Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
O rápido alinhamento aos EUA no conflito com o Irã reforça a tendência de declarações intempestivas de autoridades federais pelas redes sociais. Em muitas delas voltou-se atrás, o que é uma virtude. Mas fica o desgaste. O objetivo, diz-se, é "realimentar" sua base de apoio para mantê-la mobilizada – um subproduto da falta de cultura de reeleição. É normal todo governante buscar respaldo, mas a mobilização permanente também fomenta a rejeição e o radicalismo. Maquiavel dizia que o Príncipe não podia viver só em guerra, pois a paz trazia respeito e prosperidade (a economia requer "normalidade").
Uma característica do chamado populismo latino-americano é o governo dirigir-se diretamente a seu público. Uma diferença entre o populista e o estadista é que este consegue ir além e, em casos conflituosos, prioriza o interesse nacional. Exemplos como Perón e Hugo Chávez ilustram como se consegue prejudicar o país ao atender demandas específicas mobilizadoras contrárias ao interesse geral. O que é "geral"? Há que se reconhecer, por exemplo, que governo de qualquer ideologia, por dever de ofício, busca melhorar o padrão de vida dos cidadãos e, para tanto, incentiva o crescimento econômico. Isso exige exportar mais, buscar alianças e boa imagem no exterior, abrir oportunidades. Se der errado, todos perdem.
Releve-se o bairrismo: dois exemplos de estadistas são gaúchos. Os trabalhadores eram base de apoio de Vargas, mas pressionado por aumento irrealista do salário mínimo, certa vez argumentou: o governo o introduzira por justiça social, mas tratava-se do mínimo, não do médio ou do máximo. Só aumentos de produtividade no tempo assegurariam o desejado pelos sindicalistas sem comprometer o emprego. Também é claro que, na Guerra Fria, a base política de Geisel era pró-americana. Mas isso não impediu, diante do choque do petróleo, que propusesse usina nuclear com a Alemanha, aproximação com países da OPEP e China, Pró-Álcool, fontes alternativas de energia e expansão da Embraer – medidas que os EUA viam com reservas.
Ambos os exemplos mostram que, para a boa governança, o Estado deve ser também mediador. E olhar para o futuro, pois medidas simpáticas a grupos específicos até trazem popularidade no curto prazo, mas não tardam a apresentar a conta. E esta será paga por todos.