que costuma receber em média de 150 mil visitantes por ano.
Enquanto isso, Marcelino Ramos, a 200 quilômetros de Ametista, teve danos causados pela chuva, como o bloqueio parcial das RS-126 e RS-491, que dão acesso ao município. Apesar da situação já ter sido normalizada, a Secretaria de Turismo e Desenvolvimento estima que 95% das reservas em hotéis foram canceladas.
— Estamos com quase zero turistas na cidade. Nosso principal foco são as águas termais e contamos muito com excursões, mas todas cancelaram. O que temos é uma ou outra família da região que vem por conta própria, de carro — relata o secretário da pasta, Andrigo Mileski.
Conforme Mileski, a cidade costuma receber muitas excursões de Porto Alegre e da Região Metropolitana, inviabilizadas pela enchentes, e também de Santa Catarina e Paraná. O turismo representa 40% da economia da cidade de 4,3 mil habitantes. Para ele, o receio do deslocamento ao RS é o que tem motivado o cancelamento das viagens interestaduais. Até sexta-feira (17), todas as rodovias do norte gaúcho estavam liberadas para trânsito.
Manutenção de gastos
A redução do turismo causa preocupação com a manutenção de gastos básicos, como luz e água, e o pagamento do salário de funcionários nos complexos turísticos. Sem movimento, o temor de demissões já se torna uma realidade.
— A gente tem um grande numero de funcionários para manter, então sabemos que as consequências são gerais e não param somente nos hotéis ou parques, mas se estende para todos os setores. Também tem essa redução no repasse do ICMS, então há esse receio — acrescenta o secretário.
Entidades como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) trabalham em campanhas para que os turistas não cancelem as suas viagens, e sim as remarquem para datas futuras. O objetivo é ajudar o setor a manter uma perspectiva de melhora econômica no segundo semestre.
Empresas da Serra Gaúcha também embarcaram na campanha, como é o caso de empreendimentos em Gramado, Bento Gonçalves, Canela e Caxias do Sul. A região foi uma das mais afetadas pelas enchentes e as quatro cidades contabilizam, ao todo, 28 mortes causadas pela tragédia.
Repasse do governo federal
Em 3 de maio, o Ministério do Turismo anunciou um repasse de R$ 100 milhões para empreendedores turísticos no RS. O crédito deve ser disponibilizado de modo emergencial, por meio do Novo Fundo Geral de Turismo (Fungetur), programa direcionado, principalmente, para micro, pequenas e médias empresas do país.
No entanto, empresários questionam o benefício uma vez que, de acordo com o secretário Alcindo Zilch, somente os municípios em situação de calamidade pública decretada tem direito aos benefícios da portaria. Assim, cidades como Ametista do Sul, que estão em situação de emergência, não poderiam acessar o recurso.
— Os municípios em situação de emergência, que sofrem com um turismo parado, não têm acesso e vão passar por muitas dificuldades. Por isso, já encaminhamos um documento para a Cresol (instituição financeira que opera o fundo) e estamos elaborando outro para o representante do Fungetur no ministério, pra que esse entendimento seja revisto — conclui.
Designado pelo presidente Lula para ser o representante federal no trabalho de apoio à reconstrução do RS, Paulo Pimenta afirmou, em entrevista ao Gaúcha Atualidade de quinta-feira (16), que pretende lançar uma ação específica aos setores da cultura e turismo. No entanto, ainda não há data para implementação das medidas, que não foram detalhadas.