Ao contrário do que muitos pensam, os eventos climáticos que têm afetado o Rio Grande do Sul nos últimos dias não fizeram com que a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim se fundissem. O alto volume de água, vinda do Guaíba, que está sendo escoado para a Região Sul apenas aumentou a conexão já existente entre os dois corpos d’água, por meio do canal São Gonçalo.
— As duas lagoas já são conectadas pelo canal São Gonçalo. Na imagem da esquerda, não dá para ver por causa da resolução, mas essa conexão existe. A água que está descendo pela Lagoa dos Patos aumentou o volume de água no canal e, por isso, é possível perceber um alargamento visual desse canal. Não podemos afirmar se de fato houve um alargamento ou não, é apenas algo visual — afirma o coordenador do Laboratório de Oceanografia Dinâmica e por Satélites (Lods) da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Fabrício Sanguinetti.
Na manhã desta sexta-feira (17), o nível do São Gonçalo, segundo a medição da prefeitura de Pelotas, era 2m94cm, apresentando redução em relação aos 3m02cm registrados na quinta-feira (16). No último domingo (12), o corpo d’água chegou aos 2m88cm, o mesmo nível da enchente de 1941. Na ocasião, a prefeita da cidade, Paula Mascarenhas, afirmou que a estimativa era que o nível chegasse a 3m30cm. O habitual é que o nível fique entre 2m20cm e 2m30cm.
— Cientificamente, é muito precipitado dizer que o canal sofreu alterações, seja no curso ou na geomorfologia. Para que seja batido o martelo, são necessários estudos de campo. No momento, podemos dizer que é algo temporário e que deve regredir quando a situação se estabilizar — defende o coordenador do Lods.
Sanguinetti explica, ainda, que é difícil quantificar e qualificar os possíveis efeitos desse alargamento. Além da alteração física, ou seja, o que é visível por satélite, o pesquisador também aponta para a possibilidade de alterações biológicas nas características da água, como o desequilíbrio do pH e no oxigênio dissolvido, por exemplo. Essas mudanças poderiam afetar a fauna e a flora local.