Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
É difícil sintetizar a economia brasileira em 2019: com avanços e recuos, nada emociona ou surpreende. Frustrações permanecem. A mais preocupante é o baixo crescimento. O ano começou com previsão de 2% a 2,5% para o PIB e finda com metade disso (1,2%). Propalou-se que, afastadas a heterodoxia de Dilma e a fragilidade de Temer e seus ministros denunciados por improbidade, os investimentos seriam retomados. Não foram, nem mesmo com a flexibilização das leis trabalhistas e com teto para os gastos. O novo governo teve o bônus do primeiro ano e da simpatia do empresariado com a área econômica. Mas o PIB, no terceiro semestre, que já poderia mostrar resultados, cresceu apenas 0,6%. E há 13,4 milhões de pessoas que entram em 2020 desempregadas. O setor exportador foi e será prejudicado por repetir-se o equívoco dos governos anteriores: a ideologização. Só que mais radical e errática, com picuinhas desnecessárias com China, árabes, Argentina e europeus – nossos principais parceiros. Como num dia propor moeda única para o Mercosul e no outro romper com ele? E fechar acordo com a União Europeia – uma conquista – e logo após ofender seus principais líderes? Política externa requer equilíbrio e conservação, não comporta vai e vem. Felizmente há setores no governo que trabalharam para reverter prejuízos – mas os desgastes não são deletados.
O maior ponto positivo de 2019 é a queda da taxa de juros. Sempre defendi no Em Dia que havia folga para isso, e menos como indução ao crescimento e mais por seu impacto no déficit público. Cada ponto percentual a menos representa bilhões de abatimento no déficit, medida bem mais social do que cortar empregos e salários. Juros altos dificultam o consumo e os investimentos, arrefecem o crescimento, mas daí não se segue que juros baixos os estimulem sem que haja interveniência de outras variáveis, como confiança com relação ao futuro e demanda. A equipe econômica vem aprendendo que belas palavras não asseguram resultados. Mantém o discurso austero ao gosto da plateia, mas, sem alardes, lança medidas próximas ao pragmatismo keynesiano de estímulo à demanda. Expectativas melhoram com os juros mais baixos e teto no cheque especial, oferta de crédito pela Caixa, regras mais frouxas para liberar FGTS, uso de parte dos leilões do Pré-Sal para estimular gastos e 13º para o Bolsa-Família.
Tudo isso é heresia na “Escola de Chicago” de Paulo Guedes. Mas há algo chamado sobrevivência, regra de ouro para os políticos. A ortodoxia econômica é eficaz para pôr contas em dia, mas péssima conselheira em eleições. Macri não perdeu por deixar as reformas incompletas – como se ouve – mas pelas que fez, sem compensar os perdedores. E quase reverteu a derrota nos últimos dias, quando admitiu que havia uma Argentina à margem das “conquistas”. Em novembro, o real desvalorizou-se 5,25% frente ao dólar e o peso argentino apenas 0,43%. Aqui se aprovou a reforma previdenciária, lá a volta do peronismo. O mercado surpreende e, às vezes, quer apenas... mercado.