Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
Quanto mais leio e viajo, mais me dou conta do nosso atraso em relação ao que acontece em alguns países. Enquanto cuidam do futuro, estamos presos ao passado, à agenda de sempre. Enquanto discutem inteligência artificial, big data, preparo dos jovens para as novas profissões, aprimoramento das liberdades individuais, aqui, além de parados no tempo, agora vivemos a ameaça do retrocesso.
Por falta de soluções adequadas e duradouras, há mais de 30 anos a pauta é a mesma. Violência, estruturas precárias nas escolas, baixa qualidade das estradas, mortes no trânsito, falta de policiamento, assaltos a bancos, superlotação de presídios, corrupção disseminada, baixa remuneração dos professores, falta de leitos nos hospitais. Nossa agenda ainda é de sobrevivência, o que tantos países já superaram.
Desencantados, questionamos se a democracia é o melhor dos regimes. Só 56% dos brasileiros acham que é a melhor opção. A desigualdade social saiu do nosso radar. A confiança interpessoal no Brasil é de apenas 4%. Somos a sociedade da desconfiança! E muitos estão dispostos a ter menos liberdades individuais em troca de um governo forte, seja lá o que isso queira dizer.
Uma rápida consulta ao que mobiliza as pessoas lá fora já mostra a grande diferença: como diminuir o uso de carros e entregar mais as cidades para pedestres e ciclistas, reciclagem de águas nas cidades, edifícios verdes, diversidade étnica, erradicação da pobreza, promoção da igualdade de gênero, alimentação do futuro, atenção às mudanças climáticas, robótica, futuro do trabalho, aprimoramento da educação, como reter, atrair e desenvolver talentos, criação de zonas de oportunidades de negócios, estímulos à colaboração, governos que procuram empresas para saber como podem ajudá-las a crescer e gerar mais empregos, universidades que estimulam alunos a desenhar um futuro de mais bem-estar, como criar mentalidade empreendedora, atração de fundos globais para desenvolver sociedades, microsensores para medir tudo, como diminuir a obesidade. Para citar apenas alguns temas!
Onde está a nossa agenda de futuro? Por que resistimos tanto a inovar, mudar estruturas ultrapassadas, autoritárias, pesadas e caras? Por que somos tão conservadores? Quem está pensando no país e não só no seu bolso? O assunto pede um bom debate. Aguardo contribuições.