São compreensíveis e devem ser levadas em conta pela sociedade gaúcha as razões do governador eleito, Eduardo Leite (PSDB), para retardar o anúncio dos integrantes de seu primeiro escalão. O futuro governador, hoje no Exterior para um curso de formação, prefere aguardar pela definição da Assembleia em relação ao projeto que prorroga a validade das atuais alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por dois anos. A preocupação, no caso, seria a de evitar que a formação de sua equipe de trabalho acabe associada a uma votação considerada decisiva para a nova administração, a partir de 1º de janeiro.
Não é a primeira vez que a transição entre governos num Estado avesso à continuidade começa com um período de tempo tão curto pela frente. O aspecto preocupante é que, numa unidade da federação às voltas com uma situação atípica, falte compreensão por parte do Legislativo sobre o significado desse processo. A forma como as conversações irão ocorrer pode ser decisiva para evitar descontinuidade e algum tipo de ruído na passagem de uma para outra administração, o que sempre acaba impondo prejuízos para os contribuintes.
Diferentemente de outras trocas de governo, a atual coincide com uma crise financeira no setor público de proporções até agora inéditas. A nova gestão, portanto, deverá assumir tendo que administrar um déficit sem precedentes nas contas oficiais. Nesse cenário, faz todo o sentido que o futuro governador tenha se preocupado em definir e anunciar logo quem será seu secretário da Fazenda – no caso, o funcionário de carreira do BNDES Marco Aurélio Santos Cardoso. A sociedade gaúcha, porém, tem curiosidade de saber quem comandará a pasta da Educação, por exemplo. Essa é uma das áreas para as quais o futuro governo acena com mudanças significativas. Precisa, portanto, contar com alguém que, além de bom gestor, se destaque pela capacidade de negociação.
Preocupa que a troca de informações entre as equipes do atual governo estadual e as do próximo, a pouco mais de um mês da posse, ainda não inclua os responsáveis pelas respectivas pastas. Esse é um processo que envolve menos os governantes e seu primeiro escalão, e mais os técnicos de cada área. Ainda assim, demanda um tempo maior para que essa etapa alcance os resultados esperados.
O Legislativo gaúcho precisa ter consciência da importância de seu papel para assegurar uma troca de bastão o mais eficaz possível entre o atual e o próximo governo. O futuro ocupante do Palácio Piratini tem que agir rápido para conseguir colocar seu projeto em prática, sem se fixar apenas na gestão do caixa do setor público.