A inviabilidade dos acessos por terra e por ar, com a interrupção de rodovias e o fechamento do aeroporto de Porto Alegre, respinga na operação do setor de turismo no Rio Grande do Sul. Os impactos ainda são mensurados, mas já se teme por demissões devido à baixa de turistas e por um caminho demorado até a reconstrução do Estado.
O baque vem logo quando se iniciaria a temporada de frio, grande momento para a rede hoteleira gaúcha, especialmente da Serra.
Entidades como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) trabalham em campanhas para que os turistas não cancelem as suas viagens, e sim as remarquem para datas futuras. O Vila Suzana Parque Hotel, de Canela, foi um dos que abraçaram a iniciativa.
Com acomodações vazias pelo menos até o fim de maio, o hotel aposta na negociação direta com os hóspedes para que as estadias sejam mantidas.
— Aos nossos hóspedes que ligam pedindo cancelamento, estamos oferecendo um crédito das diárias para que elas sejam utilizadas dentro de 12 meses. As pessoas em geral estão se sensibilizando, concordam que isso vai passar e que em algum momento vão poder retornar — diz Carolina Wender, gerente geral da rede.
A gerente diz que o foco dos empresários do setor está concentrado no segundo semestre do ano. Uma série de eventos que aconteceriam agora, como o Salão Internacional do Calçado e o Connection Experience, estão sendo remarcados.
— Sabemos que a retomada será lenta. Agora que ia começar o frio, assim como o feriado Corpus Christi, que costuma ser como uma Páscoa para a Serra. Mas estamos felizes que os eventos estão sendo transferidos para outras datas — avalia Carolina.
Recalcular a rota
A reportagem fez contato com a Secretaria de Turismo do Estado (Setur-RS), mas a pasta informou, por meio da assessoria, que é ainda cedo para se ter um levantamento do impacto das enchentes no setor de turismo e que “o momento ainda é de salvar vidas”.
Presidente da ABAV-RS, João Machado diz que o cenário se torna ainda mais problemático quando considerada a sua abrangência. Isso porque as interrupções não afetam um só destino específico, mas sim todas as viagens, que estão sendo remanejadas. As companhias aéreas estão flexibilizando os embarques e realocando as viagens em outros aeroportos, conforme as opções de destinos.
— Na pandemia foi a forma que se encontrou para solucionar o problema. A ideia é que ninguém saia prejudicado. Sofremos com a incerteza de até quando isso vai, mas temos a empatia de que simplesmente não se pode acessar o aeroporto — diz Machado.
A recomendação aos viajantes é que procurem as agências de turismo para orientações e esclarecimentos. Segundo a ABAV, as empresas estão solidárias em pelo menos garantir o suporte em informações, enquanto não é possível viajar.
Desde sábado (11) já operam no Estado os voos extras da malha área emergencial com destino a aeroportos do interior gaúcho. As rotas incluem voos para Passo Fundo, Santo Ângelo, Base Aérea de Canoas, Caxias do Sul, Pelotas, Santa Maria e Uruguaiana. A previsão é de que o terminal de Porto Alegre permaneça fechado até o fim de maio.
O plano emergencial, articulado por Ministério de Portos e Aeroportos, Anac, ABR, Infraero, Abear e companhias aéreas prevê 116 voos semanais numa primeira fase, sendo 88 no Rio Grande do Sul e 28 em Santa Catarina.
O momento, no entanto, segue focado em pessoas que precisam vir ao Estado para trabalhar ou outras questões que não incluem necessariamente o turismo. Primeiro porque as cidades afetadas sequer têm condições de receber este público, e segundo porque não há clima entre os turistas, de acordo com as entidades.
Em Porto Alegre e na Região Metropolitana, o impacto é de 100% nas operações dedicadas exclusivamente ao turismo, segundo o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha). Conforme o presidente da entidade, Paulo Geremia, há uma operação mínima que vem recebendo pessoas que precisaram deixar as suas casas pelo avanço da enchente ou por pessoas que vêm de fora do RS para atuar nos resgates, como médicos, pilotos, voluntários, entre outros.
— Para quem está em situação de alagamento, impactou totalmente. E para quem está fora (das áreas de risco) e tem luz e água para operar, o fluxo é metade do normal, justamente pela inviabilidade de se locomover ou mesmo de celebrar — diz Germania, incluindo o impacto nos setores relacionados ao turismo, como a alimentação.
Demissões são esperadas
Na serra gaúcha, o movimento de hotéis e de parques está reduzido a quase zero. Os turistas que estavam nas cidades quando as chuvas iniciaram, no fim de abril, conseguiram retornar para os seus locais de origem. Agora, o fluxo é mínimo, já que as principais rodovias de acesso seguem bloqueadas e o principal aeroporto do Estado está inoperante.
Segundo o presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur Serra Gaúcha), Claudio Souza, o impacto em empregos será inevitável. São estimadas 20% de demissões imediatas.
O dirigente diz que foram propostos acordos, mas que a conversa com sindicatos laborais não avançou. Somente Canela teria aceitado a negociação.
— Estamos em uma luta de ver como vamos preservar os empregos. Tentamos alguns acordos de suspensão de contratos prevendo antecipação de férias e cursos profissionalizantes, porém o sindicato laboral disse que era pouco — diz Souza.
A entidade representa cerca de 200 negócios da rede hoteleira nas cidades de Gramado, Canela, São Francisco de Paula e Nova Petrópolis. Somente para o mês de maio, o sindicato estimava prejuízos de até R$ 150 milhões no setor. A longo prazo, no entanto, as perdas devem ir bem além desta cifra.
A expectativa é de que algumas operações possam ser recuperadas a partir de junho, a tempo de aproveitar a temporada de inverno, e também com a remarcação de alguns eventos.
— Perdemos o Dia das Mães e alguns eventos como feiras foram remarcados para outros meses. A nossa esperança é que a partir de junho tenhamos alguma retomada de infraestrutura por via rodoviária ou aérea, para que possamos fazer campanhas para que o turista volte a contribuir com a economia do Estado. Temos que pensar no todo — finaliza o presidente do SindTur Serra Gaúcha.