Venezuela e Bolívia. Aí estão dois assuntos com potencial para estragar o jantar dos líderes dos Brics, que se reunirão nesta quarta (13) e quinta-feira (14) em Brasília, tendo o presidente Jair Bolsonaro como anfitrião.
Estarão no Brasil os presidentes de Rússia, Vladimir Putin, China, Xi Jinping, África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Há várias divergências de posicionamentos sobre temas internacionais no grupo de países outrora emergentes, formado oficialmente há 10 anos em uma cúpula na Rússia. As crises na Venezuela e na Bolívia, entretanto, são as mais evidentes.
O país de Nicolás Maduro tem na Rússia seu principal aliado. No auge da crise da autoproclamação de Juan Guaidó, em janeiro, quando se temia uma intervenção militar liderada por Estados Unidos, com apoio de Colômbia e Brasil, Putin foi fiador do regime — há acordos bilaterais de venda de armamentos, um avião militar russo chegou a pousar no aeroporto de Maiquetía e muito se falava sobre a suposta presença (até hoje não confirmada) de mercenários de Moscou para Caracas. O governo brasileiro considera Maduro ditador e reconhece Guaidó o presidente legítimo. Aliás, Bolsonaro chegou a cogitar convidar o líder da oposição venezuelana para o encontro dos Brics, em Brasília, mas recuou a tempo — seria uma provocação, desnecessária, à Rússia e à China.
No caso da atual crise boliviana, que culminou na renúncia do presidente Evo Morlaes, no domingo (10), também há visões opostas. Bolsonaro deu entrevista ao jornal O Globo, negando que tenha ocorrido ruptura da ordem democrática no país vizinho, enquanto a Rússia disse que os fatos "se assemelham a um golpe de Estado instrumentado".
Os Brics já não têm a força que outrora pareciam possuir quando foram criados, em 2009. Mudaram algumas circunstâncias internas em cada país — no Brasil, a diplomacia do governo do PT preconizava à época relações multilaterais, hoje o Itamaraty de Bolsonaro prioriza o alinhamento automático com os Estados Unidos.
A própria criação dos Brics era uma tentativa de fazer frente à predominância geopolítica americana — reivindicava-se a reforma na Organização das Nações Unidas (ONU, onde Rússia e China são membros permanentes do Conselho de Segurança), no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial (Bird).
Os parceiros também mudaram: Putin e Xi concentraram ainda mais poder e envolveram-se em crises externas (Ucrânia e Síria no caso russo) e internas (Hong Kong, no caso chinês). A China, em particular, já não é uma nação emergente. Ao contrário, como potência mundial, ofusca inclusive, as iniciativas dos demais integrantes do grupo.