Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
As megamanifestações separatistas em Barcelona mostram que mesmo povos cultos e de bem com a vida podem cair na armadilha do radicalismo e da xenofobia. Por isso, não considero razoáveis nem folclóricas as vaias das torcidas locais ao Hino Nacional antes dos jogos. Separatismos, racismos e outros preconceitos alimentam-se da tolerância quando parecem inofensivos, mas são de difícil reversão depois de se alastrarem. Todo separatismo acena para uma utopia: o mundo será outro após a secessão. Comove adeptos pela simplificação do diagnóstico: os problemas – existentes em qualquer lugar e tempo histórico – teriam uma única causa. E a solução viria como mágica após uma independência enaltecida.
Não me refiro às manifestações legítimas de povos que se rebelam por serem colonizados ou subjugados, ou por uniões e anexações artificiais, como o Império Austro-Húngaro, o Leste Europeu na Guerra Fria ou a antiga Iugoslávia. A novidade dos atuais separatismos é partirem das partes ricas de seus países, como é o caso da Catalunha. Mas também da Lombardia e Vêneto (da Itália), Antuérpia (Bélgica) e até Califórnia (EUA). São regiões de países democráticos, que já gozam de autonomia e forjam o imaginário de serem exploradas pelo "resto do país", que as sugaria com a transferência de impostos. No caso da Catalunha, faziam sentido os protestos na era franquista, quando se proibiram a língua e a cultura catalãs, bem como a autonomia política local.
Hoje há ampla liberdade, tal como em qualquer federação democrática. Sentir-se subjugada e recorrer à história para justificar é de difícil sustentação: a Espanha resulta de união de reinos (Castela, Leão, Aragão, Galiza, Navarra) cuja unidade ganhou impulso para enfrentar um inimigo comum: os mouros, que dominaram a península Ibérica por mais de cinco séculos. A Catalunha era um pequeno condado cristão que poderia ser mouro ou francês, pois a vassalagem era reivindicada pelos reis da França.
A contradição dos separatistas é não reconhecerem por que enriqueceram. A riqueza caiu do céu
A contradição dos separatistas é não reconhecerem que enriqueceram justamente por gozar das externalidades positivas de pertencerem a um todo que lhes assegurou mercado consumidor e matérias-primas para expandirem suas indústrias, segurança militar e institucional, transportes e infraestrutura. Seriam ricas e exploradas. A riqueza caiu do céu