Milhares de separatistas participaram de uma manifestação neste sábado (19) em meio a um ambiente tenso em Barcelona. A capital da Catalunha, região situada no nordeste da Espanha, vem sendo palco de violentos distúrbios desde que o Tribunal Supremo espanhol condenou, na segunda-feira passada (14), nove líderes políticos catalães a penas de até 13 anos de prisão por seu papel na elaboração de um referendo unilateral de independência, em outubro de 2017.
Na mesma região no centro da cidade turística espanhola onde ocorreram confrontos na noite de sexta-feira, os manifestantes se reuniam convocados por partidos independentistas e outros grupos que apoiam o movimento.
Repudiando a condenação de seus líderes, mas também a "repressão" das forças de segurança, alguns manifestantes gritavam "somos pessoas de paz" e "fora forças de ocupação", em referência à polícia, que acompanha a ação com um grande número de efetivos e veículos.
- Para mim, não é violência (confrontos com a polícia), é legítima defesa, eu vou às ruas todos os dias desde a segunda-feira - disse um jovem de 20 anos à AFP, que se definiu como antifascista e não quis se identificar.
Após cinco dias de protestos, com quase 600 feridos, a região teme que sejam desencadeados atos de violência como os que ocorreram desde terça-feira à noite, com cenas de guerrilha urbana e confrontos duros entre manifestantes radicais e agentes de segurança.
- Faço um apelo para que essa manifestação seja conduzida de maneira cívica e pacífica - disse o chefe regional do Interior, o separatista Miquel Buch.
A menos de um mês das eleições para o parlamento da Espanha, que ocorrerá em 10 de novembro, esta onda de protestos coloca em situação delicada o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez que, entre críticas de falta de ação lançadas pela oposição, enviou à Catalunha o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska.
Cinco dias de protestos
Nascida da frustração de parte da base independentista, dois anos depois da tentativa de secessão da Catalunha, a violência representa um ponto de inflexão para o movimento separatista que celebrava sua natureza pacífica.
Os distúrbios começaram na segunda-feira, quando o Tribunal Supremo condenou nove líderes independentistas a penas de até 13 anos de prisão por seu papel na tentativa frustrada de secessão.
No mesmo dia foram registrados incidentes no aeroporto del Prat, parcialmente bloqueado por manifestantes, e nas noites seguintes os distúrbios aconteceram no centro de Barcelona.
Na sexta-feira, após um dia pacífico de greve geral e de uma grande passeata em Barcelona, com 525 mil manifestantes segundo a polícia municipal, a violência atingiu o ponto máximo durante a noite.
- Isto não pode continuar assim. Barcelona não merece - afirmou neste sábado a prefeita da cidade, Ada Colau, partidária da celebração de um referendo pactado com o governo central sobre a independência na região.
Durante horas, milhares de manifestantes cercaram um cordão policial impotente que protegia o acesso à delegacia central da Polícia Nacional. Centenas deles construíram barricadas em chamas e jogaram paralelepípedos, objetos de metal e fogos de artifício na direção dos policiais. Os agentes responderam com gás lacrimogêneo.
Na manhã de sábado, entre jornalistas e moradores, funcionários do serviço de limpeza tentavam retirar os escombros deixados pela confusão de sexta-feira. No chão era possível observar pedaços de vidro, pedras e latas, além dos projéteis utilizados pela polícia. Pontos de ônibus quebrados, semáforos e lojas danificadas completavam a paisagem.
Depois de 10 anos avanço da campanha independentista, a região de 7,5 milhões de habitantes permanece dividida sobre a questão.