Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Os principais analistas internacionais convergiram para um consenso nos últimos dias: a tendência de aprofundar a recessão nas economias líderes, o que complica mais a já conturbada América Latina. No Brasil, 1% de crescimento da economia mundial, por si só, tende a induzir 0,3% a mais no PIB. Uma conjuntura externa desfavorável num quadro de recessão crônica, com mais de 12 milhões de desempregados, estreita mais os graus de liberdade da política econômica interna. Com o agravante de o país não ter um projeto alternativo de desenvolvimento, ou seja, a proposta vigente da área econômica, pelo que se depreende, é justamente de colar-se na economia americana, apesar de sinais de pragmatismo na política externa terem sido o ponto positivo da última reunião dos Brics em Brasília.
O cenário pessimista decorre das dificuldades de entendimento entre americanos e chineses: a briga comercial é apenas a ponta visível do conflito maior sobre quem vai ser a economia dominante nas próximas décadas. Os juros baixos começam a perder o fôlego como estímulo ao consumo nos EUA e sua indústria não dá sinais de salto tecnológico, ao contrário do que previa a estratégia de fechamento de Trump. Já a China – que tem projeto nacional e sabe o que quer – hoje investe 2,2% de seu PIB em ciência e tecnologia, o dobro do que o Brasil, quando era menos de 0,9% 20 anos atrás. O país anunciara sem rodeios a intenção de ser potência tecnológica em um plano – "Made in China 2025", o qual gerou enormes resistências e conseguiu o milagre de unir EUA, Alemanha, Rússia e Japão. Ele anunciava a substituição gradual da indústria de bens populares por 10 setores intensivos em conhecimento, como robótica, espacial e aviões, inteligência artificial, novas energias e biofarmacêuticos.
Depois de quebrar a indústria mundial com bugigangas de preços baixos, a nova etapa foca onde realmente interessa: a vanguarda tecnológica e militar – o requisito para ser potência. A reação levou a um jogo de cena, sugerindo um recuo chinês. Todavia, nas últimas semanas ficou claro que só o rótulo "Made in China 2025" fora abandonado. Ao contrário, as contestações internacionais teriam só conscientizado quanto à necessidade de acelerar sua execução.
O jogo pesado veio para ficar e apenas ir a reboque não é a melhor alternativa.