O número de assassinatos continua elevado demais em todo o Estado e os gaúchos seguem às voltas com uma rotina assustadora de chacinas, tiroteios e mortes. Ainda assim, o simples fato de o total de vítimas fatais da violência ter diminuído de janeiro a outubro nas 10 maiores cidades da Grande Porto Alegre, incluindo a Capital, significa um alento para a população, que hoje não se sente protegida nem dentro de casa. Depois do descontrole, há sinais de que as forças de segurança pública, finalmente, encontraram uma brecha para conter a expansão da criminalidade.
Balanços de curto prazo e avanços localizados não podem ser vistos como tendências, nem se prestar para comemorações antecipadas. A cautela vale particularmente no caso do crime organizado, que tem por estratégia justamente o desafio constante à capacidade de resposta por parte das forças de segurança pública. E as polícias, como sabem a sociedade e, particularmente, os criminosos, têm sua atuação limitada pela falta de recursos humanos e financeiros, agravada pela intensificação da crise do setor público.
Até por isso, é necessário, agora, que as alternativas bem sucedidas possam ser replicadas em outras grandes cidades, nas quais os assassinatos continuam em tendência de alta. Entre os casos críticos, estão cidades serranas como Caxias do Sul e Bento Gonçalves, além de Rio Grande, na Região Sul. Preocupa também a situação de pequenos municípios desprotegidos do Interior para os quais o crime organizado vem dando sinais claros de estar migrando.
A missão das autoridades é facilitada pelo fato de a fórmula bem sucedida em municípios populosos da Região Metropolitana ser simples e óbvia. As prioridades incluem prisão de assassinos, intensificação do policiamento ostensivo pela Brigada Militar e combate ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro, com o sequestro de bens das facções. Fica evidente que o isolamento dos líderes do crime, reduzindo as disputas por território do tráfico, foi decisivo. E a esse esforço se somam ações da própria sociedade, como a liderada pelo Instituto Cultural Floresta, que articula doações de equipamentos para as polícias.
Os resultados promissores registrados pela Secretaria da Segurança Pública em alguns municípios, na comparação com o período anterior, tornam evidente que o simples enfraquecimento do tráfico, deixando-o sem recursos e sem mão de obra, já significa um ganho importante para a população. A sociedade não quer soluções mágicas, mas sim que o poder público cumpra com o seu dever de deixá-la viver em paz e com segurança.