Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
É comum se ouvir que o futuro será da "sociedade de serviços", pois o emprego e a produção dependerão cada vez menos dos setores primários, como agricultura e pecuária, e das manufaturas. Isso é verdade, mas a frase deve ser interpretada com cautela. Pode sugerir que a indústria agora é irrelevante e que seria "normal" sua perda de participação no PIB brasileiro nas últimas quatro décadas – de 30% para 11% – queda sem precedentes em nível internacional.
A marca do setor serviços é a heterogeneidade: banqueiros, prostitutas, deputados, narcotraficantes e professores – todos prestam "serviços". Seu crescimento se dá por vários motivos, até devido segmentos da produção industrial terceirizados passarem a ser contabilizados como serviço.
No Brasil, parte da mão de obra liberada no processo de desindustrialização foi para a informalidade, que hoje atinge o recorde 41,4% da população empregada, ou 40 milhões de pessoas. O fato explica a baixa produtividade média da economia. Esta cai quando um técnico especializado migra para atividade aquém de seu potencial. Por isso uma hierarquia é necessária, como classificar os serviços pelo grau de complexidade e uso de conhecimento. Este elucida do que estamos falando. Nos países desenvolvidos, a "sociedade de serviços" é intensiva em pesquisa – como tecnologia da informação e da comunicação, internet das coisas, biologia sintética, sistemas ciber-físicos e manufaturas aditivas. O que é serviço e o que é indústria torna-se difuso, pois as atividades interagem e a consequência é um salto sem paralelo na produtividade e em ganhos de escala (maior produção com menor custo). O Brasil se atrasa e tem produtividade estagnada porque não consegue avançar nos setores intensivos em conhecimento.
Por isso, mascara-se o problema ao se admitir que a desindustrialização brasileira segue o padrão internacional. Na contramão, cada vez mais nos afastamos dos países líderes. A separação entre setores primário, secundário e terciário já não dá conta das transformações, pois o que interessa é o que e como se está produzindo em cada um deles. A única certeza é que o domínio do conhecimento é o fundamento da nova hierarquia social e do mundo da produção. E ainda há quem pense que educação, pesquisa, ciência e tecnologia são coisas secundárias.