Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
As consequências do que ocorre em Davos não são imediatas e avaliações precipitadas devem ser evitadas. Nem sempre o de maior repercussão é o que mais impactará futuramente. Paulo Guedes, ao atribuir a devastação do ambiente à fome, não colaborou para atenuar o desgaste do país na área. O ministro estava em Davos, mas com a cabeça no Brasil. Seu equívoco foi recorrer a uma fala que cai bem entre os apoiadores do governo aqui, mas em conferência cujo tema era a sustentabilidade foi no mínimo uma gafe: até os igarapés sabem que quem devasta a floresta não são os famintos. Felizmente, a ministra da Agricultura foi mais economista do que o da Economia, e corrigiu explicando que o combate à fome se faz com aumento da produtividade e não com queimadas. Pragmático, o agronegócio preferiu exibir seus dados robustos à mera ideologia.
Já com menor repercussão foi a promessa do ministro de aderir ao GPA, acordo internacional que dá igual tratamento, nas compras do governo, às empresas de fora com as daqui. Seu argumento é de que evitará a corrupção, estimulará a concorrência e diminuirá preços. Estes últimos fazem sentido, pois aumenta o número de fornecedores. A dúvida é qual base empírica sustenta que empresas de fora sejam mais honestas do que as nacionais ou estrangeiras aqui localizadas, pois há denúncias de corrupção empresarial mesmo em países como EUA, Alemanha e Japão. E os órgãos de controle – como TCU, CGU e MP – são inoperantes no exercício da função de fiscalizar os gastos públicos?
Até mesmo o estímulo à concorrência deve ser visto com reservas, pois haverá consequências para o país ao tratar igualmente desiguais. Com elevada carga tributária, produtividade estagnada e infraestrutura deficiente, como querer que as empresas locais concorram de igual para igual com as estrangeiras? O problema do liberalismo teórico é se apegar demais no livro-texto e esquecer que há distância entre os modelos e a realidade. Alguém em sã consciência pensa que o governo americano dá tratamento isonômico em suas compras à Airbus em detrimento da Boeing? É só observar as restrições impostas pelos países da União Europeia no acordo com o Mercosul para ver como as coisas funcionam. E isso que iguarias e vinhos franceses e ibéricos, graças à qualidade, nem precisariam de salvaguardas.