Preocupa, num país em crise e às vésperas de mudança de comando em âmbito federal e estadual, o agravamento da situação que o reajuste nos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) deve provocar. Sancionado pelo presidente da República, o aumento de 16,38% no valor, elevando para R$ 39,2 mil o teto salarial no setor público, provocará um efeito cascata bilionário sobre as finanças de todas as instâncias da federação. O impacto está longe de ser atenuado pela alegada contrapartida da suspensão do pagamento de auxílio-moradia para a magistratura. E é particularmente inquietante para um Estado como o Rio Grande do Sul que, nos cálculos do Tesouro Nacional, já destina nada menos de 69,14% de suas receitas para salários e aposentadorias de servidores.
Outro levantamento, divulgado agora pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), inclui o Rio Grande do Sul entre os Estados com maiores aumentos de gastos com funcionários ativos e inativos no período de 12 meses até agosto de 2018, em comparação com o período anterior. A distorção deve se constituir num dos principais desafios para o futuro governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), a partir de janeiro. Fica evidente que a despesa segue aumentando por inércia, mesmo com todas as medidas de contenção que vêm sendo tomadas.
Em qualquer instância da federação, todo gasto adicional vai desembocar em uma necessidade de cortes ainda mais profundos num futuro imediato. Além de ser impactado por decisões em âmbito federal, o Rio Grande do Sul ainda corre o risco de ter a situação de suas finanças abalada por uma verdadeira pauta-bomba que está para ser decidida pela Assembleia, prevendo reajustes para categorias de maiores ganhos. O novo governo gaúcho terá de perseguir atitudes muito mais severas e inéditas sobre as despesas com pessoal se quiser recolocar o Estado na direção do desenvolvimento.
Algumas áreas do setor público não estão querendo enxergar a realidade: a saturação do eleitorado com a penúria dos cofres públicos, em contraste com categorias de servidores com remuneração incompatível com a situação financeira do país. Não há qualquer sentido no fato de a União ou um Estado como o Rio Grande do Sul existirem praticamente apenas para bancar a folha do funcionalismo. Os contribuintes querem servidores remunerados adequadamente, mas também a regularização na prestação de serviços, de maneira geral, cada vez mais escassos e com padrões de qualidade em acelerado processo de deterioração.